DESATINO
CAPÍTULO
SETE
Liana e sua tia Neiva tocaram a
campainha e aguardaram em frente à porta do apartamento. As duas portavam
bolsas de viagem, pois pretendiam ficar alguns dias na capital paulista. Ninguém apareceu, estavam ansiosas para rever
Otávio. Mais um pouco e nada, tocaram a campainha pela segunda vez, então se
entreolharam.
- Será que o porteiro se enganou? Não há
ninguém aí dentro?
Neiva retrucou e olhou com apreensão à sua
sobrinha. Novamente, ninguém atendeu ao chamado. A moça, em resposta, tocou a
campainha pela terceira vez.
Depois de dez longos minutos, ouviu-se
um barulho lá dentro, alguém resmungou e veio em direção à porta. O coração da
moça parecia querer pular do seu peito. Estava desesperada para rever seu
noivo, queria pular em seu pescoço e beijá-lo muito. No entanto, o que ela não
poderia imaginar aconteceu. Uma moça abriu a porta e perguntou:
-
Quem são vocês? O que querem?
Liana perdeu o chão em que pisava, a
moça, que atendeu a porta, estava enrolada em uma coberta e era visível que
estivera deitada na cama. Nesse momento apareceu o noivo vestindo uma bermuda e
perguntando:
- Júlia, quem está aí?
Era o Otávio, que ficou branco como um papel,
ao ver Liana e sua tia na porta do seu apartamento.
A situação era vexatória, pois a
Júlia desconhecia a existência da noiva de Otávio e Liana dera o maior
flagrante no traidor. A situação criada na porta do apartamento era
insustentável e Liana começou a gritar com Otávio:
- Quem é essa vagabunda? Fala pelo
amor de Deus? Por que está aí com você?
A moça estava completamente
descontrolada. A tia procurava acalmá-la, mas ela estava furiosa.
As portas dos outros apartamentos
começaram a se abrirem, queriam saber o que era aquela gritaria. Otávio puxou
Liana para dentro e Neiva a acompanhou. O rapaz ficou encurralado, as três
mulheres queriam mata-lo.
Júlia, que não sabia de nada,
estava muda diante daquela explosão da moça, que se dizia noiva de Otávio. A
tia procurava acalmar a situação e tentava levar a sobrinha dali. Liana chorava
e gritava ao mesmo tempo, dizendo que ele iria pagar por aquela humilhação; era
um canalha traidor.
O porteiro subiu para saber o que
estava acontecendo, que outros inquilinos estavam reclamando da balburdia.
Então, pediu para as duas mulheres se retirarem ou iria chamar a polícia. Com
muito custo, a tia conseguiu convencer a sobrinha a irem embora. Desceram
acompanhadas do porteiro, que ficou sabendo da traição do rapaz. Lamentou, mas
pediu que não voltassem mais ali.
As duas mulheres foram para uma pensão
indicada pelo mesmo homem, o porteiro do prédio de Otávio. Liana não comeu
nada, passou a noite andando de um lado para outro. Chorava e se lamentava
dizendo:
- Minha vida está acabada, ele me
paga, não mereço isso.
A tia pedia para se acalmar, não
era a primeira e nem seria a última noiva a ser traída. Liana nem ouvia o que
sua tia falava, estava com os pensamentos em outro lugar.
O dia amanheceu e a moça saiu para
caminhar, não pregara o olho durante a noite. Passou diante de um posto de
combustível e parou, em um momento teve uma ideia, tinha visto na televisão.
Então pensou, que Otávio merecia uma lição e aquela vagabunda, que está com ele,
também. Nunca mais iriam rir dela e seu coração sorriu; precisava se vingar.
Entrou e comprou um frasco de ácido
sulfúrico, que a ajudaria a dar uma lição nos dois traidores. Disse que era
para colocar na bateria do seu automóvel, que o marido iria recuperar. Não
contaria nada à sua tia ou ela tentaria demove-la de seu intento. Voltou para a
pensão e agiu normalmente, tomou banho e depois comeu junto com a tia. A mulher
ficou contente, parecia que a sobrinha estava conformada.
Neiva respirou fundo, estava
aliviada. Liana esperou um tempo e disse:
- Tia eu quero que a senhora peça
para o Otávio vir conversar comigo, temos muitas coisas para resolver. Não
volto para casa sem dar uma solução para essa situação. Por favor, peça para
ele trazer a moça junto.
Neiva achou estranho que Liana
pedisse para trazer a moça junto, mas ela precisava tirar aquela história a
limpo. Iria atender o pedido da sobrinha.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa