MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

"BANDEIRA BRANCA, AMOR" "BANDEIRA BRANCA, AMOR, NÃO POSSO MAIS, PELA SAUDADE, QUE ME INVADE, EU PEÇO PAZ".(...) CANTORA: DALVA DE OLIVEIRA. COMPOSITOR: MAX NUNES

BANDEIRA BRANCA, AMOR

AMOR BANDIDO

CAPÍTULO UM
            O dia amanheceu radiante com um Sol maravilhoso, depois de uma noite de tormentas. O Rio de Janeiro, como sempre, estava lindo diante do mar azul, seria um dia de muita gente nas praias. Apesar do açoite dos ventos durante a noite, pela manhã, o mar calmo e a luz do Sol prometiam uma festa de cores.

           As pessoas pareciam apressadas, precisavam terminar suas fantasias; era o primeiro dia de carnaval na Marquês de Sapucaí, no Sambódromo da cidade do Rio de Janeiro. A população, em sua maioria, estava envolvida nos festejos carnavalescos.

             A cidade ficava cheia de turistas trazendo divisas para o país, movimentando a rede hoteleira e o comércio em geral. É conhecida como a maior festa regional do Brasil. Os envolvidos nas apresentações trabalham o ano inteiro, para mostrar ao mundo suas criações, envolvendo as belezas, fatos políticos e personalidades artísticas, que existem nessa terra de tupiniquins.

           São quatorze escolas que desfilam em duas noites, apresentam músicas alusivas aos enredos. São cerca de quatro mil figurantes em cada escola de samba, desenvolvendo histórias em alas, com cenas teatrais acompanhadas de carros alegóricos, danças e músicas tocadas pela bateria de cada escola, cujo enredo é cantado por seu puxador de samba. O desfile de cada escola dura uma hora e perde pontos se exceder no tempo.

              Murilo estava distraído, o freguês entrou e ele não viu, depois ficou com medo. A oficina mecânica, instalada na periferia, estava cheia de trabalho e o dono com seus três ajudantes, muito ocupados.

           Financeiramente, Murilo estava muito bem, a oficina faturava o suficiente para uma vida tranquila. O mecânico tinha apenas trinta anos e estava casado a dez anos com Lívia, que lhe dera três filhos; assim, a vida corria leve.

           Havia rumores de assaltos naquela região, e todos recomendavam cuidado. Principalmente em tempos de carnaval, que havia pessoas de todos os lugares do Brasil e do exterior, transitando por ali.  As autoridades sempre recomendavam cautela, pois em meio as pessoas de bem, sempre poderia haver alguns marginais.

           - E se fosse um ladrão? Com certeza, Murilo estaria perdido, pois estava distraído.
           Saiu de baixo do veículo que estava arrumando e atendeu o rapaz, que viera buscar o seu automóvel. Depois ficou olhando a rua, onde já se viam movimentos de foliões em blocos variados, com suas fantasias e muita alegria. Coçou a cabeça, teria que arrumar uma desculpa para passar a noite fora de casa.

           Lívia, sua esposa, era uma excelente mãe e dona de casa, no entanto, como amante deixava muito a desejar. A paixão dos primeiros anos ficou para trás, atualmente ela estava, sempre, com dores de cabeça; o que o deixava desanimado.

           Em alguns momentos, pensara em se divorciar, mas, amava os filhos e não poderia abandoná-los. Dois meninos e uma menina: Artur, Denis e Luana, crianças lindas e inteligentes, em idade escolar.

                Certo dia, já fazia alguns meses, apareceu na oficina uma moça bonita, rolando os óculos escuros nas mãos, visivelmente nervosa. Pedindo para ele rebocar seu carro, que havia morrido em uma estrada vicinal.

            Murilo não gostava de fazer socorros, poderia ser perigoso, não conhecia a jovem. Mas, chamou um ajudante e os três foram buscar o automóvel danificado. Deixou o endereço e um aviso para o outro colaborador:

               - Se demorarmos para voltar, é para acionar a polícia.

             O nome da moça era Raquel, uma morena vistosa, que disse ser a rainha da bateria, de uma escola de samba da região. Trouxeram o veículo e a jovem foi embora, prometendo voltar no dia seguinte. O mecânico, que andava carente, ficou pensativo, poderia se perder com uma morena dessas.

             No dia seguinte, a moça voltou para buscar o veículo, estava mais bonita ainda, com um lindo vestido vermelho e muito charme. O mecânico gaguejou, estava enfeitiçado, mas teria que segurar a onda. Raquel se foi e ele tratou de se conformar, era um homem casado.

            Naquela noite, Lívia fingiu estar dormindo, mais uma vez. Três dias se passaram e a moça retornou à oficina, precisava trocar um farol, que havia queimado.

            Murilo já estava fechando a porta do galpão, quando ela chegou. Estava alegre, iria para o ensaio da escola de samba. Ele disse que o conserto ficaria para o dia seguinte, entretanto lhe daria uma carona. E assim, os dois saíram rumo à escola de samba.

            Raquel o envolveu, também estava interessada nele.  Quando chegaram, ela o convidou para conhecer o barracão. Murilo saiu dali depois da meia noite. Sua esposa nem percebeu, pois estava dormindo.

           O rapaz não conseguia tirar a moça da cabeça, ela tinha o poder de mexer com seus sentimentos. O seu bom senso dizia para se afastar dela, mas ela estava sempre ali, em sua frente. Tornara-se sua freguesa e, ele ficara totalmente submisso.

             Raquel era uma moça sofrida, seu companheiro fora morto por engano, em um tiroteio entre facções criminosas. Joel voltava do trabalho e foi atingido por uma bala perdida. Murilo ouviu atentamente e teve pena dela, mais uma história triste.

               Foram novamente para o barracão, riram, dançaram e cantaram, era uma festa da alegria. Depois do ensaio, saíram para andar na praia; já estavam perdidamente apaixonados. Terminaram se amando ali mesmo, sob a luz do luar.

               Quando Murilo chegou em sua casa já passava das três horas da madrugada e acabou dormindo no sofá. Não queria acordar Lívia. No dia seguinte ele disse que estava tão cansado, que dormiu ali mesmo. Ela pareceu não desconfiar de nada. Até o beijou profundamente, como bônus por seu esforço:

              - É um bom marido e ótimo pai, frisou a esposa.

               O marido sentiu remorso, pois a estava enganando. 

             Assim, os meses foram passando, sempre com desculpas de muito trabalho para entregar e de cansaços extremos, a ponto de rejeitar sua esposa, que já não o atraia mais.

             Ao menos duas vezes por semana, ele saia com a rainha da bateria, que agora tomara conta do seu coração. E, secretamente, Murilo fazia planos, que incluía Raquel, estava perdidamente apaixonado.

            O carnaval chegou e o mecânico já havia comprado uma fantasia, queria cair na folia com seu amor. A moça não poderia ficar sozinha nas noites de carnaval, ele tinha ciúmes. Precisava bolar um plano para sua mulher não desconfiar de nada.  

           Não era hora de discutir a relação. Queria somente viver seu amor bandido, com todo o calor que havia entre eles.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.