O TEMPO
FECHOU
CAPÍTULO OITO
Alcir estava visivelmente
alterado, Sila ficou espantada ao ver seu marido tão exaltado. Ele fechou a
cara e disse que não gostava de vê-la rindo alto como se fosse uma mulher
qualquer. Era sua esposa e deveria se comportar, ou ele a impediria de
frequentar as aulas. Ela retrucou dizendo que ninguém a tiraria da escola e se
tivesse que escolher, não seria ele o escolhido. Pronto, o tempo fechou; os dois
estavam emburrados. Ela entrou no automóvel e ele arrancou cantando pneus. Não
se falaram mais depois disso.
À noite, enquanto Sila
dormia, Alcir andava pela casa, estava inquieto. Não poderia deixa-la sair sem
fazer as pazes, ele a amava e teria que ter paciência ou a perderia. Sila
ficara furiosa com o ataque de ciúmes do marido. Depois de uma noite de
insônia, Alcir resolveu arriscar e abraçou sua mulher antes dela se levantar;
ela se aconchegou em seus braços. O marido ficou surpreso, pensou que seria repelido.
Ela o tratou com
naturalidade, depois disse que percebeu que ele havia bebido, por isso não
levaria em conta a discussão da noite anterior. Porém, esperava que ele não
bebesse mais, pois, ninguém aguenta bebedeira, nem ela.
A partir daquele dia ele
bebia com os amigos e depois comia alguma coisa, lavava o rosto e escovava os
dentes para ela não perceber, então ia espera-la. Ele se continha para não
magoá-la, detestava aquela escola e os colegas de curso de Sila.
E, quando ela começou a
falar em fazer trabalhos de escola, nas casas dos colegas, ele surtou. Ela não
iria participar de trabalho nenhum; reunião de homens e mulheres não poderia
ser coisa boa. Se não houvesse outro jeito de fazer trabalhos, então, eles
teriam que vir à sua casa. Ele ficaria vigiando o tempo todo, pensou o rapaz
desconfiado.
Foi um verdadeiro fiasco,
Alcir ficou sentado ao lado de Sila, durante a reunião. O grupo, que era
composto de três mulheres e dois rapazes, não conseguiu se entrosar e acabaram
por transferir a reunião para outro dia. Naquela casa não voltariam mais;
aquele marido era um chato, só atrapalhava a reunião, que não deu em nada,
decidiram os integrantes do grupo.
A cada reunião marcada para
realizar os trabalhos, Alcir arrumava briga com Sila, tinha ciúmes de Celso, um
dos rapazes do grupo e o mais esperto. Entretanto, ele ficava calado desde que ela
o ameaçou dizendo que voltaria para a casa dos pais, se ele a impedisse de
estudar. Ele recuou e enquanto ela estudava ele ficava no bar bebendo e jogando.
Certa noite ele se esqueceu de busca-la e apareceu em sua casa de madrugada,
estava muito bêbado. Mais uma vez houve discussão, foram três dias sem
conversar; havia mágoa entre eles.
Em oito meses de casamento a
situação só piorava, havia muitos desentendimentos. Alcir estava enturmado com
gente ligada às drogas. O rapaz ficava no bar e foi sendo conquistado pelas
piores coisas, bebida, jogos e drogas. Sila andava descontente com o rumo que
as coisas estavam tomando. O marido não parava mais em casa, vivia acompanhado
dos novos amigos. O dinheiro não dava para as despesas da casa, simplesmente
desaparecia ou estava sendo desviado para coisas erradas. Sila estava
desconfiada de que, o marido jogava partidas de carteado valendo dinheiro.
Certa noite ele chegou
bastante alterado, parecia drogado e Sila o repreendeu, então, ele avançou e
lhe deu um empurrão. A moça caiu e bateu com a cabeça na quina da porta. Em
seguida ela se levantou e levou a mão à cabeça, que latejava como se ali
tivesse um coração. Olhou para sua mão que estava suja de sangue. Depois a moça
saiu correndo para a casa de seus pais. Alcir se jogou no sofá, estava
entorpecido; precisava descansar.
Durante a madrugada, ele
acordou assustado. Tinha vagas lembranças do ocorrido na noite anterior.
Procurou por Sila, que não estava. Lembrou-se da queda e da pancada na porta e,
mais nada.
- Será que ela se machucou e a levaram ao
Hospital? Onde estaria sua mulher?
Pensou e se desesperou,
precisava saber e ligou para a casa da sogra.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.