O MILAGRE
AS FÉRIAS
CAPÍTULO UM
O dia demorou a passar, Edileusa
já não sabia quantas vezes tinha olhado no relógio. A moça estava ansiosa, era
seu último dia de trabalho, antes de suas férias. Ela solicitou as férias para
viajar para sua cidade natal, queria rever seus familiares e participar da
festa do Círio de Nazaré.
Precisava, desesperadamente, de um milagre da
Virgem de Nazaré. Não queria e não podia contar para ninguém, o que estava acontecendo
com ela. Sua mãe já era idosa e não aguentaria uma notícia ruim; tinha a
saúde abalada.
Fazia uma semana que a jovem não
conseguia dormir. O pouco que cochilava, acordava aos sobressaltos.
– Será que vou morrer? Estou me
sentindo bem, a morte deve ser outra coisa. Pensava com enorme preocupação. Em
seguida, levava a mão ao seio direito; era ali que estava o problema.
Naquela mama ela sentia um caroço, que a levara a procurar o atendimento no Pronto Socorro. No momento da consulta, ela viu preocupação nos olhos do médico. Quando apalpou sua mama, ele contraiu os lábios e seu rosto se fechou. Com calma, ele foi reticente e cuidadoso ao dizer que precisava fazer uma biópsia, para saber se aquele achado era benigno ou maligno. A moça tremeu e gaguejou:
- É necessário mesmo, doutor?
- Sim, quanto antes iniciarmos o tratamento correto, melhor será o prognóstico. Respondeu o médico, que estava concentrado, escrevendo na ficha da paciente.
Edileusa, que já estava preocupada
pelos causos, que ouvira falar sobre caroços nos seios, ficou apavorada. No
entanto, ela não tinha outra saída e se submeteu à biópsia. Foi orientada a
retornar ao local após vinte dias, para saber o resultado. Esse tempo seria um
martírio em sua vida, a não ser que apelasse para a santa de sua fé.
Ela não tinha mais sossego e foi à igreja
fazer uma promessa para a Virgem de Nazaré.
A jovem era nativa de Belém do Pará e quando apareceu uma oportunidade
para trabalhar em São Paulo, prontamente ela aceitou, precisava ajudar sua
família.
Assim, o tempo corria e já fazia seis anos
desde esse dia e nunca mais tinha voltado à sua terra natal. Mandava dinheiro,
mensalmente, para ajudar sua mãe e o pouco que sobrava, ela punha na poupança.
A nortista, como tantas outras,
trabalhava na produção de uma metalúrgica, era pessoa séria e trabalhadora.
Morava em uma vila de operários e namorava com Caetano, seu colega de trabalho.
Os dois tinham planos de casamento e ele também guardava todo o dinheiro que
sobrava, pensando no futuro.
Sem saber o que fazer, a moça apreensiva, estava à espera do resultado da biópsia e com esse fantasma de
doença em sua cabeça, pediu férias. Queria participar do Círio de Nazaré, tinha
a esperança de receber o milagre pedido. A santa é conhecida e venerada por
seus milagres; a festa em seu louvor, reúne milhares de pessoas de todos os
lugares do Brasil.
O Círio de Nazaré acontecerá no dia treze de
outubro de dois mil e dezenove, no domingo. Com certeza, Edileusa e Caetano estarão suplicando aos pés
da virgem, que lhes conceda a graça, de fazer aquele caroço ser de origem
benigna. Ela tinha somente vinte e oito anos e era jovem demais para morrer;
dizia com os olhos cheios de lágrimas.
Finalmente, o casal estava na rodoviária esperando o ônibus, para uma longa viagem carregada de esperanças.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa