CAPÍTULO
UM
DE
OLHO EM VOCÊ
Otávio
olhava em seu relógio a cada minuto, tinha que se apressar, pois, Milena não
poderia chegar antes dele; precisava vê-la, mesmo que fosse por alguns minutos.
Estava ansioso, queria fazer uma surpresa para a moça e não sabia qual seria a
reação dela.
Fazia
três meses, que ele a atendera na farmácia. A moça entrou apressada e lhe entregou a receita, depois, trocaram as
palavras necessárias e ela se foi com o antibiótico e um antitérmico nas mãos. Parecia
nervosa, disse que o filho estava acamado e com febre.
Otávio
ficou olhando ela sair apressada e pensou que era uma mulher bonita, deveria
ser casada. Ficou chateado, era jeitosa e tinha um jeito de andar, que o
cativava. Ele poderia se interessar por ela; uma moça loura com grandes olhos
negros, parecia perfeita.
Ele se mudara para aquele apartamento fazia
dois anos. Saia todas as manhãs para seu novo emprego; era farmacêutico em uma
grande drogaria, bastante conhecida. Um bom emprego, que lhe rendia o suficiente
para mandar a pensão para sua ex esposa, as duas filhas e sua manutenção. Para
ele não precisava de muita coisa, saia apenas para ir à igreja e ao
supermercado; era um homem de Deus, professava a fé evangélica. Otávio era
amante da música e tocava violino nos cultos da igreja.
Nos
últimos anos, sua vida se tornara um verdadeiro inferno. Ele e Maria não se
entendiam mais e mal se falavam. O relacionamento amoroso há muito deixara de
existir. Mantiveram as aparências pelas meninas adolescentes enquanto puderam,
mas chegou uma hora, que não dava mais e resolveram pela separação. Fazia tempo
que dormiam com cobertas separadas e ficavam imóveis, cada um em seu canto; uma
tortura desnecessária.
Assim, ele deixou a casa para elas e
se mudou de cidade indo para o apartamento, que ficava perto da drogaria, na
cidade vizinha. Otávio queria ter segurança e desde muito jovem se preocupava
em ter uma casa própria. Então, comprara aquele apartamento pelo programa
de habitação do governo, para ter uma renda a mais na velhice. E, veio bem a
calhar, pelo menos não precisava pagar aluguel.
Estava muito desiludido com o
casamento e resolvera que ficaria sozinho para sempre. Um ano inteiro de fossa
e tristeza com a situação vivida. Noites solitárias e a obrigação de lavar,
passar e cozinhar o estava deixando depressivo. Em algumas noites, chegou a
sentir saudades de Maria ou do tempo em que foram felizes. As duas meninas
sempre iam vê-lo aos domingos, a mãe as deixava na porta e depois ia busca-las.
Ficavam com o pai enquanto Maria visitava uma irmã, que morava perto dali.
Mas, o tempo é bom companheiro e sua
ferida foi cicatrizando, deixando um vazio em seu peito. Muitas vezes, ele
parava para olhar casais abraçados ou de mãos dadas; sentia inveja dessas
pessoas. A solidão estava pesada, não tinha vontade de sair ou se divertir.
Ansiava por uma companhia feminina, que pudesse alegrar os seus dias.
Milena foi a primeira moça que
chamou sua atenção, mas não sabia onde ela morava ou o que fazia.
– Devo estar maluco, não conheço a
moça e estou sonhando acordado, pensou e foi atender outra cliente, que acabara
de entrar.
Alguns dias se passaram e Otávio
nem se lembrava mais de Milena, mas quando parou no farol vermelho, emparelhou
seu carro com o dela; seu coração disparou. Ela estava na direção e trazia duas crianças no banco
de trás, uma adolescente e um menino.
– Devem ser seus filhos, o menino
tenho certeza, pois, ela fora clara na farmácia, quando disse que o filho
estava acamado, pensou Otávio.
Milena nem olhou para o lado,
estava brava com as crianças, dava para perceber. Mesmo fazendo bico era muito
bonita, pensou o rapaz, ela poderia fazê-lo feliz. E, quando o farol abriu e
ela arrancou, foi seguida por Otávio. Iria descobrir onde ela morava e depois
descobriria se era casada ou não. E, para sua surpresa ela entrou na garagem do
prédio em frente ao seu. Ele ficou parado imaginando porque nunca a tinha visto
antes, se eram vizinhos.
Ela deixou o carro na garagem e
saiu seguida pelas crianças. Levavam algumas sacolas de supermercado nas mãos e foram caminhando, depois entraram no prédio. Otávio ficara intrigado, daria um jeito de
descobrir o andar que ela morava e qual era seu nome. Montaria uma estratégia
para abordar o porteiro. Assim, ele poderia ficar de olho nela.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa