NAS MÃOS DE DEUS
CAPÍTULO
SETE
Clara
tinha muito medo da cirurgia de Valentina, porque o médico dissera que toda
cirurgia, sempre, envolve riscos de vida. E, aquela filha já lhe trouxera
muitas preocupações, então, suas noites tornaram-se povoadas de pesadelos; aquele
pensamento sobre morte, a deixava inquieta.
Desde
que o médico autorizou os exames pré-operatórios, que ela não dormia direito;
parecia que vivia com uma sombra assustando seus dias e deixando a ansiedade
tomar conta dela. Seu coração de mãe estava apertado, acelerado e nada
conseguia acalmá-lo.
Ela intensificara suas idas à
Igreja e consequentemente suas orações, precisava se agarrar com Deus.
Valentina não se importava com a cirurgia, não demonstrava nenhuma preocupação.
Não dava importância à sua vida ou não entendia direito do que se tratava.
Com
certeza, pensava ser apenas um passe de mágica, sem levar em conta o sofrimento
e as privações a que seria submetida posteriormente. Clara estava ciente de
tudo isso, no entanto, para Valentina era a única saída para se livrar do
complexo de inferioridade e dar a ela a oportunidade de se sentir igual aos
irmãos, isto é, magra e esbelta.
Ultimamente havia engordado mais
ainda, seus tornozelos viviam inchados de carregar tanto peso. Chegara a pesar
cento e quarenta quilos; seu corpo pesado lhe valia cansaço e falta de ar. Chegara
ao seu limite; só o bisturi para dar jeito na situação, dissera o médico
desanimado. Todos sabiam disso, a moça estava cada dia mais gorda. Valentina
estava serena, iria para a forca sem pensar no cadafalso, pensava sua mãe
quando olhava a filha obesa.
E, finalmente o dia da cirurgia
chegou para desespero de Clara, que acompanhou a filha até o Hospital.
Valentina mostrava-se tranquila, parecia não se importar com a situação. E,
quando vieram busca-la para o centro cirúrgico, a mãe ficou rezando para que
sua cirurgia corresse bem.
Foi uma manhã inteira de aflições e
medos para aquela pobre mãe; embora Rui, o marido, estivesse ali, ele era impotente e só
servia para dar o ombro para Clara chorar. Ela não saberia dizer quantas vezes
pediu aos Santos e a Deus pela filha. O casal estava exausto, quando a porta se
abriu e chegou a notícia de que a cirurgia havia acabado e a paciente estava na
sala de recuperação.
Os dois se abraçaram, agora começava
uma nova etapa na vida da família, talvez a mais difícil de todas; conter a
fome de Valentina. Sem dúvida, agora todos, estavam nas mãos de Deus. Pensou a
mãe consolada pela notícia alvissareira. Valentina sobrevivera à cirurgia
bariátrica...
Um texto de Eva Ibrahim. Continua na
próxima semana.