SAUDADES DE VOCÊ
CAPÍTULO CINCO
Marília
sentia uma profunda dor na alma; um sentimento triste e melancólico. A visão de
seu marido na cama do hospital respirando com a ajuda de aparelhos, tinha o
poder de desestabilizá-la emocionalmente. Precisava de ajuda espiritual, isto é,
procurar auxílio dos céus. Saiu de sua casa com duas horas de antecedência do
horário de visitas na UTI.
Seu
destino era a Igreja da Boa Morte, que ficava bem no alto do morro. Uma igreja onde
havia relatos de muitos milagres recebidos e que tinha uma energia poderosa.
Ela era católica, mas poucas vezes ia à missa, punha a culpa no trabalho da
pizzaria. No entanto, sempre fazia suas orações.
Todas as vezes em que esteve na igreja, presenciara pessoas ajoelhadas
em frente a imagem da Virgem Maria. Certamente, pedindo misericórdia para
amenizar suas tragédias, ou simplesmente, fazendo suas orações com devoção e
agradecimento. Aquele desejo de procurar a igreja estava crescendo em seu
coração, desde quando soube do acidente.
Depois
de uma caminhada concentrada no seu intuito, entrou de mansinho na igreja quase
vazia. Era meio da tarde e havia poucas pessoas fazendo suas orações. Aquela
era a casa do pai de todos, Deus, que transmitia paz e esperança para o seu
coração. Olhou para a cruz e intimamente pensou:
-
Pai, eu voltei com o coração em frangalhos, me acolha por favor. Em seguida, baixou o olhar como se estivesse pedindo perdão, por estar ausente durante
tanto tempo.
Marília se ajoelhou no genuflexório diante da imagem da Virgem Maria,
chorosa, implorando por clemência e misericórdia. Ela havia lido em algum
lugar, que nenhum pedido sincero feito a mãe de Jesus, ficaria sem resposta.
Era uma mãe piedosa e estava sempre pronta para atender aos necessitados.
-
Estou aqui para implorar pela recuperação do Fernando, ele é meu marido e
preciso dele para viver. Ela desejava que seu marido se recuperasse sem
sequelas do trauma na cabeça.
Em seguida, baixou
a cabeça e com lágrimas nos olhos fez suas orações. Ficou ali esperando uma luz
para aliviar sua alma triste e abalada. O tempo não importava naquele lugar e,
ela foi se acalmando. Em seu íntimo surgira uma paz cercada de ânimo, que tomou
conta de seu coração; precisava lutar pela recuperação do seu amor. Então, voltou
a realidade com a certeza de que seu amor ficaria bem.
Olhou
no relógio e ficou surpresa, fazia uma hora e meia que estava ali; deveria se
apressar. Beijou a fita azul que descia das mãos da imagem de Maria e se
levantou para ir ao hospital visitar Fernando.
Chegou esbaforida, pois a caminhada foi grande. Adentrou ao hospital e
viu o senhor cuja esposa tivera um derrame. Ele também a viu e cumprimentou com a
cabeça. Então, ela retribuiu acenando discretamente.
– Estamos juntos nessa situação
triste. Pensou com o coração aflito, queria ver Fernando.
Em
seguida, a porta de vidro da UTI foi aberta e cada um, com sua identificação, se
dirigiu ao leito de seu familiar. Marília beijou a testa do marido, que estava
exatamente como o havia deixado no dia anterior, mas, ela estava diferente;
trazia no peito esperanças renovadas. Então, disse baixinho no pé do ouvido do
marido:
- Estou com saudades de você, volta para mim.
E, duas lágrimas rolaram pelo seu rosto, salgando sua boca.
Mais uma
vez, ele não reagiu.
Um texto de
Eva Ibrahim Sousa