VOCÊ É
MEU AMADO
CAPÍTULO
NOVE
O ano começou com muita chuva, as pessoas
permaneciam muito tempo dentro de casa. Havia um clima de nostalgia no ar, precisavam
do Sol para dissipar aquela nuvem cinzenta, que teimava em permanecer cobrindo
os céus e deprimindo as pessoas.
Serena estava com sintomas de
depressão, andava chorando pelos cantos da casa. A mãe agradeceu a Deus
quando chegou o dia da filha voltar ao trabalho. O retorno fez bem a ela, pois,
rever os colegas de trabalho lhe devolvera o ânimo, para aguardar o retorno de
Vitor.
Cristal ficava com a avó; crescia firme e
forte. Tornara-se a alegria da casa, uma criança risonha e calma; adormecia
cedo e não dava trabalho. Mas, as noites de Serena eram de muita solidão,
faltava o seu amor para compartilhar os momentos felizes com a filha.
Vitor
era constante em suas mensagens, queria muito estar presente, mas teria que
esperar o desligamento de toda a tropa, que servia no Haiti. E, quando voltasse
iria se casar com a mãe de sua filha e os três viveriam felizes para sempre;
era o que mais desejava.
Serena
ansiava por esse dia, queria ter uma vida em família de verdade com pai, mãe e
filha juntos. Ela se preparava diariamente para receber seu amor. Comprara
enxoval para montar sua casa e fazia planos para viver com seu marido.
Os
meses corriam rápido e nada acontecia. Vítor queria voltar e ficar em seu país
com sua mulher e filha juntos para sempre. Ele temia vir apenas na folga e não
querer voltar mais, porque se tornaria um desertor. Então, evitava pedir folgas
para visitar a família, sonhava retornar definitivamente ao seu país.
Em
uma apresentação da tropa, por ocasião das comemorações do dia do trabalho, foi
lida uma nota oficial. No comunicado as autoridades diziam, que aquela tropa
voltaria ao Brasil no começo do mês de setembro. Os soldados se entreolharam e
alguns deixaram lágrimas rolarem pelo rosto, sem que exprimissem qualquer movimento
visível.
Permaneceram em sentido, mas com o coração
dando pulos de alegria. A maioria deles estavam exaustos de tudo aquilo;
queriam, desesperadamente, voltar para casa.
Vítor
mandou uma mensagem para Serena contando a novidade e ela gritou de alegria.
Estava muito feliz e começaria os preparativos para o casamento. Faltavam
quatro meses, mas agora tinham uma data para aguardar e poderiam fazer planos.
Com a esperança de um retorno próximo, Vitor estava animado para rever Serena e
conhecer sua filha.
O
dia da volta ao lar fora fixada no mural para ciência de todos os envolvidos.
Dia seis de setembro eles chegariam para se unir as suas famílias. Cristal
estaria com dez meses de idade quando seu pai chegasse. A menina, com apenas
seis meses, já conhecia as pessoas, sorria, engatinhava; era uma criança
saudável e bonita, que faria a alegria de seu pai.
Serena
não se aguentava de felicidade, queria muito rever seu amor. A chegada do avião
estava prevista para as doze horas do dia seis de setembro no aeroporto de
Brasília, no mesmo local onde embarcaram para a missão de paz. O local de desembarque
estava cheio de gente; ali havia parentes amigos e conhecidos dos soldados
Boinas Azuis.
Quando
o avião taxiou na pista, Serena pensou que iria enfartar; seu coração disparou
e ela precisou dar a filha para sua mãe segurar. O avião da força aérea
brasileira se aproximou lentamente da área restrita e, depois de algum tempo
foi colocada a escada para os integrantes da missão de paz descerem. Todos
chegavam ao topo da escada e davam uma paradinha para respirar o ar puro de seu
país. Depois, desciam ansiosos com a mochila nas costas, olhando atentamente
para reencontrar os seus familiares.
Serena,
com a Cristal no colo, parecia desesperada com o pescoço esticado, para rever
seu amor. Os soldados estavam mais morenos, pareciam queimados de Sol. Passou
um, dez, quinze e nada de Vítor; então, Serena queria chorar, havia um nó em
sua garganta. Finalmente, lá no meio ela vislumbrou a figura inconfundível de
seu amor.
Vitor
se aproximou e duas lágrimas rolaram de seu rosto, em seguida, abraçou as duas
mulheres em um único abraço. Depois pegou a filha no colo dando a mochila para
Serena, que olhava extasiada para a situação tão desejada. Ela se recostou em
seu ombro e lhe disse:
- Você é meu amado.
Trocaram beijos e sorrisos, depois, Vitor aproximou-se dos pais da moça, cumprimentando-os e agradecendo
por terem cuidado das suas preciosidades. Todos entraram no automóvel e
seguiram para uma nova vida de muito amor. Finalmente a família estava
completa: pai, mãe e filha.
E, uma vida feliz os esperava.
Um texto de Eva Ibrahim