O
LOBISOMEM
CAPÍTULO
TRÊS
Com
a plateia acomodada e quieta para ouvir a história do lobisomem, Raimundo
limpou a garganta com um forte pigarro seguido de uma cusparada e, depois
começou falando:
- Em uma noite de quinta para sexta
feira da paixão de Cristo, dois pescadores ficaram até tarde na beira do rio.
Pretendiam obter alguns peixes para o almoço do dia seguinte. Era pecado comer
carnes, podiam ser consumidos apenas peixes.
Com a luz forte da lua cheia
iluminando o rio, que mais parecia um grande espelho, os dois amigos se
concentraram na pesca. Fazia horas que tentavam fisgar alguns lambaris e nada
conseguiam. Não poderiam desistir, pois tinham prometido às suas esposas levar
mistura para o almoço.
O tempo passou e eles não perceberam,
mas ao dar meia noite, eles ouviram um estrondo estarrecedor e saíram correndo
de medo. Ficaram escondidos atrás do terreiro onde ficava o barraco de Tião Bento.
Havia mato alto e eles adentraram em meio a algumas moitas de cipreste.
Com a respiração presa e morrendo de
medo, viram quando um enorme cachorro, mais parecido com um lobo, saiu dos
fundos do casebre, espantando as galinhas. Ali era o galinheiro e o animal
enraivecido olhava para trás, arreganhando os dentes. Ele tinha os olhos
vermelhos como sangue e espumava pela boca.
Os dois homens ficaram paralisados temendo
pela própria vida, escondidos atrás das moitas. Eles não podiam sair, pois, o bicho
corria ao redor do barraco, ia até o rio e voltava enraivecido. De vez em
quando, soltava uns sons, que mais pareciam urros de raiva.
A noite foi longa e os dois pescadores não fecharam os olhos. Quando
estava para o Sol nascer, o animal enfurecido adentrou ao galinheiro e, com um
urro ensurdecedor voltou a sua forma primitiva de ser humano.
Tião Bento, um homem simples, todo sujo de
fezes e penas de galinhas, saiu dali mancando e foi tomar banho no rio. Então, os
dois pescadores puderam escapar das moitas e voltar para suas casas. Chegaram
de mãos vazias, mas juraram por todos os santos, que nunca mais sairiam de casa
nas noites de sextas-feiras e muito menos nas sextas-feiras de lua cheia.
-
Por hoje chega, vão dormir e amanhã continuaremos, disse o jagunço com um olhar
de satisfação. Ele tinha prazer em provocar medo nas pessoas, principalmente
nas crianças.
As
pessoas trataram de se levantar e as crianças se agarraram a elas. Depois
seguiram para suas casas, tremendo de medo. Ninguém queria dormir no escuro e
as lamparinas arderam a noite toda.
Depois
dessa história houve mudança na educação das crianças. As mães se apegaram ao temor dos filhos e
quando desobedeciam, elas diziam que iriam chamar o lobisomem; imediatamente
todas elas se aquietavam. Era uma maneira grotesca de manter a ordem entre os
pequenos.
Um
texto de Eva Ibrahim