MOMENTOS
DE LUZ
CAPÍTULO
OITO
O automóvel adentrou ao pátio da
emergência e logo surgiu um enfermeiro com uma cadeira de rodas, para acolher a
gestante. Serena, acompanhada de sua mãe, estava nervosa diante da situação,
que era esperada e temida ao mesmo tempo.
Ela era uma moça esclarecida, que se
informara sobre o trabalho de parto e os procedimentos que antecediam ao mesmo.
No entanto, a vivência se apresentava diferente da literatura ou conselhos das
comadres.
Era seu corpo e a vida de sua filha que contavam
naquele momento. Avivado os temores acalentados durante os nove meses de
gestação, o parto parecia um monstro, que a queria destruir. A gestante
caminhava como se fosse para um sacrifício.
No hospital foi acolhida com presteza e
atenção pela enfermeira, que a conduziu ao consultório médico. Depois de
examinada foi encaminhada ao Centro Obstétrico, onde esperaria a evolução do
trabalho de parto. As contrações começaram devagar e a futura mamãe sentiu-se
aliviada e comentou:
- São dores perfeitamente
suportáveis, e olhando para sua mãe sorriu.
A mãe ficou apreensiva, sabia que era somente o começo do trabalho de
parto. Ela sentia leves dores nas costas, que desciam até a púbis, enquanto a
barriga endurecia. À medida que as horas passavam, as dores aumentavam e a
barriga ficava dura por mais tempo.
As onze horas, Serena já não
aguentava mais de tantas contrações e começou a se desesperar. Queria que Vitor
estivesse ali para segurar suas mãos; já não suportava mais e começou a gritar.
A enfermeira saiu rapidamente procurando o médico, que precisava acalmar a
parturiente, que estava assustando as demais pacientes.
O médico, então, a encaminhou para
a sala de parto, onde recebeu analgesia. Com a dor amenizada, Serena respirou
fundo, queria que sua filha nascesse o mais rápido possível. Sua mãe estava ao
lado de sua cabeceira, acalmando-a e esperando o momento de sua neta nascer.
Estava tudo preparado e a criança
chorou depois de uma longa contração. Cristal veio à luz ao meio dia e Serena
viu seu rostinho vermelho e inchado, quando a enfermeira aproximou a
recém-nascida dela.
Emocionada, a nova mamãe não
resistiu e deixou cair duas lágrimas de amor por sua filha. Em seguida, Cristal
foi colocada sobre seu peito, conhecendo pela primeira vez o aconchego do calor
materno fora do útero.
Enquanto
sentia aquele corpinho junto ao seu colo, Serena pensava em seu amor, que fazia
tanto tempo que não via. A saudade doeu naquele momento de luz e amor familiar.
Vitor era seu amor, pai de Cristal e nada poderia suprir sua ausência.
Muito
longe dali, Vitor orava pelas duas mulheres, a mãe e a filha. Pedia a Deus
proteção para ambas, que eram a sua família. Desejava vê-las o mais rápido
possível, porém, nada poderia fazer quanto a isso; tinha uma missão a cumprir.
Ele recebeu fotos da filha e da mãe na sala de
parto, então, chorou feito criança. O isolamento estava pesado, mas ele tinha
um compromisso com o seu país e iria até o fim.
Havia notícias de que nos
primeiros meses do novo ano, os Boinas Azuis voltariam para casa. No entanto,
nada estava certo. Então, ele se contentava em ver sua filha crescendo através
de fotografias e mensagens, que Serena mandava diariamente.
O Natal chegou e Cristal estava
com quase um mês de idade. Uma criança bonita de cabelos pretos, parecida com o
pai. Vitor era moreno claro de cabelos escuros, enquanto Serena tinha os
cabelos loiros. Ele ficava muito orgulhoso quando diziam que a menina se
parecia com ele.
Vitor conseguiu falar com Serena
pelo Skype na véspera do Natal e pode ver sua filha pela primeira vez. Ficou
feliz em saber que havia duas mulheres aguardando sua volta; queria muito estar
com elas. O novo ano se aproximava e novas esperanças surgiam para todos.
Um texto de Eva Ibrahim