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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

"ANJOS DE DEUS" "...QUANDO OS ANJOS PASSEIAM A IGREJA SE ALEGRA. ELA CANTA, ELA CHORA, ELA RI E CONGREGA. ABALA O INFERNO E DISSIPA O MAL. SINTA O VENTO DAS ASAS DOS ANJOS AGORA. CONFIA IRMÃO, POIS É A TUA HORA. A BENÇÃO CHEGOU E VOCÊ VAI LEVAR..."

SEM REAÇÃO!

CAPÍTULO SEIS
        Olívia chorou durante a noite e Cirilo Artur ouviu, mas deixou que desabafasse; fingiu que estava dormindo. Pela manhã, depois da radioterapia, ela disse que estava preocupada com as sessões de quimioterapias. Então, contou o que ouviu de outra paciente mais antiga, que estava aguardando a vez para fazer a radioterapia.

- A mulher, de cerca de quarenta anos, já está careca porque seu tratamento está com quatro meses e os seus cabelos começaram a cair no final do primeiro mês. Ela tirou o turbante para eu ver e me disse que, assim que começa o ciclo de quimioterapias vermelhas, cresce a expectativa da queda de cabelo.
Suspirou fundo e prosseguiu:
- O que, geralmente, ocorre dentro de duas a três semanas após o seu início. Ela contou que o travesseiro amanhece cheio de cabelos e no banho, o ralo também fica cheio de fios de cabelos, enquanto a cabeça queima tipo uma inflamação. Me disse também, que caem todos os pelos do corpo, os pubianos e das axilas; ficamos lisas como bebês. Concluiu Olívia com uma nuvem de tristeza no olhar.

Depois, olhando nos olhos do marido, ela continuou:
-Meu amor, eu acho que vou cortar meus cabelos para fazer a peruca, porque depois eles não vão prestar mais, e deixou rolar duas lágrimas de seus olhos. 

Cirilo Artur não se conteve e a abraçou dizendo:
         - Sim, vou pedir a minha mãe que traga sua cabeleireira para cortar seus cabelos bem curtos. Depois que tudo isso passar ele crescerá novamente. Em seguida, a beijou com carinho.
        
        Na quinta-feira à noite, a cabeleireira chegou; no dia seguinte começariam as quimioterapias. A moça amarrou os cabelos longos de Olívia e foi cortando o mais curto possível. Em seguida, entregou ao marido o chumaço de cabelos da moça;

         - São valiosos, se quiser vender, pois nunca receberam tintas. Observou a cabeleireira. A paciente fez que não com a cabeça, não conseguiria falar, estava com um nó na garganta.

             A cabeleireira, então se ateve a acertar o corte dos cabelos que sobraram.

             Olívia quis olhar no espelho e chorou novamente; era de dar pena. A comoção foi geral e todos acabaram chorando, até a cabeleireira.

             O dia seguinte amanheceu e vieram colher o sangue de Olívia, queriam saber se ela estaria em condições de receber a primeira sessão de quimioterapia. Depois de uma hora, voltaram com uma cadeira de rodas e conduziram a moça à sala de quimioterapias.

             Cirilo Artur ficou em pé na soleira da porta de entrada, parecia estar com medo de adentrar ao local. Tinha uma sensação de que aquele lugar faria muito mal à Olívia.

             Depois da medicação instalada, ele foi convidado a sentar-se perto de sua esposa; ela precisava de seu apoio. Cirilo Artur ficou sentado ao lado de Olívia, segurando um lenço nas mãos, para o caso dela nausear.

           Ele não tirava os olhos de sua amada, enquanto o líquido penetrava na veia de sua mão, postada sobre o braço da poltrona.
           Não parecia ser tão terrível, era apenas um soro colorido; um xarope de groselha, pensou o rapaz.

           Quando acabou o soro e a punção foi retirada, ele percebeu que o medo da quimioterapia era um fantasma criado na cabeça das pessoas; nada havia de estranho. As enfermeiras, as pacientes, o ambiente nada tinha de hostil; faziam parte de um conjunto acolhedor à novos integrantes. Tudo muito claro e as pessoas sorriam cordiais enquanto conversavam.

           A enfermeira aproximou-se de Olívia e deu-lhe um pacote dizendo para ela fazer uso dele. Foi o primeiro presente que Olívia ganhou, um turbante colorido, doado pelas voluntárias. Todas as pacientes de quimioterapia tinham um turbante vistoso e colorido. Cirilo Artur sorriu, estava sem reação.

 Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

"ANJOS DE DEUS" - REFRÃO: "...TEM ANJOS VOANDO NESTE LUGAR. NO MEIO DO POVO E EM CIMA DO ALTAR. SUBINDO E DESCENDO EM TODAS AS DIREÇÕES. NÃO SEI SE A IGREJA SUBIU OU SE O CÉU DESCEU. SÓ SEI QUE ESTÁ CHEIO DE ANJOS DE DEUS. PORQUE O PRÓPRIO DEUS ESTÁ AQUI..."PADRE MARCELO ROSSI


                                  PRECISO DE VOCÊ

                             CAPÍTULO CINCO
         Quando Cirilo Artur voltou ao quarto, Olívia não havia chegado, demorou um pouco para voltar da radioterapia. Então, ele sentou-se na poltrona enquanto aguardava. O quarto estava na penumbra e Cirilo Artur ficou imaginando o que poderia fazer para animar sua esposa. Olívia estava triste e parecia definhar a cada dia. Aquela situação estava deixando-o arrasado.

            A moça chegou cansada, trazia as marcas em tinta azul na região da clavícula, parecia um mapa mal traçado. Cirilo Artur olhou e perguntou se estava doendo, mas, diante da negativa ele se absteve de comentários. Aproximou-se e fez carinho em seus cabelos longos, depois beijou sua mulher; ela era seu maior tesouro.

Em seguida, vencido pelo cansaço, recostou-se no sofá e acabou por adormecer, também estava exausto. Dormiu um sono agitado e sonhou com aquele rapaz careca, Jonas, que não saia de sua cabeça. Acordou quando o carrinho de comida entrou no quarto e fez barulho.

 No sonho, teve uma sensação muito boa e lembrou-se de sua infância. Sua mãe sempre dizia, que Deus fala com os seus filhos através de outras pessoas, por isso deveriam prestar atenção quando alguém falava com eles. Tinha convicção nisso.

- O Jonas seria um mensageiro de Deus? Pensou Cirilo Artur.

  Depois do encontro, ele estava com algumas ideias que poderiam ajudar sua amada; teria que pensar e dar corpo à sua imaginação. Pediria à sua mãe para fazer companhia a Olívia e, depois do trabalho iria ao centro da cidade, para investigar a possibilidade de concretizar sua ideia.

            Retornou alegre, porque o seu desejo era de fácil conclusão. Só teria que convencer sua mulher, a cortar seus cabelos na altura do pescoço. Quando estavam sentados jogando conversa fora, ele resolveu falar. Aproximou-se e pegando em suas mãos foi dizendo:

- Olívia, hoje eu fui ao cabeleireiro que fabrica perucas e expus o seu caso. Ele disse que pode fazer uma peruca do seu próprio cabelo, que ninguém vai desconfiar que não está implantado no seu couro cabeludo. Precisamos cortar o cabelo bem curto e levar para ele tratar, que até os seus cabelos caírem, a peruca já estará pronta.

- Não quero cortar meus cabelos, ela respondeu, enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto. 
- Não tenho lembrança da última vez que cortei os cabelos, deveria ser muito pequena; soluçou a moça.

A mãe do rapaz fez sinal para ele dar um tempo para Olívia pensar.

- Foi só uma ideia, se você não quiser, nada faremos, fique calma meu amor, e a abraçou com carinho.

No dia seguinte foram iniciadas as sessões de radioterapia e em seguida viriam as quimioterapias, que levariam à queda dos cabelos de Olívia. Ela teria algum tempo para decidir o que faria, pensou Cirilo Artur.

O primeiro dia da quimioterapia seria na sexta-feira e ele faria uma surpresa para seu amor. A mãe de Olívia passou a quinta-feira com ela e no final da tarde, o marido iria busca-la para Cirilo Artur passar a noite ali. Então, entraram no quarto, o seu pai, o irmão e Cirilo Artur, todos de cabeça raspada.
A surpresa foi tão grande que ela gritou.

 – Que loucura! Por que fizeram isso?

  - Em solidariedade a você, porque a amamos e não queremos que sofra.
            Olívia não conteve as lágrimas e agradeceu a todos; seriam quatro carecas e não apenas ela.

            Os dias passaram e ela já ostentava queimaduras na pele por causa da radioterapia. Sentia-se enfraquecida e com náuseas. E, a tendência era piorar com o início da quimioterapia, todos sabiam disso.

 Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

"ANJOS DE DEUS"- GOSPEL/RELIGIOSO. 'SE ACONTECER UM BARULHO PERTO DE VOCÊ. É UM ANJO CHEGANDO PARA RECEBER. SUAS ORAÇÕES E LEVÁ-LAS A DEUS. ENTÃO, ABRA O CORAÇÃO E COMECE A LOUVAR. SINTA O GOSTO DO CÉU, QUE SE DERRAMA NO ALTAR. QUE UM ANJO JÁ VEM COM A BÊNÇÃO NAS MÃOS..." PADRE MARCELO ROSSI

UM DIA APÓS O OUTRO

CAPÍTULO QUATRO
         A noite foi um pesadelo; Cirilo Artur passou o tempo todo vigiando sua esposa e a cada som diferente, ele pulava da poltrona. Olhava as luzes da cidade pela janela do quarto, estavam no terceiro andar do hospital universitário, e imaginava a vida lá fora, sem o fantasma do câncer corroendo seus pensamentos.

          Orou a noite toda, procurava um alento divino. Seu corpo estava dolorido por estar em uma poltrona incômoda, mas, o que mais doía era seu coração. Batia acelerado e formava uma bola em sua garganta, que o impedia de comer; uma sensação de vômito iminente. Sentia-se mal, estava vivendo um drama.

            Precisava acreditar que aquilo tudo era passageiro, e que logo Olívia estaria de volta ao lar. A paciente dormiu porque tomou calmante e quando acordou, lembrou-se do diagnóstico e começou a chorar.

Olívia tomou banho e logo chegou o café, que ambos somente beliscaram, não tinham fome; estavam inquietos e temerosos. Uma tristeza enorme por estar sofrendo uma dor causada por um inimigo invisível, para o qual, não tinham armas para lutar.

             Se fosse um membro ou um órgão doente poderia ser extirpado, mas a leucemia estava no corpo todo, como enfrentar aquela situação? Não sabiam a resposta.

           O médico chegou para a visita matinal e trazia novidades.

          – Já temos um plano para atacar o câncer que está fazendo você sofrer. Disse, olhando Olívia nos olhos.
            - Logo mais, virão busca-la para marcar a radioterapia e iniciar o tratamento para minar os nódulos aparentes. São pequenas marcas e riscos para identificar o local exato onde a radiação deverá incidir. E, amanhã iniciaremos o tratamento com a primeira sessão de radioterapia. Iremos explicar tudo passo a passo; não tenha medo, existe algumas reações adversas, mas a aplicação é indolor.

             Dr. Júlio Rocco, estava escrito em seu jaleco, Cirilo Artur prestou atenção enquanto ele falava. Era um homem de meia idade e falava calmamente, parecia que estava em uma conversa informal do dia a dia; no entanto, para o casal era uma questão de vida ou morte.

          Ambos ouviram calados, não sabiam do que se tratava. Radioterapia, quimioterapia eram novidades para eles. Entretanto, sabiam que não era uma coisa boa, mas armas agressivas contra a doença.

         O médico percebeu o desconforto e sorriu com uma carreira de dentes alvos; era um sorriso acalentador e foi logo dizendo:

           - Conforme a doença é o remédio e, neste caso tem que ser muito amargo. Em seguida pegou o estetoscópio para ouvir os pulmões de Olívia. Sorriu novamente e, dizendo que estava tudo dentro do esperado, saiu fechando a porta de mansinho.

             Cirilo Artur sentiu-se reconfortado, aquele homem era um calmante para seu coração desesperado. A vida de Olívia estava em boas mãos, pensou, beijando sua esposa no rosto. A paciente também parecia mais calma, até sorriu para o marido.

             Olívia foi levada para a marcação da radioterapia e Cirilo Artur aproveitou para sair e tomar um pouco de ar puro. Tinha uns quarenta minutos até que sua esposa voltasse para o quarto.

             Ele desceu os três andares até a recepção e sem saber o que fazer, sentou-se em uma mureta do lado de fora. Estava tão preocupado que não percebeu a aproximação de um rapaz pálido e sem cabelos, que lhe fez uma pergunta:

            - Você tem horas, por favor?

             - Dez horas E cinco minutos, respondeu e olhando para o rapaz sentiu que havia algo em comum com os pacientes do hospital.

            - A minha sessão de quimioterapia começa as dez e meia, ainda falta um tempo, e sorriu para Cirilo Artur, que reparou que ele estava careca e poderia lhe contar coisas sobre o tratamento. Estava desesperado e qualquer luz, por pequena que fosse, seria benvinda.

             Conversaram um pouco sobre a doença, que era a mesma de Olívia e logo apareceu um senhor, que Jonas, o rapaz careca, apresentou como sendo seu pai. O homem estava com a cabeça raspada e disse para Cirilo Artur, que havia raspado a cabeça em solidariedade ao filho, que amava muito.

          Ambos se foram abraçados, deixando um sentimento de grandeza de alma no ar. Uma certeza de que não estavam só naquela triste jornada; havia apoio emocional entre eles.

 Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

"...SE EU ROUBEI. SE EU ROUBEI TEU CORAÇÃO. TU ROUBASTE. TU BOUBASTE O MEU TAMBÉM. SE EU ROUBEI. SE EU ROUBEI TEU CORAÇÃO. É PORQUE. É PORQUE TE QUERO BEM." MÁRIO LAGO E ROBERTO MARTINS

NAS SOMBRAS

CAPÍTULO TRÊS
           Cirilo Artur ficou assustado, não poderia nem pensar, que sua amada pudesse ficar doente; sentiu-se enjoado com aquela possibilidade.

           - Iremos ao médico, com certeza; afirmou para o dentista.

           E, no mesmo dia procurou um hospital, onde sua esposa foi atendida no Pronto Socorro e liberada em seguida: estava, aparentemente, recuperada. O médico pediu diversos exames e marcou o retorno da paciente para o consultório médico do convênio de Cirilo Artur.

          Olívia fez todos os exames e ficou constatado que ela estava com anemia. Necessitava de medicamentos, além de um reforço alimentar. O marido esforçava-se, para que ela tivesse a melhor alimentação para curar sua anemia; ficara temeroso pela saúde da mulher.

           Ele fazia tudo o que as pessoas de suas relações, diziam ser adequadas para curar anemia. Comprara uma panela de ferro para Olívia cozinhar e introduziu fígado bovino na alimentação diária do casal. Quando sua mulher protestava ele dizia:

           -Se não fizer bem, também não fará mal.

           Depois de alguns dias, Olívia parecia bem, estava corada, disposta e com uma boa aparência. Parecia que a paz voltara ao lar de Cirilo Artur. No entanto, depois de um mês, apareceram alguns caroços nas axilas da moça. Além disso, apareceu também, um caroço na base do pescoço, que cresceu e inflamou.

            A moça passou dias com muita dor e só conseguia dormir sob o efeito de analgésicos e anti-inflamatórios receitados pelo médico. Mas, a medicação não desinflamou o abcesso e, ela precisou ser submetida a uma incisão cirúrgica no local, com a colocação de um dreno e a introdução de antibióticos.

             Durante dias, Olívia ia fazer curativos no pronto atendimento da clínica e sempre havia drenado muita secreção purulenta; a infecção não estava controlada. O médico, temeroso, percebeu que a situação estava muito complicada e resolveu encaminhá-la para um hospital grande e com mais recursos.

             A moça ficou internada para ser submetida a outra bateria de exames; seu caso parecia ser pior do que se poderia imaginar. Um mês inteiro tomando antibióticos e não melhorou. Diante desta situação, Cirilo Artur pediu para o médico a transferência de sua esposa para um hospital de referência da região, ele estava desesperado com a doença, que acometera sua esposa.

             Olívia havia emagrecido cinco quilos em um mês, estava pálida, sempre enjoada e com o estômago doendo:

            - Uma situação preocupante, porém, vamos aguardar os exames, dissera o médico que a recebeu no complexo universitário.

             Novos exames e tomografia, ressonância magnética e uma biópsia do local do caroço supurado. Cirilo Artur perdera o sossego, vivia do trabalho ao hospital e vice e versa, estava exausto. Olívia estava cada dia mais enfraquecida; parecia que estava sumindo aos poucos.

             Mais uma semana de espera pelo resultado da biópsia, que era urgente, dissera o médico. E quando veio, o diagnóstico foi fechado:

            - Uma facada no peito teria doido menos, disse Cirilo Artur para sua mãe no telefone. Depois calou-se, estava emocionado.

             - Fala meu filho, não me deixa nesta aflição. Pediu a mãe apreensiva.

             - O médico chegou com um papel na mão e disse para mim e Olívia, que as notícias não eram boas. Em seguida, olhando para Olívia e com um jeito sério, compenetrado, falou:

             - Sinto muito, mas você está com câncer nos gânglios linfáticos. É um câncer agressivo, que se chama “Linfoma Não-Rodgkin”. Faremos tudo que a ciência disponibiliza e usaremos todos os recursos que temos para combater esse mal. Inclusive a quimioterapia, radioterapia e tudo o que for necessário; juntos venceremos essa etapa difícil, mas perfeitamente possível. Vou marcar a quimioterapia e depois voltaremos a conversar.

             - Então, ele saiu do quarto nos deixando paralisados. Olívia agarrou-se a mim e chorou até adormecer. Eu fiquei na mesma posição, parecia que o quarto estava cheio de sombras escuras. Sua voz embargou e ele conteve um soluço.

            - É isso mãe, minha mulher está com câncer.

Engoliu o choro e desligou, deixando mais uma pessoa nervosa e com o coração na mão.

Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

"...NESSA RUA, NESSA RUA TEM UM BOSQUE. QUE SE CHAMA, QUE SE CHAMA SOLIDÃO. DENTRO DELE, DENTRO DELE MORA UM ANJO. QUE ROUBOU, QUE ROUBOU MEU CORAÇÃO..." MÁRIO LAGO E ROBERTO MARTINS

OLHOS NOS OLHOS

CAPÍTULO DOIS
          A semana demorou a passar, a melancolia estava presente na vida de Cirilo Artur; ele queria rever a sua prometida. A vida já não tinha sentido sem a presença dela; um amor fulminante. Às vezes, chegava a duvidar que Olívia estivera tão perto, isto é, ao seu alcance e a deixara ir. Entretanto, não poderia segurá-la.

          Existia um protocolo a ser seguido antes de juntar um homem a uma mulher e, ela teria que concordar em juntar-se a ele. Eram apenas convenções sociais, pensou Cirilo Artur. Na verdade, ele queria pegar em seus cabelos e puxá-la diretamente para sua casa; igual faziam os homens da caverna. No entanto, seguiria as convenções, ou poderia assustá-la.

            Preparou-se psicologicamente, não queria dar a impressão de que estava desesperado para vê-la. Esperou para telefonar até quarta-feira, então, não aguentou e ligou disfarçando a voz, para esconder sua ansiedade. Ouvir a voz de Olívia o elevou as esferas do paraíso, era doce e meiga; música para seus ouvidos.

           Um homem apaixonado fica distraído e pensativo e o pessoal do escritório percebeu. Ele aguentou as brincadeiras dos colegas, que o achavam diferente do usual. Cirilo Artur não negou nada, estava apaixonado e queria viver o grande amor de sua vida, que já tinha nome, Olívia.

Ele estava diferente, parecia andar no ar; uma sensação de estar leve, que nunca havia sentido antes. Finalmente chegou o domingo e Cirilo Artur estava arrumado e cheiroso para viajar os setenta quilômetros que o separavam de Olívia. Saiu bem cedo dirigindo seu automóvel usado, que ele lavara e lustrara no dia anterior; não queria que Olívia sujasse a roupa.

             Chegou cedo demais e ficou parado na esquina, não queria causar má impressão. Estava na espreita para ver a chegada de Olívia, que parecia nunca chegar. Cirilo Artur estava ficando nervoso, queria ver Olívia novamente e quando ela apareceu, o dia ficou iluminado.

          Estava linda, usava um vestido rosa de rendas, que combinava com seus longos cabelos pretos. Ele esperou ela entrar e depois foi chegando devagar, mas quando viu que ela havia guardado lugar para ele, subiu aos céus. Não poderia haver ninguém mais feliz do que Cirilo Artur.

Pediu licença e com um beijo no rosto dela sentou-se, estava alegre e sorridente. Cirilo Artur e Olívia se entreolharam, havia amor ali, todos ao redor perceberam. Ficaram sentados lado a lado e a mão do rapaz lentamente se apossou da mão dela. Ela fez menção de tirar, no entanto, deixou ficar, estava gostando dele também.

O culto terminou e os dois ficaram sozinhos, olhos nos olhos. Então, Cirilo Artur perguntou a ela se queria namorá-lo e ouviu um sim com convicção. Depois ele a levou para casa no seu automóvel e antes de despedir-se trocaram beijos tímidos; estavam se conhecendo.

O amor cresceu e em seis meses estavam com o casamento marcado. Prepararam a casa onde iriam morar, o vestido de noiva, a festa na igreja e a viagem de lua de mel. Parecia que estavam sonhando acordados; encontraram o amor e seriam felizes para sempre.

 Olívia havia concluído o curso de pedagogia e queria fazer especialização para fazer concurso e trabalhar na prefeitura; o seu marido lhe dava a maior força. Somente depois de estar colocada ela queria ter filhos. Estava tudo encaminhado para um futuro promissor.

Passaram alguns meses e tudo corria bem entre eles; estavam felizes.

Certo dia, Olívia foi ao dentista e no meio do procedimento a moça apagou. Desmaiou em meio a uma simples obturação, assustando o profissional, que ficou muito preocupado; nunca aconteceu isso antes. Então, chamou o marido para ir busca-la.

 – Estará grávida ou doente? Quem sabe? Deverá leva-la ao médico com urgência, aconselhou o dentista.

Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

"CANTIGAS POPULARES"- "SE ESSA RUA FOSSE MINHA" - "SE ESSA RUA, SE ESSA RUA FOSSE MINHA. EU MANDAVA, EU MANDAVA LADRILHAR. COM PEDRINHAS, COM PEDRINHAS DE BRILHANTE. PARA O MEU, PARA O MEU AMOR PASSAR..." MÁRIO LAGO E ROBERTO MARTINS.

VEJO AMOR NO SEU OLHAR 

UM PEDACINHO DO CÉU

CAPÍTULO UM
           Cirilo Artur sempre foi assíduo frequentador da igreja evangélica, ajudava no que fosse preciso e tocava violão para acompanhar os cantores de música gospel. Aprendeu a tocar o instrumento com seu tio, que percebendo o interesse do sobrinho, resolveu comprar um violão para ele. O menino ficava encantado ao observar o velho tio, tocar as músicas da igreja. E, agora era sua paixão, tocava com prazer para acompanhar os cantores da igreja.

          Não namorava ninguém, dizia que estava esperando a prometida de Deus para ele e, que quando ela chegasse ele saberia. Em seus sonhos ele via uma moça bonita, de cabelos longos e sorridente, que seria sua mulher para sempre. Levava a vida como um bom crente que era; sério, trabalhador e honesto. Se formara em administração de empresas e trabalhava em um escritório de contabilidade.

             Certo dia, sua igreja estava em festa e, esperavam receber uma caravana de irmãos da cidade vizinha para uma confraternização. O rapaz trabalhou, durante uma semana, todas as noites depois do expediente, para ajudar nos preparativos; estava eufórico, gostava de ver a igreja cheia de gente.

            No domingo, ele acordou cedo, vestiu sua melhor roupa para ir ao culto e receber à caravana de irmãos em Cristo. Havia preparativos de salgados, doces, bolos e refrescos no salão de festas da congregação, para oferecer aos visitantes.

             Logo cedo, chegaram dois ônibus cheios de moços e moças da cidade vizinha, que processavam a mesma fé. Entraram e foram sentando nas cadeiras reservadas a eles, eram cem pessoas ao todo. Em sua maioria jovens de todas as idades, alegres e curiosos.

             A música começou a tocar e só parou ao sinal do pastor, que iniciou a pregação dando as boas-vindas aos irmãos. Então, Cirilo Artur descansou o violão e ao mesmo tempo que prestava atenção nas palavras do pastor, corria seus olhos para ver os recém-chegados.

Parou quando viu uma jovem sentada na terceira fila, seu coração acelerou. Tinha que chegar perto dela, era do jeito que ele imaginava. Estava vestida de azul, tinha a aparência de um pedacinho do céu. Seu coração disparou e ele saiu de mansinho dizendo ao companheiro que precisava usar o banheiro.

Lavou o rosto com água fria para ver se melhorava um pouco e até tomou um gole da água da torneira. Em seguida, respirou fundo para voltar ao palco, onde ficava a banda e o púlpito.

          Entrou vitorioso quando percebeu que a moça o seguia com os olhos. Cirilo Artur não entendeu nenhuma palavra que o pastor dissera, estava com todos os sentidos pregados na terceira fila do auditório. Finalmente o culto terminara, na verdade durara um século pela avaliação da ansiedade do rapaz.  
              
           A última música foi tocada e ele tratou de guardar o violão e posicionar-se onde a jovem deveria passar. Ela estava acompanhada de outra jovem, que era sua irmã mais velha e sorriu quando viu Cirilo Artur. Ele todo atrapalhado foi logo dizendo:

         – Eu sou Cirilo Artur, muito prazer, qual é seu nome? E estendeu a mão para cumprimenta-la.

- Olívia, muito prazer. E, apertou a mão do rapaz.

- Preparamos uma mesa com lanches para vocês, vamos, que eu as acompanho. Não poderia existir um rapaz mais solícito do que Cirilo Artur. Esbanjava simpatia e felicidade, bem diferente do rapaz tímido que era.

As horas praticamente voaram, Cirilo Artur estava nas nuvens e não deixou Olívia sozinha em nenhum momento. Havia uma ligação entre eles, estavam encantados um com o outro. Parecia que eram velhos conhecidos, a conversa fluía fácil e havia um entrosamento estranho entre eles.

E, quando o ônibus partiu de volta à sua origem, Olívia e Cirilo Artur já estavam comprometidos, embora fosse apenas com o olhar. Ele ficou na calçada acenando para seu amor e já sentindo solidão ao ficar sozinho.

