A CORRERIA PELA VIDA
CAPÍTULO
DOIS
O menino, com apenas treze anos de idade, era valente e destemido, mas
tinha uma estatura mediana e um corpo franzino; na verdade, era um magricela
fraco. Essa condição física não ajudava muito em ocasiões especiais.
Benjamim deu muito trabalho para
seus pais, foi uma criança doente e, na adolescência sua saúde não era das
melhores. A mãe vivia preocupada com o filho, era seu foco principal.
Esse acidente com o cavalo aconteceu
em um mil novecentos e sessenta e seis, então, no interior de Minas Gerais, as
estradas eram de terra e os hospitais bastante precários. A cidade ficava a uma hora de carroça daquela
localidade, com dois bons cavalos e tempo firme.
Dirceu e o pai de Saulo, com a ajuda
de outros companheiros, colocaram Benjamim na caçamba de uma carroça, cujo dono
aparecera ali para ajudar. Ele foi colocado sobre a manta da sela de Corisco, coberto
com o paletó do pai e um pedaço de encerado de cobertura de terreiro de café.
Depois, seguiram rápido pelas estradas estreitas e tortuosas; não poderiam perder tempo.
O menino tremia desesperadamente, estava
febril, consequência do trauma sofrido e da friagem da noite. Rui, o irmão mais
velho de Benjamim, ficou encarregado de avisar a mãe e acalmar seu coração.
Voltou para sua casa correndo com notícias do irmão.
A
carroça, finalmente, chegou ao pequeno hospital da cidade de Toledo e adentraram
à emergência com o menino estropiado nos braços. Os dois homens estavam
cansados, empoeirados e aflitos, mal conseguiam contar ao médico sobre o fato
ocorrido. As estradas esburacadas e a poeira formada pelo tempo seco, só
atrapalharam o socorro ao acidentado. Demoraram mais do que o costume e o
menino parecia morto; estava desfalecido.
Dois enfermeiros, com o olhar de consentimento
do velho médico e, diante da situação do menino, se apoderaram da maca onde o
menino fora colocado. Em seguida, desapareceram com ele corredor a fora. Havia
urgência naquele atendimento.
O doutor seguiu com passos rápidos devido à
gravidade da situação. Mais uma vez, a sua competência seria testada e ele
precisava da ajuda de Deus. Naquela casa de saúde faltavam muitos aparelhos
necessários, mas a figura de Cristo na Cruz estava por toda parte, guardando os
desvalidos.
Dirceu
e o amigo ficaram parados na porta sem saber o que fazer, depois saíram para
tomar um pouco de ar puro. O Sol já tomava conta de tudo; mais um dia começava
e as pessoas chegavam para o trabalho diário.
O tempo corria, já fazia quase
três horas e nenhuma notícia do menino, então, Dirceu foi até o guichê da
recepção para saber do filho. A resposta veio seca e definitiva:
- Estão em cirurgia até agora, por
isso toda esta gente está aguardando o médico.
O homem, que era tímido, se afastou e foi ter com o
companheiro, que disse:
- Ele estava muito mal, por isso
está demorando tanto, vamos fazer uma oração. E os dois homens simples baixaram
as cabeças e rezaram o “Pai Nosso”; eram tementes a Deus.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa