COISAS DO CORAÇÃO
CAPÍTULO
SETE
Olívia estava eufórica, fizera muitos
planos para ela e o João Paulo; estava apaixonada como nunca estivera. Ela
vivia a “idade da loba” com ousadia e queria muito viver aquele amor tardio, porém,
intenso. Sua vida que antes era vazia, agora estava cheia de emoções contidas.
Bastava deitar-se e fechar os olhos que se transportava para os braços de João
Paulo e como uma menina fazia planos para os dois. Seu universo era aquele
homem, que chegara como um Deus, ressuscitando o que havia de mais bonito
dentro dela.
Seus
filhos perguntaram se havia acontecido alguma coisa diferente, pois ela andava
estranha, ausente e sempre cantarolando. Parecia que não se importava mais com
eles e nem com a bagunça que faziam. Olívia sorriu e negou que estivesse
diferente, apenas se cansara de ser chata com a família. Por um momento
sentiu-se envergonhada. Seu coração disparou e ela sentiu um calor subir pelo
seu corpo.
- Como conseguia ser tão dissimulada diante de
seus próprios filhos? Surpreendeu-se a
mulher.
O
amor a transformara para o bem e para o mal, queria a felicidade para o mundo
inteiro e aprendera a mentir, dissimular e planejar traições. Não ia mais à
Igreja, pois, se sentia impura com tantos pensamentos de amor fora do casamento.
Não namorava o marido fazia um bom tempo e ele não se importava, também
carregava traições nas costas; era um caminhoneiro, que estava sempre viajando.
Entretanto, Antônio confiava cegamente na mulher, pensava que ela, realmente estava doente e indisposta; nunca poderia supor que Olívia fosse capaz de
traí-lo. Sua esposa era caseira, amorosa e confiável, pensava Antônio. Marcaria uma
consulta para leva-la ao médico, poderia ser coisa séria. Concluiu seu
pensamento com uma ruga de preocupação na testa.
No entanto, sua
esposa estava planejando uma noite de amor com outro homem e na noite de Natal.
Antônio jamais poderia imaginar que ganharia alguns galhos na cabeça, ainda
naquela noite. Olívia prepararia a ceia mais cedo, alegando estar indisposta,
pois, para todos estava doente. Durante todo o dia iria incentivar o marido
para tomar a bebida que ele mais gostava, muita cerveja. E, depois do jantar,
serviria vinho. Essa mistura faria Antônio cair no sono e os filhos iriam
comemorar a noite de Natal com os amigos até o amanhecer. Ela sabia do efeito
das bebidas porque em outras ocasiões, com essa mistura o marido dormira e
roncara como um porco; no dia seguinte não se lembrava de nada. Esperaria ele
dormir e iria terminar a noite na casa de D. Estela.
João Paulo lhe telefonou avisando que
já estava em sua casa e ela disse que o veria à noite, que a esperasse. Olívia
parecia outra pessoa, era uma estrategista nata, só agora percebera isso. Com
seu amor tão perto, ela parecia enfeitiçada, não parava de pensar no que
poderia acontecer naquela noite. Para Olívia aquele dia representava um marco
em sua vida, estaria se jogando em uma aventura que não tinha futuro, porém,
inevitável. Coisas do coração, que disparava só em pensar.
Olívia
colocara cervejas na mesa durante o almoço e deixou a geladeira cheia de
garrafas geladas. Assim, o marido não conseguia resistir, tomava uma após a
outra e quando escureceu Antônio já estava bêbado; mal conseguia ficar em pé.
As vinte e duas horas a mulher serviu a ceia e o marido tomou um cálice de
vinho, depois disse que iria descansar um pouco. Seus filhos saíram para a casa
de amigos e ela ficou sozinha sentada no sofá, ouvindo o ronco do marido.
Antônio estava embriagado e só acordaria no dia seguinte, por isso ela foi tomar
banho, queria ficar bonita e cheirosa para o grande encontro de sua vida.
Às onze horas da noite de Natal ela adentrou
a porta da casa de João Paulo, que a estava esperando. Olívia levava uma
travessa com comida para ele e D. Estela, que já estava dormindo. A
mulher arrumou a mesa e sentou-se diante do seu amor de perdição. Enquanto
comiam seus olhares não se desgrudavam e embaixo da mesa, um pé esfregava no pé
do outro e vice versa, despertando muitas emoções. Era uma noite mágica, que
estava apenas começando. A noite, ainda, era apenas uma .esperança.
Um
texto de Eva Ibrahim
Continua
na próxima semana.