“QUEM DERA SER UM PEIXE”
CAPÍTULO
QUATRO
Finalmente chegou a minha vez e, eu fui conduzida a um aposento, onde me deram um avental
para vestir, uma toca para cobrir os cabelos e sapatos cirúrgicos. Depois fui
levada à sala de anestesia, estava com o coração apertado; o medo me deixava
aflita. Eu não sabia o que iria acontecer, isto é, a dinâmica da cirurgia. Na
sala ampla, de cores claras e ar refrigerado, estavam o anestesista e um
profissional da enfermagem, alegres e brincalhões.
Havia
duas poltronas reclináveis, uma já estava ocupada pela paciente que fora
chamada antes de mim, que logo foi conduzida ao centro cirúrgico. Recebi as
orientações de praxe, uma punção venosa com soro e muitos pingos de colírios no
olho doente. Fiquei aguardando a minha vez, confortavelmente instalada e
trocando uma prosa leve com o anestesista. Ao fundo havia uma música sendo
cantada pelo cantor Fagner: “Borbulhas de amor”. A sala de cirurgia ficava ao
lado e através da enorme porta de vidro, dava para ver as pessoas circulando a
cirurgia, que ocorria lá dentro.
Mas, como tudo tem sua hora, a minha
também chegou e eu enfrentei a cirurgia com muita garra. Correu tudo bem e
quando sentei na mesa para me levantar percebi que continuava enxergando com o
olho operado. Caiu por terra o meu medo de ficar cega e sai dali acompanhada de
uma enfermeira, que me conduziu ao quarto onde ficaram minhas roupas. Depois me
serviu um café da manhã. Estava tudo bem, agradeci a Deus.
As
primeiras vinte e quatro horas são difíceis, os olhos ficam lacrimejando e
parece que tem areia dentro. É o momento para repousar em um quarto a meia luz,
com a televisão ligada ao fundo. Nos horários determinados é preciso pingar os
colírios e ficar longe dos perigos já alertados.
As
orientações foram a seguinte: ficar longe do fogão, proibido cozinhar, lavar,
passar roupas e abaixar abaixo da cintura. Então, o que fazer?
Nada,
nada e nada. Ficar deitada repousando e deixar o tempo passar, pois, depois de
sete dias teria a cirurgia do segundo olho. No dia seguinte há o retorno ao
consultório médico e as melhoras vão acontecendo a cada dia. Podemos ler,
escrever, assistir televisão e usar o computador, com certa dificuldade, é bem
a realidade.
Quando
chegou o dia da cirurgia do outro olho, foi tudo muito mais tranquilo, pois, já
conhecia a rotina e o que é conhecido não inspira medo. Na verdade eu queria
sumir dali, porém, não dava para ficar com uma lente de graus em um lado só do
rosto; seria motivo de risos, com certeza.
A
cirurgia do segundo olho aconteceu com o fundo musical na voz de Maria
Bethânia, cantando “Casinha branca” da autoria de Peninha. Isto é, ...Eu queria
ter na vida simplesmente, um lugar de mato verde pra plantar e pra colher...”
A
recuperação aconteceu rapidamente e eu voei para minha casa, deixando o
aconchego do lar da minha filha, onde quebrei meus paradigmas.
Aqui
termina a história de uma catarata que não existe mais e eu estou muito bem,
vendo tudo com lentes de zero graus e sem óculos.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Iniciaremos
uma nova história na próxima semana.