DOR DA
ALMA
CAPÍTULO TRÊS
Quirino
foi correndo pegar o velho caminhão e se dirigiu o mais próximo possível do
laranjal. Em seguida, os três homens carregaram o rapaz, que estava
inconsciente, até a carroceria do veículo; depois voaram para o Pronto Socorro
do hospital da cidade. O avô, que pela vivência tinha algum conhecimento, foi
amparando a cabeça e protegendo-a, enquanto Alceu se debatia involuntariamente.
André
pediu ao ajudante que telefonasse, avisando o hospital que estavam a caminho do
Pronto Socorro, com um rapaz convulsionando. Era uma suspeita de intoxicação
por agrotóxicos, alertara o avô, que ao longo da vida, tivera notícias de casos
parecidos.
Foram
recebidos na porta da emergência, já estavam esperando o paciente. Os enfermeiros
seguiram levando o rapaz na maca, em direção à sala de urgência; não havia
tempo a perder. Depois de duas longas horas de aflição, o médico chamou Quirino
para uma conversa. Disse que o paciente estava na Unidade de terapia intensiva,
UTI, com suporte ventilatório para a manutenção da vida.
– É um caso muito grave e faremos todo o
possível para que ele se recupere. Contamos com a força de sua juventude para
que reaja aos medicamentos. Afirmou o médico.
O pai ficou paralisado, não poderia
perder o filho para o veneno das pragas. Então, concordou com a cabeça, sua voz
não saia, estava com um nó na garganta; sentia náuseas intensas.
- Alceu precisa ficar em observação
constante. Vou deixa-lo ver o seu filho e depois peço que se retire, pois, ali
ninguém pode permanecer ou só vai atrapalhar. Concluiu o médico.
O avô e o irmão, que ouviram tudo, ficaram
imóveis vendo o pai seguir o médico.
- Como isso foi acontecer? Não
pensamos nessa possibilidade e estava bem em frente aos nossos olhos; somos
culpados por essa desgraça. Afirmou o avô com lágrimas nos olhos.
Ele já ouvira falar de casos
fatais de intoxicação por agrotóxicos. Havia pouco conhecimento e quase nenhuma
precaução com a saúde dos agricultores, naquela região. Muitos já tiveram
agravos à saúde por causa do uso indevido dos venenos contra pragas.
Quirino se aproximou do filho e
este parecia dormir, enquanto a máquina respirava por ele. Alceu estava pálido
e desfigurado. O coração do pai sangrou de dor e sua alma gemeu naquele momento.
Os três homens voltaram para
casa, estavam desolados. O pior é que tinham que levar a notícia para as
mulheres, que aguardavam aflitas. Souberam do fato ocorrido pelo ajudante do
sítio, quando foi telefonar.
Os homens sabiam que precisavam ter
cuidado ou elas poderiam passar mal. No entanto, as fisionomias deles deixavam
clara a situação de Alceu. Ao vê-los chegar sem o filho, a mãe começou a chorar
abraçada a avó e as irmãs se juntaram cabisbaixas. Feridas no amor familiar, começaram
a rezar, nada mais poderiam fazer naquele momento.
Quirino
não tinha mais sossego e não conseguia trabalhar; ia ao hospital todos os dias,
juntamente com sua esposa, para ver o filho. Os dias passavam e não havia novidades,
o paciente permanecia inconsciente. Os médicos diziam que o rapaz mantinha o
quadro, mas nunca acordava e isso fez a família tomar uma decisão.
Venderiam o sítio e se mudariam para a
cidade, precisavam ficar perto de Alceu. Estavam desgostosos com o acidente
sofrido e o sítio já não interessava mais. Em vinte dias fizeram uma troca e
adquiriram uma casa com uma mercearia, na cidade onde estava Alceu.
– Vamos aguardar que Alceu volte a vida, aqui
perto dele. Disse o pai tristonho ao chegar na nova casa.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa