UM DIA
DE CADA VEZ
CAPÍTULO
SETE
Alana estava melhorando, mas era
visível o cansaço que apresentava ao falar. O médico explicou, que o pulmão da
paciente fora severamente comprometido e sua regeneração seria lenta. Poderia
demorar meses, para ela voltar a viver normalmente.
O caso de Alana fora um dos mais graves
acolhidos naquele hospital, então, deveriam ter paciência. Ela estava
desenganada, quando reagiu inesperadamente; era um milagre estar viva. Falou e olhou para cima, queria agradecer a Deus.
Depois, o médico continuou explicando, parecia comovido.
- A paciente ainda ficará algum
tempo no hospital. Precisa tomar antibióticos para combater a pneumonia e receber
a fisioterapia respiratória e muscular. Suspirou e, por um momento, parecia
pensar no que diria a seguir, depois prosseguiu:
- Qualquer paciente que fica
deitado por mais de quarenta e oito horas, começa a perder o tônus muscular. O corpo
humano foi projetado para estar em constante movimento, se ficar parado perde a higidez física.
- Assim, uma paciente que ficou por
duas semanas internada e entubada por dez dias, necessita de fisioterapia
passiva desde os primeiros dias, ou perderá a força muscular, que é tão
necessária para sua recuperação.
- No entanto, em tempos de pandemia
é impossível atender a todos os pacientes com esses cuidados complementares.
Focamos em mantê-los vivos e nem sempre obtemos êxito. Se sobrevivem, então
pensamos em sua recuperação motora.
Em seguida se afastou, havia
muitos pacientes que precisavam dele.
No dia seguinte, Saulo chegou para
visitar sua esposa e a encontrou dormindo. Imediatamente ficou preocupado.
- Será que ela piorou? Está pálida e
respira dentro da máscara de oxigênio, parece enfraquecida. Com esses
pensamentos o homem procurou a enfermeira.
– O que está acontecendo? Alana piorou?
Perguntou assustado.
– Não, ela está debilitada, por isso precisa
dormir bastante, para recuperar suas forças. Respondeu a mulher, prestativa. Depois
continuou:
- A paciente precisa de
assistência especializada para se recuperar. Fisioterapia para fortalecer a
musculatura e voltar a ter os movimentos dos membros ativos. No momento, ela
não consegue ficar em pé ou pentear os cabelos.
- A assistência aqui no hospital é a melhor
possível, mas insuficiente. O senhor deverá contratar um profissional, para
acompanha-la diariamente. Esperamos que reaja e tenha grandes progressos, uma
vez que é jovem. A recuperação pode ser longa e demorada; Alana deverá viver um
dia de cada vez.
Os
dias foram passando e a paciente ganhando forças para se recuperar. O marido
esteve ao seu lado no hospital, todos os dias, para lhe dar apoio e acompanhar
sua recuperação. Quando completou vinte e cinco dias de internação, a moça
recebeu alta.
A situação era boa, mas carecia de
acompanhamento, ela dava alguns passos dentro do quarto, usava um andador. Não
tinha o equilíbrio suficiente para se manter em pé. Sabia que faltava muito,
para voltar a ser o que era antes.
Saulo
recebeu a notícia e ficou muito feliz. Saiu cedo para buscar sua esposa. Estava
aguardando no corredor quando ela apareceu de cadeira de rodas; foi
emocionante. Os funcionários, os enfermeiros e os médicos fizeram um cordão dos
dois lados do corredor, enquanto ela passava, todos, batiam palmas e cantavam, para homenagear a paciente
recuperada.
O
marido chegou as lágrimas, sua esposa estava de volta para sua família.
Intimamente agradeceu a Deus pela sua felicidade. Chegando em casa, onde já estava tudo
preparado para recebê-la e a Vanda a sua espera, Alana se emocionou.
Mais
tarde, Saulo foi buscar as filhas para ver a mãe. Ficariam mais algum tempo com
a tia, pois a mãe deveria descansar. O quarto fora adaptado com umidificador,
oxigênio, bombinha para inibir a falta de ar e mais uma porção de remédios, que
a paciente poderia precisar. Deveria permanecer isolada para sua proteção, pois
estava enfraquecida e poderia piorar em contato com outras pessoas.
As meninas viram a mãe da porta do quarto e
depois voltaram para a casa da tia. A mãe falava com dificuldade e tossia entre
as falas, cansava-se facilmente e sempre recorria à bombinha para asma. Ali, em
sua casa começaria sua recuperação de vida, depois de uma quase morte.
Precisava
fortalecer o corpo e alimentar a alma, que estava fragilizada, mas isso se
daria batalhando um dia de cada vez.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa.