O
SENTIDO DA VIDA
CAPÍTULO SEIS
A menina foi conduzida para dentro da sala de emergência e o
enfermeiro fechou a porta na cara de Agenor, o pai de Letícia, que deu um passo
para trás. Em seguida apareceu uma enfermeira, já cinquentona e com voz grossa lhe
ordenou:
- Aguarde lá fora, por favor. Depois entrou na sala onde estava
Letícia.
O homem foi saindo, não ousaria desobedecer tão incisiva ordem.
Vinte longos minutos se passaram e a enfermeira apareceu para lhe
dar notícias da filha. A mulher foi logo dizendo:
Parabéns, o senhor vai ser avô, o bebê já está a caminho; sua
filha está sendo levada para a sala de parto.
Agenor ficou extático; perdeu a voz e ficou pálido.
-Não, eles estavam
enganados, a filha dele estava com cólicas de rim, ele queria argumentar,
porém, sua voz não saia.
Quando a enfermeira ia entrar, ele conseguiu soltar um som que
mais parecia um grunhido.
-Espere, não pode ser Letícia, ela não está grávida.
A moça que o senhor trouxe, está grávida e daqui a pouco o bebê
estará em seus braços; é só aguardar um pouco mais.
A mulher, com ar vitorioso, entrou balançando as gorduras do traseiro
volumoso.
Agenor perdeu o chão, não
conseguia entender, aquilo não poderia ser verdade. Sua mulher não iria
esconder aquele fato dele. E a vergonha que ele teria que enfrentar; o que
diria aos parentes e amigos? Ele não merecia passar por aquela situação,
pensava rápido como se fosse um filme passando por sua cabeça.
Subiu no veículo e voltou para sua casa, iria tirar satisfação com
sua mulher. O homem dirigia loucamente. Mataria o pai da criança, assim que
descobrisse quem era o cafajeste que fizera mal à sua filha. Sua vida estava
destruída; ele não aguentaria tamanha vergonha. Estas ideias martelavam em sua
cabeça.
Chegou cantando pneu e Dora já estava na porta para saber notícias
da filha.
Agenor estava irado, mãe e filha o enganaram; entrou gritando e
empurrando sua mulher.
- Que espécie de brincadeira era aquela?
- Letícia estava grávida e ninguém lhe contou?
-Quem era o pai da criança?
Dora começou a chorar. As crianças acordaram e todos foram para a sala.
Boquiabertos e sem entender nada, as crianças ficaram ouvindo o pai gritar com
a mãe.
- A mulher, desesperada, dizia que estava desconfiada, porém, a
menina sempre negava e como não tinha namorado, ela achava que estava enganada.
As crianças menores começaram a chorar, nunca tinham visto o pai
tão alterado. Agenor dizia que Letícia estava morta para ele e que não a queria
mais ali. Então, ele percebeu que estava aterrorizando os filhos e por um
momento voltou à razão.
Agenor não era mau, apenas estava nervoso; queria fugir dali e se
esconder. Em seguida, deixou a sala, teria que esfriar a cabeça.
Saiu cantando pneus e Dora sentou-se no sofá, estava pálida, sem
ação. A filha mais velha disse que iria chamar a tia Nice para ajudar sua mãe
naquele momento de desespero. O relógio da sala marcava uma hora da manhã.
Nice era irmã de Dora e madrinha de Letícia; uma balzaquiana
solteirona que vivia com os pais idosos. Depois de meia hora a moça chegou
esbaforida, viera correndo na escuridão da noite. Não encontrara ninguém, dissera
ao entrar na casa da irmã.
Sentou-se ao lado de Dora, que lhe contou o drama que havia
desabado sobre ela. A moça arregalou os olhos e depois sorriu; a irmã já era
avó, teria que ficar feliz. Os fatos verdadeiros veriam depois, agora iriam
conhecer o bebê.
Dora foi arrastada pela irmã Nice, que ria ao pensar que já era
tia avó. Seguiam pela noite adentro em uma caminhada de cerca de três
quilômetros. Com a brisa fria da madrugada a tensão sofrida parecia diminuir. A
caminhada fez bem à Dora, até conseguiu sorrir ao pensar no bebezinho de
Letícia.
Depois fechou a cara:
-Como sua filha conseguira esconder a gravidez? Deve ter sofrido
muito; pobre menina; lamentou a mulher chorosa. Entretanto, logo foi envolvida
pelos braços de sua irmã, que mais parecia um anjo caído do céu.
Chegaram ao Hospital e conseguiram permissão para dar uma olhada
em Letícia, pois, esta era menor de idade.
Quando adentraram ao quarto viram a menina dando o peito para o
filho pequeno. Era um lindo menino de dois quilos e oitocentos gramas. Um texto
de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.