AS FERIDAS DA ALMA!
CAPÍTULO NOVE
Do outro da linha telefônica
somente o tu, tu se fazia ouvir, o que deixava Alcir furioso, pois tinha vagas
lembranças da besteira que fizera. Ele percebeu que havia sangue na cabeça de
Sila, porém, estava tão “chapado”, que não conseguiu ajuda-la a se levantar, antes
disso ele caiu no sofá e apagou. Alcir havia misturado bebida com cocaína,
estava alucinado e perdera a consciência, mergulhando num sono profundo. Acordou assustado, pegou o telefone e novamente tentou comunicação com a casa da sogra.
O dia estava amanhecendo e
ele não conseguia efetuar a ligação. Das duas uma, ou ela
não queria atende-lo ou estavam no Hospital.
-Como saber para onde levaram sua mulher? Estava
muito preocupado, não queria perder seu amor.
Depois que amanheceu ele
pegou a moto que havia ganhado no jogo e saiu para ir à casa da sogra.
Encontrou a casa fechada e depois de haver tocado a campainha por diversas
vezes, chegou à conclusão de que não havia ninguém ali. Então, sentou-se na
sarjeta e ficou esperando que alguém aparecesse; estava decidido a pedir perdão
à Sila e leva-la para casa novamente.
Já passava das dez horas
quando o automóvel do sogro apareceu na esquina. Alcir deu um pulo, eram eles
que chegavam do Hospital, onde a moça ficara em observação com três pontos na
cabeça. O sogro desceu dizendo para Alcir ficar longe de sua filha ou ele chamaria
a polícia.
Sila saiu do veículo e nem
olhou para ele. Ainda bem que os cunhados não se encontravam ali, porque Alcir
poderia ser agredido por eles. A sogra saiu blasfemando que ele era um sem
vergonha e desocupado, pois, até o emprego já havia perdido. Que ficasse longe
deles, sua filha não voltaria àquela casa.
Alcir não conseguiu abrir a
boca, estavam todos contra ele e com razão. Então, ficou algum tempo parado ali
na frente da casa e depois resolveu ir se queixar para sua mãe; ela poderia
ajuda-lo. Ver o amor de sua vida passar e não falar com ele o deixou abalado,
teria que reverter à situação ou morreria de remorso.
A
mãe de Alcir, dona Rosa, ligou para a casa dos pais de Sila, queria saber da
nora. Foi mal atendida e ainda teve que ouvir desaforos, pois, seu filho estava
demonstrando ser um canalha, disse a mãe da moça do outro lado do telefone.
Assustada a mulher sentou-se no sofá e perguntou ao filho o que havia
acontecido. Ele desconversou e saiu rapidamente, estava envergonhado e foi
parar no bar; precisava afogar suas mágoas. Saiu dali quando o estabelecimento
fechou.
Sila
foi à sua casa quando o marido não estava, pegou algumas roupas e objetos
pessoais; pegaria o restante depois. Os dias corriam lentamente para Alcir que
passava a maior parte do tempo no bar com seus amigos e a noite ia esperar Sila
para tentar reatar seu casamento. Porém, a moça estava cada dia mais distante
dele e não queria conversar. Ela queria a separação, pois Alcir andava drogado
e em más companhias.
Quando o advogado de Sila procurou Alcir para tratar da
separação, o homem quase apanhou.
–Nunca daria o
divórcio a sua esposa, só a morte o separaria dela, enfatizou o rapaz.
O causídico saiu assustado e
pediu que a moça tomasse cuidado; o marido parecia perigoso, além de alucinado.
Alcir ficava, todas as noites, esperando sua esposa chegar da faculdade e a
seguia até a casa dos sogros. Sila sentia medo dele e não queria conversar.
Uma pessoa conhecida contou
para Sila que seu marido estava vendendo os eletrodomésticos da casa deles. A
moça ficou furiosa, aqueles aparelhos também lhe pertenciam e na casa ainda
havia objetos pessoais dela. Ela teria que retirar o restante de suas coisas
que haviam ficado na casa ou seriam vendidos. Teria que ir até lá quando Alcir estivesse
ausente.
Sila não disse nada a seus
pais para não aborrecê-los, teria que resolver aquela situação sozinha. Pensava
que depois de formada iria morar na capital, na casa de uma tia, assim ficaria
longe de Alcir e poderia reconstruir sua vida.
A tarde, quando saiu do serviço ela
pensou que seria uma boa hora para buscar suas coisas, o marido, provavelmente
estava no bar se embebedando. Entretanto seu colega de classe, o Celso, a viu
na rua e parou para conversarem. Nesse momento Alcir estava passando de moto e
viu sua mulher conversando com o colega de escola e jogou a moto em cima do
casal, que pulou para os lados para não ser atingido.
Houve uma aglomeração de
pessoas ali no local e Alcir tratou de fugir, deixando Sila assustada. Ninguém
se machucou, porém, ficou claro que o marido não estava para brincadeiras; se
tornara um homem violento. Mas, o pior é que a partir desse dia ele passou a
andar armado e Sila não sabia de nada. Alcir criara uma armadura no lugar de seu amor, não tinha mais sentimentos; era uma fera ferida.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.