O rapaz disse a Olívia que iria visitar a sua igreja na semana seguinte e lá queria encontra-la novamente. Havia muitas promessas no ar.

Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

"O ANJO DO SENHOR ACAMPA-SE AO REDOR DOS QUE O TEMEM, E OS LIVRA. PROVAI, E VEDE QUE O SENHOR É BOM; BEM-AVENTURADO O HOMEM QUE NELE CONFIA". SALMOS: 34. 7, 8

NAS MÃOS DE DEUS

CAPÍTULO DEZ
        A menina já nasceu guerreira, uma criança prematura que mamava muito; estava sempre com fome. Os médicos explicaram à Cesane que a filha ficaria na incubadora até ganhar peso, isto é, ter dois quilos. Cristal nasceu com um quilo e seiscentos gramas, mas já perdera peso, então, depois de três dias, estava com um quilo e quatrocentos gramas.

          A pressão arterial de Cesane foi controlada depois do parto e, em alguns dias iria para casa. No entanto, ela queria ficar perto da filha e passou a queixar-se de dores aqui e ali. O médico percebeu que as queixas não condiziam com os exames e o estado físico da paciente. Ela estava muito bem e poderia ter alta; já não precisava ocupar um leito de Hospital.

 Fazia uma semana que Cristal viera ao mundo e uma pessoa inesperada apareceu para uma visita, era o pai da menina, Roger. Cesane, assustada, mal conseguiu manter-se em pé ao vê-lo parado na porta do quarto. Alda, rapidamente, amparou a filha e encarando o sujeito foi logo dizendo:

 - O que você está fazendo aqui? Quem deixou que entrasse?

- Estou aqui para conhecer a criança, que é minha também. É filho ou filha? Meu informante não soube dizer o sexo do bebê. Falou com a ironia de sempre. 

A moça sentou-se na poltrona, estava pálida, fraca e com medo do que aquele homem poderia fazer com Cristal. O amor, que um dia sentira por ele, agora se transformara em raiva e repulsa.

Ele ficou parado na porta esperando para saber onde estava a criança. Mas, para a sorte de todos o médico apareceu e, percebendo a situação, pediu ao rapaz que se retirasse ou chamaria a segurança.

              Ele saiu resmungando que voltaria para ver a criança, deixando atrás de si o medo estampado no rosto da mãe e da avó de Cristal. As duas abraçadas choraram pela infeliz situação vivida.

              - Será que nunca teriam sossego? Agora aquele inconsequente estava de volta e os problemas também. Alda murmurou entre lágrimas.

              Rui chegou mais tarde e prometeu proteger a filha e a neta daquele cafajeste. Nunca deixaria ele aproximar-se da sua família.

              Cesane precisou tomar um calmante para dormir e não queria deixar a filha ali e ir para casa. No entanto, ela estava bem e teve que deixar o hospital, não havia motivo para ocupar um leito de hospital, dissera o médico.

            Amparada pela mãe, ela se foi com lágrimas nos olhos e com a condição de poder estar ali todos os dias com a filha. A menina ficaria na neonatologia para conseguir o peso mínimo para ir para casa.

              Durante um mês as duas mulheres foram ao hospital diariamente e tinham a promessa do médico, de que Cristal poderia ir para casa, uma vez que ela estivesse com o peso exigido. Finalmente o dia tão esperado chegou; Cristal estava com dois quilos de peso.

              No domingo à tarde, Rui foi buscar as três mulheres de sua vida no hospital e nada poderia ofuscar aquela felicidade. Nem mesmo o temor do aparecimento do pai da criança. Roger se tornara um fantasma ameaçador para todos naquela casa, principalmente para Cesane, que temia por Cristal.

              Os meses passavam sem nenhuma novidade, a menina crescia forte e Cesane parecia mais calma e conformada em ser mãe solteira. Seus pais supriam toda e qualquer necessidade da mãe e da filha. Roger havia desaparecido novamente e eles esperavam que nunca mais aparecesse por ali.
           Cristal estava com seis meses de idade quando aconteceu uma fatalidade, que abalou Cesane mais uma vez. Um amigo de Rui apareceu ali para contar a triste novidade:

             - Roger sofreu um acidente e morreu no local, estava de motocicleta e bateu de frente com um caminhão, voando pelos ares. O fato aconteceu na cidade vizinha, por isso, pouca gente ficou sabendo da ocorrência, concluiu o rapaz.

              A moça precisou ser amparada, afinal ainda o amava e, Roger era o pai de Cristal. Alda e Rui se entreolharam e com um suspiro disseram:

            - Pelo amor de Deus, vamos esquecer esse rapaz e guardar somente uma lembrança boa para dar à Cristal. Que descanse em paz, morreu do jeito que viveu, loucamente.

