ENFIM
SÓS
CAPÍTULO
SEIS
Fernando dormia um sono forçado, deitado
de barriga para cima e roncando com a boca aberta.
- Que
desilusão, pensava a recém-casada.
Ele estava tomando uma porção de medicamentos e alguns deles induziam ao
sono. No começo ele dormiria bastante, porém, quando o seu corpo se habituasse
à medicação, ele ficaria bem, dissera o enfermeiro à Celina.
A moça abriu todos os presentes e leu
os cartões, depois sorriu por receber tanto carinho dos parentes e amigos.
Entretanto, estava só naquela sala ouvindo o ronco do marido, que vinha do
quarto. Então, duas lágrimas rolaram pelo seu rosto, indo morrer em sua boca,
onde ficou um gosto salgado.
- Salgado e azedo, igualzinho ao seu
casamento, pensou Celina, limpando a boca com o dorso da mão direita.
Ela não sabia como agir, estava muito
assustada; queria estar solteira e voltar para a casa de seus pais. Naquele
momento a campainha da porta tocou e ela tratou de enxugar os olhos para
atender à porta. Era sua sogra, que fora ver como o filho estava, uma vez que
no Hospital lhe disseram que Fernando tivera alta.
A moça recebeu a sogra com alegria,
precisava de companhia para se acalmar. A mãe de Fernando trouxera comida para
o casal, que deveria estar desfrutando sua lua de mel, portanto, ela deduziu
que não teriam nada em casa. O rapaz acordou e parecia estar bem, depois tomou
banho e jantou com as duas mulheres.
A sogra, mais tranquila, foi para
sua casa e o novo casal se abraçou e depois de um longo beijo Fernando
sussurrou no ouvido de Celina: Enfim sós. Foram para o quarto e se deitaram na
cama, ambos estavam preocupados com o mesmo problema; o desempenho sexual de
Fernando. Ficaram deitados se tocando e de repente o rapaz lembrou-se que
estava na hora de seu remédio e levantou-se para toma-lo.
Um elo se partiu, a moça estava
desencantada. Será que teria que conviver com o fantasma da doença e a
interferência dos medicamentos em momentos íntimos do casal. Fernando voltou
para a cama e Celina levantou-se indo para a cozinha. Estava chateada, não dava
para ser feliz com tantos pensamentos ruins rondando sua cabeça.
Tomou um suco, foi ao banheiro e
quando sentiu que estava mais calma, voltou ao quarto. E, para sua surpresa, seu
marido já estava dormindo. A sua noite de núpcias terminara antes de começar;
deitou-se ao lado do marido e chorou baixinho, até pegar no sono.
O Sol clareou o quarto e Celina
acordou disposta; queria animar o marido e recomeçar de onde haviam parado, no
dia do casamento. Não deixaria mais nada, nem ninguém estragar seu sonho de
amor.
Um texto de Eva Ibrahim