DEUS; CUIDA DE MIM.
CAPÍTULO CINCO.
Letícia não procurou
o médico e nunca disse nada, sobre seu estado gravídico, à ninguém. Curtira os
enjoos da gravidez inicial e as azias costumeiras às gestantes, sem reclamar.
Comia menos para não engordar muito, assim conseguia manter quase o mesmo peso.
Em sua ingenuidade,
achava que poderiam tirar a criança dela ou dá-la ao pai para criar. Em nenhum
momento se preocupou consigo mesma, pensava somente no bebê. Lá no íntimo, ela
tinha certeza de que seria um menino, pois, sempre que pensava nele ou
acariciava sua barriga, a figura de um bebê vestido de azul lhe vinha à mente.
Até já lhe dera o nome de André; era seu filho querido.
A menina sabia que o
bebê seria um presente de Natal, porém, não sabia o dia certo. Letícia juntara
informações ouvidas de sua mãe e outras lidas em revistas femininas, que sua
irmã comprava, e, tirara suas conclusões.
Ela sabia que seu
segredo tinha hora para acabar, então, entrou na Igreja e ajoelhada pediu para
Deus ajuda-la, depois chorou até desabafar. Estava escurecendo quando ela
desceu as escadas da Igreja; estava cabisbaixa, sentia-se aliviada. Agora, Deus
também conhecia seu segredo e ele daria um jeito de André nascer e ficar com
ela; era isso que pedira a ele.
Tantas moças já
tiveram filhos, antes de se casarem, ela não seria a primeira e nem a última;
esse pensamento a acalentava. Porém, quando pensava em seu pai esbravejando e
vindo para seu lado, ela tremia de medo. Ele poderia se virar contra a mãe dela
também; pobre mulher que não sabia de nada. Dora, a mãe tinha desconfiança da
situação, porém, Letícia estava obesa como sempre e não saia de casa, então, a
mãe sossegava. Depois pensava que seus pensamentos eram cruéis para com sua
filha, iria se confessar.
A menina, em suas
noites de angustia, pensava em alguma saída, porém, era difícil, porque o pai
da criança era casado. Letícia tinha uma tia, irmã de sua mãe, de quem gostava
muito, entretanto, se contasse à Nice, todos ficariam sabendo. Na certa ela
tentaria resolver a situação e descobriria o Clésio e a mulher dele também.
Não, não, ela não
queria aquilo, ficaria calada para o bem de todos. Nunca diria quem era o pai
de André, certamente seu pai o mataria e depois iria preso por sua culpa. Em
nenhuma situação ela e o bebê ficariam bem; teria que esperar.
Certa noite ela começou
a vomitar e sentir muitas cólicas, o que a levou a chamar sua mãe e esta pediu
ao pai para leva-la ao Hospital. Chegando lá, um médico sonolento a atendeu e
disse que poderia ser cólica de rim e lhe prescreveu uma medicação para dor.
Ela tomou a medicação e depois foi para casa, estava melhor.
O médico nem se deu
ao trabalho de lhe perguntar se estava grávida, queria se livrar dela logo.
Letícia voltou para casa e todos acreditaram que ela tivera uma cólica de rim.
A dor passou e ela voltou à sua vida normal.
Ainda faltavam dois
meses para o bebê nascer e ela começava a sentir cólicas, que poderiam ser de
trabalho de parto prematuro. Ela usava a cinta modeladora, que a cada dia
ficava mais apertada; o bebê ganhava peso. Letícia procurava não pensar em
nada, acreditava que Deus cuidava dela e do bebê. Quando sentia cólicas tomava
o remédio que o médico lhe dera. Para todos os seus familiares, ela estava com
pedras nos rins. O pai dissera que iria leva-la a um especialista em urologia e
ela se esquivava, dizendo que estava melhor.
Dezembro chegou com
muita chuva e vento e Letícia foi se deitar com algumas dores na região lombar
e no baixo ventre. Já passava da meia
noite, quando ela começou a gritar, as dores estavam insuportáveis.
O pai foi ver o que
estava acontecendo e encontrou a menina pálida de dor, teria que leva-la ao
Hospital. Dora ajudou a filha a entrar no automóvel e viu o veículo partir.
Aquele sentimento de que havia algo errado voltou a tomar conta da mulher, que
começou a orar. Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.