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quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

"A PRIMAVERA CHEGARÁ, MESMO QUE NINGUÉM MAIS SAIBA SEU NOME, NEM ACREDITE NO CALENDÁRIO, NEM POSSUA JARDIM PARA RECEBÊ-LA." CECÍLIA MEIRELES

QUE SUFOCO!!!

                                         CAPÍTULO QUATRO

          Laura se esquecera da vida, eram lembranças boas de um passado distante, queria prolongar aquele momento. Em suas recordações, sentia-se jovem, cheia de vida e estava apaixonada por Luís Carlos, que se tornaria seu esposo antes do dia terminar; aquele pensamento a deixava excitada. Naquela noite, todos os mistérios das noites de núpcias seriam revelados.

              Era proibido para as moças, naquela época, perguntarem coisas sobre sexo para a mãe ou outra pessoa da família. Era um assunto para mulheres casadas, para as solteiras era tabu. As coisas que a maioria sabia, eram ditas por colegas em conversas furtivas. Assuntos que foram lidos em revistas proibidas, geralmente dentro de banheiros e relatados por pessoas de fama duvidosa.

               Havia muito medo envolvendo a lua de mel, muitas histórias eram contadas em rodinhas de vizinhas ao entardecer, como por exemplo:

                - “A filha de um conhecido sitiante se apaixonou e casou-se com o filho do farmacêutico da pequena vila. Era conhecida como moça direita e foi entregue ao marido em confiança. No entanto, o dia seguinte ainda não havia nascido e o rapaz estava na porta do sitiante, para devolver a moça”.

           “Furioso, o noivo esbravejava que a noiva não era virgem e ele não queria mulher de segunda mão. Enquanto o pai não sabia o que dizer, a moça chorava copiosamente. O marido, ultrajado, jogou a mala da noiva nos pés do sitiante e saiu cantando pneu no velho carro de seu pai”.

               Estava desfeito o casamento, que seria anulado e a moça nunca mais arrumaria outro marido. Teria que ficar dentro de casa ajudando a criar seus sobrinhos. Essa e outras histórias tiravam o sono de muitas moças, era a desgraça total. Em uma sociedade machista e patriarcal, as moças se continham por medo de ficarem faladas. Uma ou outra que se perdia, ficava para titia.

            Nesse contexto, Laura estava se aprontando para subir ao altar, amava o noivo e ele não poderia vê-la antes do casamento. Os dois se encontrariam no tapete vermelho da Matriz e dali sairiam para uma vida juntos, cheia de amor e de lutas.

               Ela estava muito bonita com seu vestido branco e um véu que descia sobre a cauda do vestido. O buquê de flores de laranjeiras enfeitava o conjunto harmônico. Luís Carlos em seu terno preto, impecável, aguardava a noiva amada. O pai entregou a filha ao noivo e subiu ao altar. Os noivos se entreolharam, havia amor no olhar de ambos.

             O Monsenhor, que estava celebrando o enlace matrimonial, se empolgou e demorou no sermão, mais do que havia previsto. Em dado momento, o noivo titubeou e desfaleceu. A madrinha, que era sua irmã, tratou de ampará-lo. Luís Carlos estava branco como uma folha de papel sulfite. A noiva, espantada, entregou o buquê para a outra madrinha e começou a rezar, ainda não tinham dito “sim”.

              Alguém correu para pedir ajuda e outra pessoa foi até a casa do vizinho. Ambas voltaram com xícaras nas mãos, uma continha açúcar e na outra tinha sal. Colocaram o sal na boca do noivo e ele fez careta, depois abriu os olhos, o açúcar foi deixado de lado. Apoiado, ele conseguiu se levantar. O Monsenhor, então, tratou de terminar a cerimônia, para que o rapaz tomasse um pouco de ar puro do lado de fora da igreja.

Todos se entreolharam e a madrinha exclamou: - Que sufoco!

Laura saiu da igreja abraçada ao marido, estava trêmula, quase o perdera. Um amigo, que estava entre os convidados, explicou que ele teve uma hipoglicemia, motivada por excesso de bebida, que o noivo tomou durante a despedida de solteiro. E com a correria do dia do casamento, ele não se alimentara o suficiente.

O casal ficou na festa o tempo necessário para cortar o bolo e depois fugiram do local, no automóvel do padrinho. O marido estava enfraquecido pelo desmaio e se jogou na cama, adormecendo em seguida. Laura tirou os sapatos dele, o paletó, o cinto, a gravata e em seguida cobriu seu corpo com o lençol. Nada poderia fazer, sua lua de mel estava arruinada.

Ela tomou banho, vestiu a camisola do dia, que estava separada e se enfiou debaixo da coberta, estava cansada. Luís Carlos roncava em seu sono reparador. Sua lua de mel fora adiada, mas os sonhos continuavam presentes. A esposa beijou os lábios do marido, que nem se mexeu, em seguida, ela adormeceu.

 Laura suspirou, precisava voltar para sua casa.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

                                 

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