QUE SUFOCO!!!
CAPÍTULO QUATRO
Laura se esquecera da vida, eram lembranças boas de um passado
distante, queria prolongar aquele momento. Em suas recordações, sentia-se
jovem, cheia de vida e estava apaixonada por Luís Carlos, que se tornaria seu
esposo antes do dia terminar; aquele pensamento a deixava excitada. Naquela
noite, todos os mistérios das noites de núpcias seriam revelados.
Era proibido para as moças,
naquela época, perguntarem coisas sobre sexo para a mãe ou outra pessoa da
família. Era um assunto para mulheres casadas, para as solteiras era tabu. As
coisas que a maioria sabia, eram ditas por colegas em conversas furtivas.
Assuntos que foram lidos em revistas proibidas, geralmente dentro de banheiros
e relatados por pessoas de fama duvidosa.
Havia muito medo envolvendo a lua de mel,
muitas histórias eram contadas em rodinhas de vizinhas ao entardecer, como por
exemplo:
- “A filha de um conhecido sitiante se
apaixonou e casou-se com o filho do farmacêutico da pequena vila. Era conhecida
como moça direita e foi entregue ao marido em confiança. No entanto, o dia
seguinte ainda não havia nascido e o rapaz estava na porta do sitiante, para
devolver a moça”.
“Furioso, o noivo esbravejava que a
noiva não era virgem e ele não queria mulher de segunda mão. Enquanto o pai não
sabia o que dizer, a moça chorava copiosamente. O marido, ultrajado, jogou a mala
da noiva nos pés do sitiante e saiu cantando pneu no velho carro de seu pai”.
Estava desfeito o casamento, que seria
anulado e a moça nunca mais arrumaria outro marido. Teria que ficar dentro de
casa ajudando a criar seus sobrinhos. Essa e outras histórias tiravam o sono de
muitas moças, era a desgraça total. Em uma sociedade machista e patriarcal, as
moças se continham por medo de ficarem faladas. Uma ou outra que se perdia, ficava
para titia.
Nesse contexto, Laura estava se
aprontando para subir ao altar, amava o noivo e ele não poderia vê-la antes do casamento.
Os dois se encontrariam no tapete vermelho da Matriz e dali sairiam para uma
vida juntos, cheia de amor e de lutas.
Ela estava muito bonita com seu
vestido branco e um véu que descia sobre a cauda do vestido. O buquê de flores
de laranjeiras enfeitava o conjunto harmônico. Luís Carlos em seu terno preto, impecável,
aguardava a noiva amada. O pai entregou a filha ao noivo e subiu ao altar. Os
noivos se entreolharam, havia amor no olhar de ambos.
O Monsenhor, que estava celebrando
o enlace matrimonial, se empolgou e demorou no sermão, mais do que havia previsto.
Em dado momento, o noivo titubeou e desfaleceu. A madrinha, que era sua irmã,
tratou de ampará-lo. Luís Carlos estava branco como uma folha de papel sulfite.
A noiva, espantada, entregou o buquê para a outra madrinha e começou a rezar,
ainda não tinham dito “sim”.
Alguém correu para pedir ajuda e
outra pessoa foi até a casa do vizinho. Ambas voltaram com xícaras nas mãos,
uma continha açúcar e na outra tinha sal. Colocaram o sal na boca do noivo e
ele fez careta, depois abriu os olhos, o açúcar foi deixado de lado. Apoiado,
ele conseguiu se levantar. O Monsenhor, então, tratou de terminar a cerimônia,
para que o rapaz tomasse um pouco de ar puro do lado de fora da igreja.
Todos se entreolharam e a
madrinha exclamou: - Que sufoco!
Laura
saiu da igreja abraçada ao marido, estava trêmula, quase o perdera. Um amigo,
que estava entre os convidados, explicou que ele teve uma hipoglicemia,
motivada por excesso de bebida, que o noivo tomou durante a despedida de solteiro.
E com a correria do dia do casamento, ele não se alimentara o suficiente.
O
casal ficou na festa o tempo necessário para cortar o bolo e depois fugiram do local, no automóvel do padrinho. O marido estava enfraquecido pelo desmaio e se
jogou na cama, adormecendo em seguida. Laura tirou os sapatos dele, o paletó, o
cinto, a gravata e em seguida cobriu seu corpo com o lençol. Nada poderia
fazer, sua lua de mel estava arruinada.
Ela tomou banho, vestiu a camisola do dia, que estava separada e se enfiou debaixo da coberta, estava cansada. Luís Carlos roncava em seu sono reparador. Sua lua de mel fora adiada, mas os sonhos continuavam presentes. A esposa beijou os lábios do marido, que nem se mexeu, em seguida, ela adormeceu.
Laura
suspirou, precisava voltar para sua casa.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa