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quarta-feira, 18 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL" - XUXA - "...ME DAR TODA CORAGEM QUE PUDER, QUE NÃO ME FALTE FORÇAS PRA LUTAR. VAMOS COM VOCÊ, NÓS SOMOS INVENCÍVEIS, PODE CRER. TODOS SOMOS UM, E JUNTOS NÃO EXISTE MAL NENHUM..." MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS

O LOBISOMEM

CAPÍTULO TRÊS
             Com a plateia acomodada e quieta para ouvir a história do lobisomem, Raimundo limpou a garganta com um forte pigarro seguido de uma cusparada e, depois começou falando:

            - Em uma noite de quinta para sexta feira da paixão de Cristo, dois pescadores ficaram até tarde na beira do rio. Pretendiam obter alguns peixes para o almoço do dia seguinte. Era pecado comer carnes, podiam ser consumidos apenas peixes.

         Com a luz forte da lua cheia iluminando o rio, que mais parecia um grande espelho, os dois amigos se concentraram na pesca. Fazia horas que tentavam fisgar alguns lambaris e nada conseguiam. Não poderiam desistir, pois tinham prometido às suas esposas levar mistura para o almoço.

          O tempo passou e eles não perceberam, mas ao dar meia noite, eles ouviram um estrondo estarrecedor e saíram correndo de medo. Ficaram escondidos atrás do terreiro onde ficava o barraco de Tião Bento. Havia mato alto e eles adentraram em meio a algumas moitas de cipreste.

           Com a respiração presa e morrendo de medo, viram quando um enorme cachorro, mais parecido com um lobo, saiu dos fundos do casebre, espantando as galinhas. Ali era o galinheiro e o animal enraivecido olhava para trás, arreganhando os dentes. Ele tinha os olhos vermelhos como sangue e espumava pela boca.

           Os dois homens ficaram paralisados temendo pela própria vida, escondidos atrás das moitas. Eles não podiam sair, pois, o bicho corria ao redor do barraco, ia até o rio e voltava enraivecido. De vez em quando, soltava uns sons, que mais pareciam urros de raiva.

          A noite foi longa e os dois pescadores não fecharam os olhos. Quando estava para o Sol nascer, o animal enfurecido adentrou ao galinheiro e, com um urro ensurdecedor voltou a sua forma primitiva de ser humano.

            Tião Bento, um homem simples, todo sujo de fezes e penas de galinhas, saiu dali mancando e foi tomar banho no rio. Então, os dois pescadores puderam escapar das moitas e voltar para suas casas. Chegaram de mãos vazias, mas juraram por todos os santos, que nunca mais sairiam de casa nas noites de sextas-feiras e muito menos nas sextas-feiras de lua cheia.

- Por hoje chega, vão dormir e amanhã continuaremos, disse o jagunço com um olhar de satisfação. Ele tinha prazer em provocar medo nas pessoas, principalmente nas crianças.

As pessoas trataram de se levantar e as crianças se agarraram a elas. Depois seguiram para suas casas, tremendo de medo. Ninguém queria dormir no escuro e as lamparinas arderam a noite toda.

Depois dessa história houve mudança na educação das crianças.  As mães se apegaram ao temor dos filhos e quando desobedeciam, elas diziam que iriam chamar o lobisomem; imediatamente todas elas se aquietavam. Era uma maneira grotesca de manter a ordem entre os pequenos.
Um texto de Eva Ibrahim

MEU MUNDO REINVENTADO.

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