          O casal lamentou formalmente e com um suspiro entreolharam-se; o sossego estava de volta àquele lar. Eles supririam a falta do pai para criar aquela pedra preciosa, que era a Cristal; estavam nas mãos de Deus.
            Um texto de Eva Ibrahim


quarta-feira, 8 de novembro de 2017

"SENHOR, TU ME SONDASTE, E ME CONHECES. TU SABES O MEU ASSENTAR E O MEU LEVANTAR; DE LONGE ENTENDES O MEU PENSAMENTO". SALMOS 139. 1,2

UM PINGO DE GENTE
CAPÍTULO NOVE
          Roger era o tipo de pessoa inconsequente, não se preocupava se iria ofender ou prejudicar alguém; fazia o que lhe dava na telha e pronto. Ele não viu Cesane no Shopping, mas queria saber da criança e no meio da noite, ligou no celular da menina.

              - Olá amor, como está o nosso filho? Você já sabe o que é? Eu sou o pai e quero ele para mim; é um direito meu.

               Cesane acordou assustada e gritou ao ouvir a afirmação de Roger. Depois ficou muda, estática e foi assim que Alda a encontrou. A mãe a abraçou perguntando o que havia acontecido e ela disse chorando:

              - Roger quer tirar a menina de mim.

              - Acalme-se, ele nunca vai conseguir tirar Cristal de você, nós estamos aqui para protege-la. Você não pode ficar nervosa porque sua pressão pode subir.

              O médico havia alertado as duas na última consulta. “Pressão alta não combina com gravidez”, dissera com um ar preocupado.

              Cesane não comeu nada e passou o dia trancada no quarto chorando; Alda não sabia o que fazer, estava desolada. Mais uma noite se passou e quando acordou, a gestante estava com a face e os pés muito inchados. A mãe ficou assustada e tratou de ligar para o médico, que mandou que fossem imediatamente para o Hospital.

              - Um quadro grave de hipertensão arterial, afirmou o médico. Ela está na iminência de ter uma eclampsia e vamos fazer alguns procedimentos para melhorar a pressão arterial. Se não der certo teremos que intervir com uma cesariana para salvar o bebê. Em seguida ele saiu, deixando Alda com o coração nas mãos. Muitas perguntas ficavam pulando em sua cabeça. 

         – A bebezinha é muito prematura, como será isso meu Deus?

A enfermeira pediu para Alda aguardar na recepção, enquanto cuidavam da paciente. A mulher estava muito nervosa e ligou para o marido lhe dar apoio naquele momento tão preocupante. O casal ficou sentado rezando para o melhor acontecer, que as duas ficassem bem; era tudo o que eles precisavam.

A manhã passou e nada de notícias da filha. As onze horas ela foi questionar junto à enfermagem; queria notícias. Então o médico veio e lhe deu as informações necessárias.

 – A gestante recebeu as doses da medicação recomendada e aguarda no centro obstétrico a evolução do quadro. A qualquer momento poderemos entrar para uma cesariana, depende da resposta à medicação que a jovem vai ter. E, olhando nos olhos da mãe aflita ele disse:

- Está autorizada a acompanhar a paciente, um de cada vez; ela precisa de tranquilidade.

             Alda agradeceu e o casal foi encaminhado ao CO. A mãe entrou e depois foi a vez do pai. Parecia que estava tudo bem e Rui voltou ao trabalho. Mas com o passar das horas, Cesane passou a referir dor de cabeça e foi o sintoma que faltava para leva-la para a cirurgia.

             Mais uma vez, Alda teve que aguardar na sala de espera. Enquanto isso, sua neta vinha ao mundo com apenas trinta e três semanas de gestação. Depois de duas horas e muita ansiedade o médico apareceu e disse que estava tudo bem.

           - Nasceu uma menina com um quilo e seiscentos gramas e deverá permanecer na incubadora para ganhar peso. Aparentemente é um bebê saudável, mas ficará em observação constante. Em seguida, disse que ela poderia ver a filha que se recuperava da anestesia.

Alda ergueu as mãos para o céu e agradeceu a Deus pela notícia alvissareira; seus olhos ficaram cheios de lágrimas. Primeiro foi ver a filha e depois a neta no centro neonatal.

             Ao ver a menina ela sentiu o amor aflorar em seu coração, era um pingo de gente, que chorava bravamente; então, ela sorriu, depois de muitas horas de sofrimento.

Um texto de Eva Ibrahim
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