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quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

"A FELICIDADE" "(...) A FELICIDADE É UMA COISA BOA E TÃO DELICADA TAMBÉM. TEM FLORES E AMORES DE TODAS AS CORES. TEM NINHOS DE PASSARINHOS, TUDO DE BOM ELA TEM. E É POR ELA SER ASSIM, TÃO DELICADA, QUE EU TRATO DELA SEMPRE MUITO BEM. TRISTEZA NÃO TEM FIM, FELICIDADE SIM". '(..) VINÍCIUS DE MORAES

COMO UMA PLUMA

CAPÍTULO QUATRO

            Foi a primeira noite que Daniela dormiu em paz, depois do aborto. As palavras do padre caíram como um bálsamo em seu coração. No dia seguinte, a moça foi com Mateus buscar seus pertences no apartamento, onde morava com uma amiga. Então, passou a morar com seu noivo, que assim poderia ficar mais tranquilo, sabendo que ela estava bem. Todos os dias saiam juntos para o trabalho.

            Daniela precisava de apoio, para se recuperar do trauma sofrido ao perder o bebê. Era uma dor sem muita consistência, um sonho de acalentar o filho, que nunca viu ou sentiu. O aborto aconteceu prematuramente e não havia lembranças físicas de sua presença.

            O noivo agia como um psicólogo em relação ao assunto, para ele o bebê ficou no passado e ele queria sua mulher de volta, pois a amava muito. Precisava reconstruir a relação de cumplicidade, que havia entre eles, antes do episódio traumático.

            Aos poucos e com muito carinho e compreensão, Daniela voltava a sorrir, apesar de algumas vezes, dormir chorando. A tristeza tomava conta da moça, especialmente quando via crianças com suas mães, ou quando parava em frente a vitrines de lojas especializadas em roupas para recém-nascidos. Mateus evitava lugares onde a moça pudesse ficar emocionada.

            Assim, a vida continuava e o casamento estava adiado, para quando a noiva se sentisse recuperada. Disseram ao pai dela, que a situação estava difícil e iriam esperar mais um pouco para o enlace. Portanto, ganhavam tempo para arrumar as coisas necessárias para as bodas.

                Pouco a pouco, ela foi voltando a ser a mesma moça alegre, que Mateus conhecera e se apaixonara. O final do ano se aproximava e eles faziam planos para o casamento e, quem sabe, uma nova gravidez. Havia se passado cinco meses do aborto e decidiram que já estava na hora de regularizar a situação.

             Voltaram à casa dos pais da jovem e combinaram o casamento para o final de dezembro, queriam iniciar o ano casados. Havia planos para uma lua de mel em Caraguatatuba. Precisavam voltar ao lugar onde Daniela perdeu seu primeiro filho, para passar uma borracha naquele sofrimento.

            Na prática, já estavam casados, apenas a família da moça não sabia que moravam juntos. Tudo resolvido e eles se acomodaram, deixando de lado os cuidados para não engravidar.

           A jovem estava no trabalho, quando olhou para o calendário sobre sua mesa, então, de um estalo percebeu, que sua menstruação estava atrasada. Na hora do almoço, falou de suas suspeitas para Mateus, que prometeu passar na farmácia para comprar um teste de gravidez.

                Chegando em sua casa, o rapaz entregou o teste para sua noiva, ambos estavam ansiosos. E, quando a fita coloriu dois risquinhos, ambos se abraçaram. Daniela estava grávida novamente e a esperança apareceu estampada nos olhos dos dois. O choro foi inevitável, a emoção envolveu o casal. No entanto, uma pergunta ficou no ar.

               Será que teriam forças para reviver toda aquela situação de medo e incertezas? A ferida ainda estava aberta, precisavam da ajuda de um profissional.

            No dia seguinte, foram ao ginecologista, precisavam de esclarecimentos ou ficariam doidos. O médico, que conhecia toda aquela história, sorriu e deu os parabéns ao casal.

             - Você precisa se submeter a alguns exames, ficar atenta a qualquer sinal de dor ou sangramento, no mais terá que seguir as orientações e, com certeza, tudo correrá bem. Foi o que o médico disse.

                O profissional experiente foi convincente, acalmou o casal, que saiu dali com muitas esperanças, de ter o filho tão desejado. A alegria voltou ao rosto de Daniela, que nesse momento se lembrou de sua professora dizendo, que precisamos praticar a resiliência.

               Saíram abraçados, já não estavam sós, a moça trazia um novo ser em seu ventre. Mateus, então disse:

           - Precisamos contar para todos os familiares, nosso filho já está a caminho.

                - Sim meu amor, mas, antes vamos regularizar nossa situação, meus pais ficarão alegres com nosso casamento. Depois receberão a notícia de que serão avós. Respondeu a moça sorrindo.

            O rapaz não se conteve e a beijou no meio da rua, estava muito feliz.

            Pessoas que passavam pelo local, pararam para admirar a manifestação de amor em público. Em seguida, o casal saiu do local rindo, nada importava naquele momento; estavam leves como uma pluma pairando no ar.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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