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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

"AGUARDO AS SURPRESAS DO TEMPO, AGINDO SEM PRECIPITAÇÃO. SE CADA NOITE É NOVA SOMBRA, CADA DIA É NOVA LUZ". CHICO XAVIER--A VIDA É FEITA DE RECOMEÇOS. EVA IBRAHIM

                  
                               UM AMIGO PARA ANTONIO
                                       CAPÍTULO 6
            Fazia três meses que ele sepultara a esposa e a solidão estava pesada demais, temia ficar louco. Odiava os finais de semana, pois, sozinho em casa ele ficava pior. Era começo da tarde de sábado e Antonio não sabia o que fazer com sua folga; comia salgadinhos, tomava uma cerveja e sentava no banco da praça para observar as pessoas passando. Imaginava as piores situações para cada uma delas. 
        - Estava parecendo uma ave de mau agouro, pensou Antonio, tristonho.
Sentiu seu corpo arrepiando, quando passou um homem correndo e alguém ao seu lado observou:
        - Lá vai o Bernardo, está sempre com pressa! Parece que nasceu de sete meses, não para nem para um dedo de prosa. Qualquer dia vai ter um mal súbito e nem viu a vida passar. Todas as pessoas precisam conversar e fazer amigos senão ficam piradas. Existe um limite entre a sanidade e a loucura e se ultrapassar nunca mais voltará ao normal- Antonio balançou a cabeça concordando e pensou:
        - Vou arrumar um amigo que possa ouvir minhas queixas.
 – É isso mesmo, vou fazer de “Bernardo” meu amigo e confidente; nunca mais ficarei só.
Nesse momento surgiu uma ideia em sua cabeça transtornada; era uma luz dentro de tanta escuridão.
         Levantou-se rapidamente, precisava encontrar uma loja de artesanatos nordestinos; daria “vida” a um novo amigo. Seria seu companheiro para todas as horas. Depois de muito caminhar, Antonio deparou com uma grande feira; ali havia todo tipo de quinquilharias e alimentos. O homem apalpou a algibeira para certificar-se que o dinheiro estava lá e adentrou em meio à multidão. No meio das pessoas empurrando pra cá e empurrando pra lá, Antonio viu uma barraca de artesanato e parou para assuntar.
        O nordestino tinha muitas coisas bonitas, mas nada que satisfizesse o homem; tinha que ser um boneco especial como os que desfilam no carnaval de Olinda. Ele era de Olinda e conhecia bem as festas de rua e seus blocos carnavalescos. Antonio queria um boneco de tamanho natural. Iria vestir roupas no novo amigo e fazer dele uma pessoa para conversar e ser seu companheiro, explicou ao feirante.
 Severino estava acostumado com gente de tipos diferentes.
       -Porém, este parecia estranho, talvez tivesse algum problema mental.
Pensou o velho nordestino.
Mostrou tudo o que tinha ali e nada agradou ao freguês, por isso Severino resolveu mandá-lo para uma velha conhecida que confeccionava bonecas. “Raimunda das bonecas” era Alagoana e tinha um pequeno ateliê num fundo de quintal, onde ganhava a vida. Antonio foi ao endereço indicado e gostou do trabalho da mulher encomendando um boneco do tamanho e jeito que ele imaginava. Tinha um plano para suprir a falta da mulher e começaria dando os pertences dela para um asilo. Abriu a casa e limpou tudo; lavou as roupas e o quintal; estava animado e feliz.
          Mais tarde saiu e procurou o Canil da Prefeitura para escolher um cão, queria que ele fizesse companhia a Bernardo. Iria buscar o boneco na sexta-feira e faria tudo para que ele ficasse feliz em sua nova casa. O canil estava lotado de cães e parecia que todos queriam ser adotados, faziam festa para Antonio abanando os rabos.
O homem ficou confuso e demorou a se decidir; o que mais lhe agradou foi um cão que parecia um lobo. Um cachorro de médio porte, mestiço de vira-latas, com pelos longos e cor de mel. O cachorro era esperto, manso e quando o viu se aproximar, abanou o rabo desesperadamente.
         O homem saiu com o cão na coleira e o conduziu á sua casa. Tinha uma ideia, a comida que o Bernardo não comesse seria do “Lobo”, o cão que fora adotado para ser companheiro do boneco. Só assim ele poderia sair para o trabalho, não desperdiçava comida e teria companhia para as refeições.
         Foi uma semana de muitas compras: roupas para o amigo, comida, uma casa para o “Lobo” e ração para cães. Ligou para a Raimunda, queria saber se o amigo estava pronto e saiu para buscá-lo.
Como ele estava sem automóvel, no caminho comprou uma mala grande que coubesse o boneco dentro, era o jeito que encontrara para que ninguém o visse. Era seu segredo e ele o guardaria a sete chaves, se fosse preciso. Raimunda nada questionou, entregou a encomenda e recebeu o dinheiro.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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