A VIDA
NÃO PODE ESPERAR.
A campainha tocou insistentemente
na entrada da emergência do Pronto Atendimento daquela maternidade. A
enfermeira acompanhada de dois técnicos foi atender à porta e num primeiro olhar
nada havia no local. Quando os três iam fechar a porta achando que poderia ter
sido alguma brincadeira de criança, apareceu um rapaz forte e assustado dizendo
que sua mulher estava dando à luz no automóvel.
A
correria começou; a notícia se espalhou rapidamente e os curiosos apareceram de
todos os lados. Era hora de mobilização geral e todos se postaram para acolher
o pequeno ser.
Uma residente acompanhada de dois
internos saiu em busca do veículo, enquanto isso a enfermeira Nora se posicionava no meio da rua para parar o trânsito. Aquela rua era contramão para o veículo
que estava parado em frente à lanchonete da esquina. Era uma distância de cerca
de oitenta metros; muito longe para resgatar a mãe que dava à luz no banco do
automóvel. Com ela estava à sogra, que assustada apenas observava a criança
coroar e empurrar a calcinha da mãe; era a hora de nascer.
Alguém já escreveu que o maior trauma que o
ser humano pode sofrer é na hora do seu nascimento e, aquele certamente era a
confirmação de tal afirmação. Num banco de automóvel apertado a pequena criança
forçava a passagem para a luz do mundo e num jato de sangue e líquido amniótico
mostrou a sua cara.
Nora, a enfermeira, se posicionou no meio da rua e
como se sempre tivesse atuado como guarda de trânsito, fazia movimentos
característicos. Ela estava de luvas e avental, por isso dava mais
credibilidade à situação; com a mão erguida gritava para os motoristas pararem.
A enfermeira provocou um intenso congestionamento de trânsito com sua postura
de defensora das parturientes desamparadas. A profissional de saúde que tem
baixa estatura e é mignon, parecia um gigante na arena dos gladiadores, tamanha
era sua garra ao assumir o propósito de facilitar à chegada do pequeno ser.
O
marido, abobalhado, não conseguia entender que teria que trazer o automóvel na
contramão até à porta do Hospital. Atitude já esperada, pois os homens ficam
paralisados e com cara de espanto, quando se tornam pai, com raras exceções.
Enquanto o caos se instalara no
local, a residente chegou até onde estava o veículo e quando afastaram os
curiosos o bebê chorou. Nasceu no banco do automóvel, no vão da calcinha da mãe
e na presença da avó que quase enfartou com a situação inusitada que
presenciara. Em seguida chegou um técnico de enfermagem com a caixa de parto de
emergência e um cobertor para acolher a pequena criança.
A residente clampeou o umbigo e cortou
o cordão separando mãe e filho; em seguida saiu vitoriosa com a criança nos
braços se dirigindo à sala de emergência do Pronto Atendimento. O nascimento
aconteceu apesar de todas as adversidades. O pai, quando viu a criança nos
braços da médica, voltou ao normal, saindo do torpor acometido e conseguiu
sentar-se ao volante e dirigir o automóvel até a entrada do Hospital, levando a
mãe para os devidos cuidados.
A enfermeira Nora finalmente liberou
o trânsito. As pessoas passavam e sorriam para ela; agira como uma seguidora
fiel de Florence Nightingale. Vitoriosa, adentrou para ver o bebê e cuidar dos
procedimentos rotineiros para recém-nascidos daquela maternidade.
Uma criança do sexo masculino, perfeita
e de aparência saudável foi à conclusão que chegou a residente que a amparou. A
criança foi atendida no berço aquecido pela equipe de Neonatologia. Em seguida foi
liberada para mamar na mãe que estava sendo atendida pelos residentes, que
examinavam a placenta dequitada. Recebidos os cuidados necessários, os dois,
mãe e filho seriam encaminhados ao Centro Obstétrico para uma avaliação mais
cuidadosa. Mais tarde seriam conduzidas para o Alojamento Conjunto, uma vez que
ambos estavam muito bem.
Enquanto a puérpera tentava colocar o
peito para a criança sugar, o pai, perplexo, dizia que pensou que sua mulher
estava exagerando quando disse que chegara a hora do parto. Era o terceiro
filho do casal e viera muito rápido, disse assustado.
Havia muita gente na sala atendendo e
relatando os fatos para concluir a internação da mãe e filho, que felizes tomavam
conhecimento um do outro no contato pele a pele.
Finalmente a paciente foi encaminhada ao
Centro Obstétrico e todos sorriram. Mais uma vez ficava a certeza do dever
cumprido; ficando claro o valor das equipes de saúde que atuam no PA.
A natureza cumpre seu papel onde quer que esteja a mãe, ninguém segura o bebê se chegar a hora de nascer, mesmo que seja no banco de um carro velho.
A natureza cumpre seu papel onde quer que esteja a mãe, ninguém segura o bebê se chegar a hora de nascer, mesmo que seja no banco de um carro velho.
Quando
nasce uma criança, todos sorriem, é sempre uma boa nova. A solidariedade
contagia e as pessoas se tornam cúmplices para colaborar com a chegada de um
novo ser. Um recém-nascido sempre trás consigo uma mensagem de esperança e um
convite á celebração da vida.
Um
texto de Eva Ibrahim