O DRAMA
CAPÍTULO QUATRO
Valmir gaguejou, seus olhos
ficaram cheios de lágrimas; estava muito preocupado. O homem parecia assustado,
tinha a voz embargada; entretanto, mesmo emocionado conseguiu falar:
- Aconteceu uma desgraça; o Vitório
foi dar ré no caminhão para ir para casa e atingiu um menino de 11 anos que
estava aprendendo a andar com sua bicicleta nova, que ganhara de presente de
Natal.
Alda ficou pálida e perguntou se
o menino estava muito ferido. Valmir gaguejou e baixando o olhar disse:
- Morreu na hora, debaixo da roda
do caminhão. Ainda está lá aguardando a perícia. Há uma multidão revoltada no
local e a polícia de prontidão.
- E onde está o Vitório?
Perguntou a mulher receosa.
- Juntou muita gente no local do
acidente e quase lincharam o meu irmão. Então, a polícia chegou e conseguiu
tirá-lo das mãos da população revoltada. Ele tomou alguns socos e pontapés. Está
com um olho roxo e algumas escoriações, aparentemente nada muito grave. Em
seguida, foi levado para a delegacia escoltado pela polícia, eu não pude fazer
nada. Em meio ao tumulto havia algumas pessoas dizendo que iriam pegar os filhos
do Vitório para se vingar, por isso estamos aqui.
- Vou leva-los para a casa de
minha mãe até os ânimos se acalmarem. Depois veremos o que fazer, concluiu o
rapaz.
Alda começou a chorar. E, entre
soluços ela se lamentava:
- Pobre mãe, que tristeza perder um
filho no dia de Natal! O que será dessa família agora?
E, também se preocupava com o
marido.
– Com certeza ele não fizera de
propósito, deve ter sido uma fatalidade. Era um homem grosseiro e estúpido com
a família, no entanto, jamais atropelaria uma criança. Vitório, no início do
casamento, fora um marido amoroso com a mulher e os filhos; depois começou a
beber e se tornou violento.
O cunhado explicou que o menino
estava aprendendo a andar de bicicleta e caiu justamente quando Vitório
afastava o veículo, sendo esmagado pela roda do caminhão; havia testemunhas.
Na delegacia Vitório contou ao
delegado sua versão do fato. Alegou que só percebeu que havia algo errado
quando começaram a gritar. Então, engatou a primeira e tirou o caminhão do que
ele pensou ser um cachorro. Desceu do veículo e foi tentar prestar socorro. No
entanto, quando viu o menino ficou desesperado com a cena e seu primeiro impulso
foi fugir dali. Deu alguns passos e foi seguro pelos populares, que queriam
mata-lo. E, também havia uma agravante, ele estava cheirando a bebida. Todos o
xingavam de “bêbado”.
- Teriam que ficar longe do local,
até a situação se acalmar, enfatizou Valmir.
Alda concordou, ficariam na casa da sogra, que morava na cidade vizinha,
esperando notícias do marido. Valmir voltaria para ajudar o irmão e tentar
relaxar a prisão contratando um advogado para isso. Ele sabia que não seria
fácil, pois, Vitório havia sido preso em flagrante.
- Talvez fosse mais seguro para Vitório ficar
preso na delegacia; a população exaltada queria vingança e seria muito difícil
conter o povo. Disse o tio abraçando
as crianças, que choravam assustadas.
Depois, todos tomaram assento no veículo e
partiram em direção à casa da avó. Ana não gostava do pai, porém, não queria
vê-lo preso. Sentia-se culpada por ter desejado mal a ele. A mãe e a menina
começaram a rezar em voz alta.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.