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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

"QUE A FELICIDADE NÃO DEPENDA DO TEMPO, NEM DA PAISAGEM, NEM DA SORTE, NEM DO DINHEIRO. QUE ELA POSSA VIR COM TODA A SIMPLICIDADE, DE DENTRO PARA FORA, DE CADA UM PARA TODOS". CARLOS DRUMOND DE ANDRADE

DOR DA ALMA

CAPÍTULO TRÊS
Quirino foi correndo pegar o velho caminhão e se dirigiu o mais próximo possível do laranjal. Em seguida, os três homens carregaram o rapaz, que estava inconsciente, até a carroceria do veículo; depois voaram para o Pronto Socorro do hospital da cidade. O avô, que pela vivência tinha algum conhecimento, foi amparando a cabeça e protegendo-a, enquanto Alceu se debatia involuntariamente.

André pediu ao ajudante que telefonasse, avisando o hospital que estavam a caminho do Pronto Socorro, com um rapaz convulsionando. Era uma suspeita de intoxicação por agrotóxicos, alertara o avô, que ao longo da vida, tivera notícias de casos parecidos.

Foram recebidos na porta da emergência, já estavam esperando o paciente. Os enfermeiros seguiram levando o rapaz na maca, em direção à sala de urgência; não havia tempo a perder. Depois de duas longas horas de aflição, o médico chamou Quirino para uma conversa. Disse que o paciente estava na Unidade de terapia intensiva, UTI, com suporte ventilatório para a manutenção da vida.

 – É um caso muito grave e faremos todo o possível para que ele se recupere. Contamos com a força de sua juventude para que reaja aos medicamentos. Afirmou o médico.

 O pai ficou paralisado, não poderia perder o filho para o veneno das pragas. Então, concordou com a cabeça, sua voz não saia, estava com um nó na garganta; sentia náuseas intensas.

    - Alceu precisa ficar em observação constante. Vou deixa-lo ver o seu filho e depois peço que se retire, pois, ali ninguém pode permanecer ou só vai atrapalhar. Concluiu o médico.

   O avô e o irmão, que ouviram tudo, ficaram imóveis vendo o pai seguir o médico.

  - Como isso foi acontecer? Não pensamos nessa possibilidade e estava bem em frente aos nossos olhos; somos culpados por essa desgraça. Afirmou o avô com lágrimas nos olhos.

   Ele já ouvira falar de casos fatais de intoxicação por agrotóxicos. Havia pouco conhecimento e quase nenhuma precaução com a saúde dos agricultores, naquela região. Muitos já tiveram agravos à saúde por causa do uso indevido dos venenos contra pragas.

    Quirino se aproximou do filho e este parecia dormir, enquanto a máquina respirava por ele. Alceu estava pálido e desfigurado. O coração do pai sangrou de dor e sua alma gemeu naquele momento.

     Os três homens voltaram para casa, estavam desolados. O pior é que tinham que levar a notícia para as mulheres, que aguardavam aflitas. Souberam do fato ocorrido pelo ajudante do sítio, quando foi telefonar.

   Os homens sabiam que precisavam ter cuidado ou elas poderiam passar mal. No entanto, as fisionomias deles deixavam clara a situação de Alceu. Ao vê-los chegar sem o filho, a mãe começou a chorar abraçada a avó e as irmãs se juntaram cabisbaixas. Feridas no amor familiar, começaram a rezar, nada mais poderiam fazer naquele momento.

Quirino não tinha mais sossego e não conseguia trabalhar; ia ao hospital todos os dias, juntamente com sua esposa, para ver o filho. Os dias passavam e não havia novidades, o paciente permanecia inconsciente. Os médicos diziam que o rapaz mantinha o quadro, mas nunca acordava e isso fez a família tomar uma decisão.  

     Venderiam o sítio e se mudariam para a cidade, precisavam ficar perto de Alceu. Estavam desgostosos com o acidente sofrido e o sítio já não interessava mais. Em vinte dias fizeram uma troca e adquiriram uma casa com uma mercearia, na cidade onde estava Alceu.

 – Vamos aguardar que Alceu volte a vida, aqui perto dele. Disse o pai tristonho ao chegar na nova casa.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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