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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

"CADA CICATRIZ QUE TEMOS É A CONFIRMAÇÃO DE QUE UMA FERIDA SARA. CICATRIZES SÃO MARCAS DE SUPERAÇÃO QUE SÓ UM VERDADEIRO GUERREIRO POSSUI". AUTOR DESCONHECIDO


RETALHAR O CORPO

CAPÍTULO ONZE
           Quando Valentina completou dois anos da cirurgia bariátrica, e com o peso estabilizado por seis meses, era hora de enfrentar a nova etapa, em busca da beleza corporal. A moça estava com setenta e oito quilos, mas não poderia ficar de biquíni ou roupa decotada e sem mangas. A magreza trouxera novos problemas para ela, e acentuou o complexo de inferioridade, já existente. Ganhou em leveza, agilidade, saúde, mas estava longe de se achar bonita.

            As peles ficavam penduradas nos braços, nos peitos, nas coxas e na barriga, formando uma pochete sobre a púbis; ela evitava olhar-se no espelho. Odiava aquilo tudo, ainda era virgem e jamais tiraria a roupa diante de um rapaz.

           - Morreria invicta, pensava com raiva do mundo.

           Muitas noites passara chorando, ela não tinha mais jeito. Tratava de se cobrir rapidamente com roupas largas; sentia-se pior do que antes de perder peso.

          Valentina, acompanhada da mãe, saiu do consultório médico com os olhos cheios de lágrimas. A colocação do médico assustou a paciente. Ele disse que para ela tirar todo aquele excesso de pelancas teria que:

          - Retalhar o corpo para tirar todo as sobras de peles, então, se tornará uma moça magra e muito bonita. Afirmou o médico com uma ponta de ironia.

              A mãe ficou na defensiva, tinha medo daquelas palavras, parecia o gado no açougue sendo retalhado depois de abatido. Sentia-se ofendida, mas o médico foi objetivo e claro em sua explanação. Disse que era assim que ele queria, que a sua paciente tomasse um choque de realidade e, então, estaria pronta para iniciar as novas cirurgias.

         Clara conversou com o marido e lhe explicou tudo; Rui concordou em levar Valentina para concluir o que haviam começado. A filha estava magra, porém continuava com complexos de inferioridade, pois vivia de roupas largas e soltas em seu corpo; parecia uma assombração. E, continuava motivo de chacotas dos colegas e conhecidos. Apenas o Ferrugem a acompanhava e a defendia das bocas malditas.

         - Agora, estamos na reta final e ela deve se submeter ao que for preciso para se livrar das peles, que sobram em seu corpo. Afirmou a mãe preocupada.

          O plano cirúrgico foi montado pelo médico. Quatro cirurgias reparadoras no mínimo, em primeiro lugar a abdominoplastia. Em seguida a mamoplastia com colocação de silicone, pois as mamas de Valentina simplesmente sumiram, deixando dois trapinhos murchos pendurados. Quando estivesse recuperada seria feita a intervenção nos braços e por último nas pernas.

         - Mais um ano de lutas com o bisturi, e só restarão cicatrizes em pontos pré-determinados, afirmou o médico para a mãe e a filha, que se mostravam ansiosas.

         Somente então, Valentina poderá dizer que está magra e pronta para a vida, foi a conclusão a que Clara chegou. Havia ainda, um longo caminho a ser percorrido.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
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