ABRA OS OLHOS, POR FAVOR
CAPÍTULO TRÊS
A
esposa, desesperada, ficou sentada na sala de espera da UTI. Não havia nada que
pudesse fazer para mudar a situação, que vivia ali no hospital. Era leiga em
assuntos médicos, nunca passara por momentos tão difíceis. Estava sozinha e o
medo do desconhecido a deixava fragilizada.
Avisara
o Celso, seu irmão, que morava na cidade vizinha sobre o acidente de Fernando. E agora, aguardava
ansiosamente sua presença. Ele era um homem e saberia lidar com tantos
problemas, diferente dela, que vivia na sombra de Fernando.
Pela pressa e correria observadas, ela sentia
que o estado de saúde de Fernando era grave. No entanto, não queria alarmar o
filho, nem os empregados da pizzaria. Precisavam de dinheiro mais do que
antes, o trabalho deveria seguir adiante.
A todo momento buscava ajuda dos
céus, agora era entre ela e Deus. Ele estava solidário, ela sabia disso, pois
mandara Eloisa para estar ao seu lado. Este pensamento lhe trazia algum alento.
A boa enfermeira deixara o plantão lhe desejando sorte, voltaria no dia
seguinte.
Depois
de duas horas, apareceu a maca com o paciente cheio de fios e bombas de
medicação. Junto da maca vinham médicos e enfermeiras paramentados, que seguiam
rapidamente. Marilia levantou-se, mas foi contida por mãos que indicavam para
ela se afastar. Ficou encostada na parede sem ação, apenas com vontade de
chorar.
A
mulher continuou a rezar, precisava de toda a ajuda possível. Não tinha sede ou
fome, apenas sentia calafrios percorrendo seu corpo. Então, o seu irmão chegou para
ajudá-la naquele momento difícil. Soluçando, ela conseguiu contar a ele os
últimos acontecimentos com Fernando. Depois, os dois sentaram-se nas cadeiras, para
aguardar notícias do paciente.
Mais
uma hora passada lentamente, sem que Marília ouvisse nenhuma palavra sobre os
acontecimentos, que envolveram seu esposo. Ali parecia que o tempo não tinha
nenhuma importância; um silêncio aterrador tomava conta do ambiente. De vez em
quando, passava um médico ou uma enfermeira, que logo desapareciam naqueles
longos corredores. Em dado momento
surgiu um senhor, ele estava aflito e disse, olhando para Marília:
- Minha mulher está aí dentro, teve um derrame e não me conhece mais.
Depois, sentou-se perto de Marília e com lágrimas nos olhos continuou.
- Daqui a pouco começa a hora de
visita e, eu venho vê-la todos os dias. Sinto falta dela.
Marília
sentiu pena daquele homem e se viu na mesma situação. Não sabia o que iria
acontecer com Fernando.
Chegaram outras pessoas, todas tinham parentes ali, aguardavam para
visita-los. Um guarda se postou em frente a porta de vidro, que dava acesso a
UTI e logo formaram fila. Em seguida, foi entrando um de cada vez. Quando
chegou a vez de Marília, o guarda disse que ela teria apenas quinze minutos
para ver o marido. Celso ficou de lado, não poderia entrar, então esperaria por
sua irmã.
A
mulher, aflita, entrou cambaleando, seu coração estava batendo na boca; era
muita emoção mesclada de medos. Chorou ao ver a situação em que seu marido se
encontrava. Ficou paralisada ao lado da cama, apenas observando o seu amor.
Fernando
tinha um cateter que saia da cabeça enfaixada, um tubo na boca, ligado a um
aparelho que respirava por ele. No braço tinha uma punção venosa, que recebia
soro de uma bomba. Tinha, também, um cateter no pescoço que recebia líquido de
outra bomba. Um colar cervical para manter a cabeça imóvel e erguida a trinta
graus da base da cama. E, muitos fios colados ao peito, que eram ligados a um
monitor cardíaco automático, que verificava os sinais vitais a cada dez
minutos. Ela ficou estática, tinha medo de chegar perto e danificar aquela
parafernália.
O paciente parecia morto, apenas o barulho cadenciado do respirador quebrava o silêncio daquele
box. Ao lado, no outro box, havia uma moça chorando baixinho. Marília espiou e
viu uma senhora em situação idêntica ao estado de Fernando. Em frente, tinha um
jovem cheio de ataduras e uma mulher chorosa ao seu lado, provavelmente, sua
mãe. Eram pacientes graves que estavam lutando pela vida, ela entendeu isso.
Então, Marília inclinou sua cabeça
perto do ouvido do marido e sussurrou com voz firme:
-
Abra os olhos, por favor.
No entanto, não obteve resposta, Fernando
permaneceu inerte. E, ela teve que sair, acabara a hora de visitas na UTI. Marília seguiu amparada pelo irmão, temia pelo dia de amanhã.
Em cada box havia um drama terrível e ali eram dez ao todo, Eloisa lhe contou, no dia seguinte.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa