A ARMADURA
ATRÁS
DAS GRADES CAPÍTULO UM
O Diretor da Penitenciária mandou chamar o detento, que estava sentado no pátio tomando Sol. Precisava lhe dar uma notícia boa, mas ele temia que o detento não pensasse da mesma maneira. Era um preso jovem, quando chegou tinha somente vinte e cinco anos; introspectivo, mal humorado e briguento. Depois de sete anos de rebeldia, ele teve uma melhora de comportamento no último ano, por isso seu advogado pediu que lhe fosse concedida a liberdade condicional.
O Diretor da Penitenciária mandou chamar o detento, que estava sentado no pátio tomando Sol. Precisava lhe dar uma notícia boa, mas ele temia que o detento não pensasse da mesma maneira. Era um preso jovem, quando chegou tinha somente vinte e cinco anos; introspectivo, mal humorado e briguento. Depois de sete anos de rebeldia, ele teve uma melhora de comportamento no último ano, por isso seu advogado pediu que lhe fosse concedida a liberdade condicional.
Alcir teria sua liberdade provisória
depois de oito anos de prisão, dos quais muitos dias e noites passados na
solitária. Quando chegou ali parecia alucinado, agressivo, exaltado e dando
pouca importância ao futuro. Alguns dias depois, tentou se suicidar fazendo
cordas de lençol para se enforcar, mas foi impedido pelo colega de cela.
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Chegara do inferno e nada mais importava em sua vida, que valia menos que um
toco de cigarro, confidenciou ao colega de cela. Depois se fechou, não comia,
não falava e não queria conversa com ninguém, nem mesmo com seus pais.
A mãe insistia em vê-lo, porém, ele não
queria ver ninguém, estava morto por dentro; desistira de viver. A mulher não
se dava por vencida e sempre levava cigarros para seu filho. Ficava sentada no
pátio até acabar o horário de visitas à espera de seu menino; depois entregava
o pacote ao carcereiro. Alcir não saia da cela, entretanto, aceitava os
cigarros deixados por sua mãe.
O rapaz emagrecera vinte quilos no
primeiro ano que passou na penitenciara. Ficou um mês na enfermaria da
instituição, tomando medicamentos para se recuperar da fraqueza que fora
acometido. Sua família fora chamada, temiam pela sua vida; então, ele passou a
aceitar a presença de sua mãe nos dias de visitas. A mãe amava o filho
incondicionalmente, nunca questionava sua conduta e assim foi ganhando sua
confiança.
Quando melhorou e pode voltar à sua
cela, ele pediu a ela um rádio para ouvir músicas. O aparelho se tornou seu
melhor companheiro; Alcir passava horas ouvindo músicas sertanejas, seu colega
de cela também gostava do rádio e durante o dia, os dois ouviam rádio juntos. À
noite, Alcir passava a maior parte do tempo com o radio na mão e o
fone no ouvido.
Quando saia para tomar Sol, ele acabava
se envolvendo em brigas e por causa disso passou dias na enfermaria
curando suas lesões, que se tornaram cicatrizes no corpo e na alma. Outras
vezes ia parar na solitária, pois, não queria trabalhar e vivia desacatando os
funcionários do local; era tido como um caso perdido.
Ele passava as horas deitado no colchão,
que ficava no fundo de sua cela; um corpo imóvel jogado na vida. Na cadeia não
há o que fazer e o tempo demora a passar, por isso, depois de dois longos anos, ele concordou em trabalhar
para ganhar algum dinheiro e dar para sua mãe comprar livros, revistas,
cigarros, chocolates entre outras coisas. Precisava de uma ocupação ou enlouqueceria,
disse à psicóloga, que acompanhava seu caso.
Com o trabalho de ajudante na
lavanderia ele conheceu outras pessoas e arrumou um amigo e confidente. Os
dois tinham histórias parecidas, mataram suas esposas. Dirceu tinha cinquenta
anos e estava preso há seis anos, não recebia visitas. Os filhos o desprezavam, nunca o perdoaram pela morte da mãe.
Alcir estava sendo forjado a ferro e fogo
no pior lugar do mundo, a cadeia, onde ele usava uma armadura para encobrir a
culpa e a saudade que trazia no peito. Durante as noites de insônia ele chorava
baixinho, com o rosto enfiado no travesseiro para ninguém ouvir. Durante o dia
era um presidiário carrancudo e violento com seus desafetos; assim ele se
escondia do mundo atrás de uma armadura agressiva e perigosa.
Procurava esquecer que havia vida lá
fora e quando recebeu o aviso de sua liberdade condicional, chorou como
criança para surpresa do diretor do presídio. Dirceu tentou consolá-lo e se
dispôs a ouvir sua história.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.