SOB SUAS ASAS
CAPÍTULO
TRÊS
Marília estava tão cansada que
adormeceu logo, foi um sono pesado e sem sonhos ou pesadelos: apenas
restaurador. Aquela era a primeira noite que Leandro dormia fora de sua casa.
Apesar do casamento estar naufragando, ele sempre dormia em casa, muitas vezes
bêbado a ponto de não saber onde estava, mas seu corpo estava presente.
Quando Marília acordou e se deu
conta de toda aquela situação, gemeu baixinho. Estava só, desempregada e com
dois filhos para criar. Leandro não queria que ela trabalhasse, pois tinha
ciúmes.
- Estava fora do mercado de trabalho fazia uma década e agora seria difícil recomeçar. O que seria dela e de seus filhos?
Aquela incerteza a atormentava. De um pulo se levantou e olhando a cama vazia,
sentiu um calafrio.
- Precisava reagir, pensou e foi
acordar os filhos para irem à escola.
Estaria ocupada durante a primeira
hora da manhã e depois iria procurar um trabalho, tinha urgência em ganhar
dinheiro. Deixou as crianças na escola e
seguiu cabisbaixa dizendo baixinho algumas orações dos salmos, foi até a Igreja.
Ajoelhou no genuflexório e pediu misericórdia a Deus. E, depois foi ao altar da
virgem Maria e pediu que lhe mostrasse o caminho a seguir. Marília estava
emocionada e chorou baixinho pedindo clemência.
Saiu da Igreja com uma sensação de
tranquilidade e calma, dali viria o seu socorro, ela acreditava nisso. Andava
com passos firmes de volta para casa, então, viu uma folha de jornal amassada jogada
na rua. Ali havia muitos anúncios de emprego nos classificados, pensou
rapidamente.
Seria um caminho para encontrar alguma coisa; a moça apressou o
passo em direção à banca de jornais e comprou o melhor jornal da região, teria
que encontrar alguma coisa ali.
Pegou o matutino como se fosse um
tesouro e, esperançosa voltou para casa. Abriu na página de anúncios
classificados e começou a ler minuciosamente.
Onde ela sentia que havia alguma
possibilidade de trabalho, recortava e deixava de lado para ligar depois.
Estava empenhada em arrumar alguma coisa, para tirar aquela angustia de seu
peito; sempre fora uma lutadora e agora não iria desistir.
Depois
de ler e reler todos os anúncios, Marília respirou profundamente; ali havia
pouca coisa para ela. Mas iria tentar tudo para conseguir seu intento.
Sentia-se estressada e resolveu varrer o jardim e a frente da casa.
Estava
quase terminando quando apareceu uma conhecida do tempo da escola de enfermagem
e parou para conversar. Entre uma coisa e outra a moça disse que estivera
fazendo a inscrição para o concurso da saúde da prefeitura. Marília estalou os
olhos e perguntou:
- Que concurso? Onde? Para que? Alguma coisa
lhe dizia que teria que fazer o concurso. Ela tinha chance, pois tinha
experiência em enfermagem.
A amiga aquiesceu, era o último dia
para a inscrição, ela deveria se apressar. Marília entrou e foi procurar os documentos que iria precisar, depois saiu rapidamente para tirar xerox e
efetuar sua inscrição. Parecia que estava hipnotizada, agia automaticamente e
tudo dava certo.
Saiu com a inscrição na mão e sentiu
que alguma proteção a havia acompanhado. A virgem a protegera e indicara um
caminho para ela; já não estava só, estava sob suas asas e nada temeria.
Um
texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.