BANDEIRA
BRANCA, AMOR
AMOR BANDIDO
CAPÍTULO UM
O dia amanheceu radiante com um Sol
maravilhoso, depois de uma noite de tormentas. O Rio de Janeiro, como sempre,
estava lindo diante do mar azul, seria um dia de muita gente nas praias. Apesar
do açoite dos ventos durante a noite, pela manhã, o mar calmo e a luz do Sol
prometiam uma festa de cores.
As pessoas pareciam apressadas,
precisavam terminar suas fantasias; era o primeiro dia de carnaval na Marquês
de Sapucaí, no Sambódromo da cidade do Rio de Janeiro. A população, em sua maioria,
estava envolvida nos festejos carnavalescos.
A cidade ficava cheia de turistas
trazendo divisas para o país, movimentando a rede hoteleira e o comércio em
geral. É conhecida como a maior festa regional do Brasil. Os envolvidos nas
apresentações trabalham o ano inteiro, para mostrar ao mundo suas criações, envolvendo
as belezas, fatos políticos e personalidades artísticas, que existem nessa
terra de tupiniquins.
São quatorze escolas que desfilam em
duas noites, apresentam músicas alusivas aos enredos. São cerca de quatro mil
figurantes em cada escola de samba, desenvolvendo histórias em alas, com cenas
teatrais acompanhadas de carros alegóricos, danças e músicas tocadas pela bateria
de cada escola, cujo enredo é cantado por seu puxador de samba. O desfile de
cada escola dura uma hora e perde pontos se exceder no tempo.
Murilo estava distraído, o freguês entrou e ele não viu, depois ficou
com medo. A oficina mecânica, instalada na periferia, estava cheia de trabalho
e o dono com seus três ajudantes, muito ocupados.
Financeiramente, Murilo estava muito
bem, a oficina faturava o suficiente para uma vida tranquila. O mecânico tinha
apenas trinta anos e estava casado a dez anos com Lívia, que lhe dera três
filhos; assim, a vida corria leve.
Havia rumores de assaltos naquela
região, e todos recomendavam cuidado. Principalmente em tempos de carnaval, que
havia pessoas de todos os lugares do Brasil e do exterior, transitando por ali.
As autoridades sempre recomendavam
cautela, pois em meio as pessoas de bem, sempre poderia haver alguns marginais.
- E se fosse um ladrão? Com certeza,
Murilo estaria perdido, pois estava distraído.
Saiu de baixo do veículo que estava
arrumando e atendeu o rapaz, que viera buscar o seu automóvel. Depois ficou
olhando a rua, onde já se viam movimentos de foliões em blocos variados, com
suas fantasias e muita alegria. Coçou a cabeça, teria que arrumar uma desculpa
para passar a noite fora de casa.
Lívia, sua esposa, era uma excelente
mãe e dona de casa, no entanto, como amante deixava muito a desejar. A paixão
dos primeiros anos ficou para trás, atualmente ela estava, sempre, com dores de
cabeça; o que o deixava desanimado.
Em alguns momentos, pensara em se
divorciar, mas, amava os filhos e não poderia abandoná-los. Dois meninos e uma
menina: Artur, Denis e Luana, crianças lindas e inteligentes, em idade escolar.
Certo dia, já fazia alguns
meses, apareceu na oficina uma moça bonita, rolando os óculos escuros nas mãos,
visivelmente nervosa. Pedindo para ele rebocar seu carro, que havia morrido em
uma estrada vicinal.
Murilo não gostava de fazer
socorros, poderia ser perigoso, não conhecia a jovem. Mas, chamou um ajudante e
os três foram buscar o automóvel danificado. Deixou o endereço e um aviso para
o outro colaborador:
- Se demorarmos para voltar, é para
acionar a polícia.
O nome da moça era Raquel, uma
morena vistosa, que disse ser a rainha da bateria, de uma escola de samba da
região. Trouxeram o veículo e a jovem foi embora, prometendo voltar no dia
seguinte. O mecânico, que andava carente, ficou pensativo, poderia se perder
com uma morena dessas.
No dia seguinte, a moça voltou
para buscar o veículo, estava mais bonita ainda, com um lindo vestido vermelho
e muito charme. O mecânico gaguejou, estava enfeitiçado, mas teria que segurar
a onda. Raquel se foi e ele tratou de se conformar, era um homem casado.
Naquela noite, Lívia fingiu estar dormindo,
mais uma vez. Três dias se passaram e a moça retornou à oficina, precisava
trocar um farol, que havia queimado.
Murilo já estava fechando a porta
do galpão, quando ela chegou. Estava alegre, iria para o ensaio da escola de
samba. Ele disse que o conserto ficaria para o dia seguinte, entretanto lhe daria
uma carona. E assim, os dois saíram rumo à escola de samba.
Raquel o envolveu, também estava
interessada nele. Quando chegaram, ela o
convidou para conhecer o barracão. Murilo saiu dali depois da meia noite. Sua
esposa nem percebeu, pois estava dormindo.
O rapaz não conseguia tirar a moça
da cabeça, ela tinha o poder de mexer com seus sentimentos. O seu bom senso
dizia para se afastar dela, mas ela estava sempre ali, em sua frente. Tornara-se
sua freguesa e, ele ficara totalmente submisso.
Raquel era uma moça sofrida, seu companheiro
fora morto por engano, em um tiroteio entre facções criminosas. Joel voltava do
trabalho e foi atingido por uma bala perdida. Murilo ouviu atentamente e teve
pena dela, mais uma história triste.
Foram novamente para o barracão, riram, dançaram e cantaram, era uma
festa da alegria. Depois do ensaio, saíram para andar na praia; já estavam
perdidamente apaixonados. Terminaram se amando ali mesmo, sob a luz do luar.
Quando Murilo chegou em sua casa
já passava das três horas da madrugada e acabou dormindo no sofá. Não queria
acordar Lívia. No dia seguinte ele disse que estava tão cansado, que dormiu ali
mesmo. Ela pareceu não desconfiar de nada. Até o beijou profundamente, como
bônus por seu esforço:
- É um bom marido e ótimo pai,
frisou a esposa.
O marido sentiu remorso, pois a
estava enganando.
Assim, os meses foram passando,
sempre com desculpas de muito trabalho para entregar e de cansaços extremos, a
ponto de rejeitar sua esposa, que já não o atraia mais.
Ao menos duas vezes por semana,
ele saia com a rainha da bateria, que agora tomara conta do seu coração. E, secretamente,
Murilo fazia planos, que incluía Raquel, estava perdidamente apaixonado.
O carnaval chegou e o mecânico já
havia comprado uma fantasia, queria cair na folia com seu amor. A moça não
poderia ficar sozinha nas noites de carnaval, ele tinha ciúmes. Precisava bolar
um plano para sua mulher não desconfiar de nada.
Não era hora de discutir a relação. Queria
somente viver seu amor bandido, com todo o calor que havia entre eles.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa