MIRE EM DIREÇÃO À
LUZ
CAPÍTULO
OITO
Fernando foi
levado na maca para ser submetido aos exames e Celina saiu do quarto, precisava
respirar ar puro. Aquele cheiro de Hospital a deixava sufocada; ela não se
lembrava de algum dia ter sentido aquele cheiro forte de éter misturado com
iodo.
Esses pensamentos
a deixavam deprimida; sentiu náuseas e até cambaleou. Depois andou algumas
quadras e sentou-se em um banco da praça da Igreja Matriz. Seu coração estava
apertado pela situação inusitada que estava vivendo.
– Será que Deus a
estaria castigando ou testando? Não se lembrava de ter feito mal a alguém, ou
será que deixara de fazer o bem quando estava dentro de suas possibilidades. E,
por isso o castigo viera para tirar sua felicidade?
Com tantos
pensamentos negativos ela resolveu entrar na Igreja para conversar com o Padre.
Ele poderia aconselhá-la melhor, afinal era um homem religioso e vivia mais
perto de Deus, sua mãe sempre dizia isso. Havia muita paz naquele lugar; alguns
pássaros davam voos rasantes de um lado ao outro dentro da casa de Deus. Em seguida, pousavam nos
detalhes dos afrescos nas paredes, depois entravam nos vãos dos telhados.
- Nossa! Pensou
Celina, eles devem estar fazendo ninhos e chocando seus ovinhos ali. No entanto, apesar da sujeira, Deus deve gostar, pois, foi ele quem criou essas
criaturinhas e todas as outras também. Seu coração se acalmara, aquele
lugar parecia mágico, queria ficar ali para sempre. Então, ela ouviu vozes na
Sacristia e resolveu ir até lá.
O pároco estava
sentado em uma mesa mexendo em alguns papéis; estava compenetrado. Seu
assistente foi saindo enquanto ela pedia licença para falar com ele. O velho
padre, de bochechas rosadas, levantou-se e lhe deu a mão, depois indicou a
cadeira para que ela se sentasse. E, com um largo sorriso perguntou o que a
afligia e a moça começou a chorar.
Ele deu a volta
na mesa, apanhou um copo com água e lhe ofereceu. Entre soluços ela sorveu a
água, o pároco puxou a cadeira e olhando nos olhos da moça pediu que lhe
contasse sobre sua aflição.
- Compartilhar as
tormentas alivia a alma, disse o velho com olhar de compaixão.
Celina parecia uma
criança contando sua história aquele homem, que lhe inspirava confiança. Ele
ouvia com atenção e as vezes balançava a cabeça, demonstrando descontentamento
com a situação da moça recém-casada. E, para finalizar ela disse que o Deus
dele a estava castigando, sem que ela soubesse o motivo.
Então, o Padre
pegou suas mãos e com muito carinho lhe explicou que o Deus dele era de todos.
Um Deus de amor e não de vingança e que jamais ele a castigaria. Um ser divino
que a amava e ao Fernando também. Ele a levantou, depois a conduziu até o altar
e juntos se ajoelharam para pedir pela saúde do marido dela.
Fizeram uma oração
que mexeu com o coração da moça, o Padre sabia como se dirigir ao Santo Pai,
pensou Celina ao levantar-se.
- Mire em direção à
luz e siga em frente, sem lamentações minha filha, disse o velho pároco ao se
despedir da moça.
Celina saiu dali em paz e seguiu para o Hospital; precisava saber
como estava seu marido, trazia as esperanças renovadas.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.