CORDEIRO
DE DEUS
CAPÍTULO
DOIS
Uma tarde de muito calor e um céu
azul prometia uma noite abençoada, para a apresentação em Nova Jerusalém. Andreia
e Samuel estavam no local, para presenciar o maior espetáculo da fé cristã, no Brasil.
Sentiam-se muito ansiosos naquele espaço, considerado o maior teatro ao ar
livre do mundo, no qual seria encenada a Paixão de Cristo.
Havia uma multidão de pessoas e muitas
cadeiras de rodas, que buscavam um pouco de esperança, quiçá a cura pela fé no
salvador. Via-se muitas crianças e idosos também, alguns doentes e com idades
avançadas. Estes não aguentavam e deixavam o ambiente antes do término do
espetáculo. Nesses casos, o cansaço era visível e as crianças também saiam mais
cedo, por impaciência. São mais de três horas de caminhadas e paradas. É
necessário ter resistência física para acompanhar a multidão e aguentar tantas
emoções.
Do lado de dentro dos muros da
cidade planejada, existem nove palcos plateias, que reproduzem cenários
naturais, palácios, além do templo de Jerusalém, formando obras monumentais.
Estas foram projetadas por vários arquitetos e cenógrafos nordestinos, além de
seguir a visão de seu fundador.
Dentro desse espaço gigante existe a
pousada da Paixão, que funciona durante todo o ano. E, durante a temporada da
semana santa oferece pacotes especiais, nos quais os hóspedes podem participar
como figurantes. É nesse hotel que ficam hospedados o elenco e os técnicos, que
trabalham no espetáculo.
Quando o casal soube disso,
deixou o hotel em Caruaru. Os dois, Samuel e Andreia se fixaram no recinto do
grande teatro. Queriam participar integralmente daquela história emocionante.
Se inscreveram e receberam as roupas típicas para serem figurantes, durante
toda a semana santa.
Finalmente, eles estavam prestes
a presenciar e vivenciar a história de Jesus. O ambiente foi tomado pela
sonoplastia, com músicas sacras e fúnebres, anunciando o início dos trabalhos.
Então, tudo começou com o Sermão da Montanha, em meio a um silêncio respeitoso
da multidão.
. Mais de quinhentos participantes com
trajes típicos, dão veracidade a apresentação. Com certeza, é uma noite com uma
conotação pesada, de um acontecimento triste que se aproxima. Chega a dar
calafrios, em meio ao calor que impera dentro do cenário. Sente-se a presença
de um espírito maior, como se toda aquela gente estivesse vivendo a história,
em sua originalidade; impossível não se emocionar.
Andreia e Samuel, vestidos como
no tempo de Jesus, estavam extasiados e sentiam a força daquele drama. Seguiam
as apresentações embebidos da mais pura fé, gritavam e protestavam,
acompanhando a multidão.
Logo no início, Jesus aparece
furioso no Templo e expulsa os cambistas. Em seguida, vem a última ceia e a
prisão no Monte das Oliveiras. Prosseguindo, Herodes, o rei da Judeia, entra em
cena e a multidão se manifesta diante de um palácio luxuoso e danças exóticas.
Era a vida que os reis levavam dentro dos palácios, naquela época.
Prende também a atenção, a entrada
de Pilatos em uma Biga. Coloca-se no palco do teatro e diante da pressão
popular para soltar Jesus, ele se acovarda e pede uma bacia com água. Em
seguida, lava suas mãos, se isentando de qualquer culpa. Em um ato simbólico,
Jesus é condenado à morte diante da comoção do público.
Uma condenação pesada e triste
para um inocente. A morte dolorosa com uma crucificação na cruz, entre dois
ladrões. Além da sentença, ele deveria carregar a própria cruz até o Monte
Calvário. Esse caminho é formado por quatorze estações, que representam
determinadas cenas da Paixão. Cada estação corresponde a um acontecimento
especial, durante a caminhada da “Via Crucis”, que vivenciada novamente, se
torna Via Sacra.
Estava selada a sentença para
Jesus de Nazaré e diante de muita emoção, Andreia e Samuel sentiram escorrer
lágrimas dos olhos, embargando suas vozes. Houve uma comoção geral e muitos
lamentos entre os participantes.
Era apenas uma representação de um
acontecimento milenar, que ainda provoca muita emoção em todos os presentes. Impossível
controlar os sentimentos de revolta, por uma injustiça visível. O Cordeiro de
Deus iria para o sacrifício no Gólgota, que quer dizer, lugar da caveira ou
Monte Calvário.
Um calafrio percorreu o corpo de
Andreia, que se apoiou em Samuel, a parte mais difícil estava por vir. Teriam
que buscar forças para prosseguir até o final e acompanhar o sofrimento do Cordeiro
de Deus.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa
Com
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