COISAS DO CORAÇÃO
CAPÍTULO QUATRO
A tourada foi iniciada com a
apresentação dos cavaleiros, que demonstraram algumas habilidades de seus
animais. Conseguiram arrancar aplausos da plateia, que se mostrava receptiva a
todas as apresentações. Eram rodeios para angariar fundos para uma boa causa e
a cada dia aumentavam os voluntários. A notícia dos eventos havia corrido por
toda a região e as apresentações tinham plateias garantidas e lotação completa.
Raquel
entrou com seu pai e irmãos e ficou contida na arquibancada, poderia somente
aplaudir e se comportar como uma moça de família, alertou seu pai antes de
entrarem. Era filha única com mais três irmãos, que a vigiavam o tempo todo;
não poderia se manifestar. Ela já estava abalada por ter visto a loira segurando
o braço de Manolo, sentia-se rejeitada e acuada.
No
entanto, ela queria gritar o nome do objeto de seu amor “Manolo”, mas, depois
aguentaria as consequências; não poderia mais frequentar o local, ela sabia
disso. Os dois homens vestidos de palhaços e dentro de grandes sacos de palhas
de milho ficavam circulando dentro da arena; tinham o intuito de proteger o
toureiro distraindo o touro e brincavam com a platéia tirando aplausos.
O espetáculo era alegre e festivo com músicas
sertanejas tocando o tempo todo. Mas, naquele dia houve a apresentação de uma
dupla caipira famosa e as pessoas se acotovelaram para poder entrar; não havia
nenhum lugar vago, nem mesmo em pé.
Raquel
ficou espremida entre o pai e os irmãos e quando Manolo entrou na arena ela
tremeu, queria um olhar, um aceno, um sorriso para se sentir no paraíso. Ele
acenou e cumprimentou todos os presentes e ela ficou embevecida ao vê-lo altivo
em sua roupa verde segurando a capa vermelha.
O
touro era o mais temido da região.
-
Daria trabalho, Manolo teria que mostrar suas habilidades, pois, aquele animal já
havia ferido outro toureiro. Dizia o dono da fera.
Quando
o touro entrou bufando, a menina cobriu os olhos com as mãos. Não queria ver o
touro atacar o seu amor. Foram momentos de muita expectativa e todos gritavam
olé a cada investida do animal. De repente o animal se desvencilhou da capa e
atingiu Manolo, que caiu ao chão. Houve um alvoroço no recinto e os dois homens
dos sacos correram para acudir o toureiro. Enquanto o touro era contido o
toureiro fora socorrido e conduzido ao Hospital.
Manolo
havia tomado uma chifrada no braço direito, onde o sangue escorria, deixando
parte do osso exposto. Um ferimento grave, dissera o médico que o atendera.
Ficaria internado nos próximos dias e dificilmente voltaria às touradas.
Raquel
saiu de cabeça baixa, nada poderia dizer. A menina teria que curtir sua dor
sozinha; seu coração estava sangrando. Seu primeiro amor parecia não ter futuro,
fora apenas uma ilusão de menina, mas doeu muito.
Ela ficaria rezando para ele se restabelecer;
queria muito vê-lo bem. Raquel ficaria esperando que um dia ele aparecesse por
ali, porque ele fora responsável por despertar seu coração, que agora sofria
por amor.
Um texto de Eva Ibrahim