CAPITULO
DEZ
Os dois homens estavam muito
cansados e acabaram dormindo dentro da cabine do caminhão, um recostado no
outro. Tiveram muitos pesadelos, Alceu pensava em Elisa e os filhos. Luís previa
sua vida destruída. Sua esposa não admitiria ele passar a noite fora; eram
recém-casados.
Quando a luz do dia
bateu forte nos olhos, ambos acordaram. Sobressaltados, desceram do caminhão para ver onde
estavam, a noite fora terrível. Não havia muita coisa por ali, apenas mato alto
e algumas árvores mais distante.
Deram cerca de dez passos entre o
capinzal e a estrada que tanto procuraram, estava bem ali. Alceu suspirou e
perguntou a Luís:
- Cadê a encruzilhada? Não vejo nada além
da estrada pela qual viemos.
Luís, que era mais jovem, não
entendia nada de coisas estranhas e parecia muito assustado, fez uma cara de espanto. Em seguida, diante da pergunta
de Alceu ele conseguiu balbuciar:
- Vamos embora daqui por favor, a
minha mulher vai me matar.
Alceu concordou, mas lembrou-se da
pane no motor e foi tentar ligar o veículo. Teriam que conseguir uma carona,
pois o caminhão estava com a bateria arriada. É o que ele supunha, depois que o
veículo parou de funcionar repentinamente.
Faria uma última tentativa, em
seguida inseriu a chave no contato e girou, então, ficou surpreso ao ouvir
o ronco do motor. O veículo estava perfeito, o ronco era suave; parecia música
aos ouvidos de Alceu.
– Meu Deus, isso foi um castigo,
porque trabalhamos no dia dedicado à reflexão e morte de Nosso Senhor Jesus
Cristo. A sexta-feira santa deve ser respeitada, minha avó sempre dizia isso.
Vou à Igreja, mais tarde, me confessar ao padre, isso tudo foi forte demais. O
padre deve saber como podemos ser perdoados.
Chegaram, esbaforidos, em frente ao
supermercado e o Sol já tomava conta de tudo. Com o barulho do caminhão as duas
mulheres apareceram; estavam muito preocupadas, e logo perguntaram:
- Onde vocês estavam até essa
hora? Foram desfrutar de orgia na noite da sexta-feira santa? São dois
descarados, não respeitam nada, nem mesmo Deus.
As duas mulheres, feridas em seu orgulho, os
ofenderam aos gritos. No entanto, Elisa, que conhecia os problemas de Alceu,
baixou a voz e perguntou:
- Me conta o que houve, vocês me
parecem assustados.
Os dois casais entraram na casa de
Alceu, os homens precisavam tomar um café quente. Com os ânimos mais calmos, começaram a contar o ocorrido.
Célia, a mulher de Luís, se
aproximou do marido e se aconchegou em seu peito, estava com medo, queria ir
para sua casa. Alceu e Elisa ficaram conversando por um bom tempo sobre o que significava
tudo aquilo.
- Existe um assédio sobre mim, por
parte do mundo espiritual, que de tempos em tempos se intensifica, não sei como
agir. Estou confuso, vou procurar o padre para ouvir sua opinião.
- Eu gosto do centro espírita, mas
quero ouvir o padre também. Alceu ficou aliviado ao dizer tudo o que sentia,
para sua esposa. Queria que ela o acompanhasse à igreja.
- Sim meu amor, vamos procurar
o seu caminho; estarei sempre junto de você. Respondeu Elisa. Em seguida, a
mulher o abraçou, sentia pena do marido; era um bom homem.
O padre os acolheu e entre
uma explicação e outra, deu sua bênção ao casal. Aquela era a casa de Deus e
ali seriam sempre bem-vindos. Quanto ao pensamento de que fora um castigo de
Deus os acontecimentos da noite anterior. O padre disse:
– Deus não é vingativo, Deus é amor
e certamente o estava protegendo das forças malignas. Existe muita coisa entre
o céu e a terra, que desconhecemos. Voltem quando quiserem para conversarmos.
O casal saiu dali mais calmo,
aquela era uma casa de paz. Alceu precisava de sossego, vivia sempre na
expectativa de algum acontecimento inexplicável. Foram para casa, mas havia um
problema para ser resolvido, no entanto, não sabiam por onde começar.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa