MOLECAGENS
CAPÍTULO DOIS
No
quarto dia, Ana foi à escola sem tomar banho e depois do recreio estava suada e
cheirando a suor. Então, a professora a levou para a diretoria e a diretora lhe
deu um limão para esfregar nas axilas. Depois, sentou-se em frente a menina e
lhe explicou a necessidade de asseio e o quanto era bonito uma adolescente
limpa e cheirosa. Ana concordou.
Ela
fazia parte de uma turma de moleques onde havia somente duas meninas, ela e a
Gisela. No entanto, ela e a companheira tinham uma convivência difícil; era
raro o dia em que não discutiam. Torresmo, o líder da turma era um moleque
mestiço, tinha a pele morena, os cabelos enrolados e um jeito astuto de ser.
Estava sempre ligado e arrumando confusão.
Na
saída da escola ele convidou a turma para nadar na represa, o calor estava
intenso; fazia meses que não chovia naquele local. A turma seguiu em frente,
eram quatro meninos e as duas meninas. Deixaram as mochilas em baixo de uma
árvore e caíram na água. Depois de um bom tempo de diversão resolveram voltar
para casa, estavam com fome; já passava de uma hora da tarde. Estavam alegres e
seguiam cantando. De repente, o Torresmo parou, tinha avistado um despacho de
macumba e foi ver o que havia ali; todos o seguiram curiosos.
Galinha preta, farofa, garrafas de bebidas,
velas e uma caixa de fósforo. Então o menino chutou o despacho e pegou a caixa
de fósforos, saindo dali dando risadas. Ana se encolheu, tinha medo de macumba
e a Gisela que nada temia, também chutou o despacho se pondo a rir de Ana.
– Ana Banana, chupa cana e mija na cama!!! A
provocação deu resultado e a Ana gritava:
- Gisela Cadela, chupa osso e fica banguela!!!
Por
fim as duas rolaram na terra. Enquanto isso, os meninos riscavam o fósforo
incendiando o capinzal seco do pasto. A fogueira tomou volume e eles correram
assustados. Quando saíram do pasto o fogaréu já se alastrava por uma grande
extensão e, assustados não sabiam o que fazer. Torresmo, que era o dono da
arte, pela primeira vez ficou com medo e foi até o bar pedir para o dono chamar
os bombeiros, temia o agravo da situação.
Houve
uma grande aglomeração de pessoas, que ficaram sabendo que o responsável era a
turma do Torresmo, que correram para suas casas com medo da polícia. Ana chegou
em casa parecendo uma maltrapilha suja e sua mãe lhe deu uns tabefes logo no
portão. Aos gritos, Alda queria saber porque demorara e onde tinha ido.
Ela contou que estavam vendo o
pasto pegar fogo e a mãe, de olhos arregalados, saiu atrás da novidade, pois não é todo dia que se tem
um pasto pegando fogo. Os homens da comunidade se uniram aos bombeiros e,
depois de duas horas de trabalho intenso conseguiram apagar o fogo.
Um
texto de Eva Ibrahim
Continua
na próxima semana.