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quarta-feira, 11 de novembro de 2020

"NOSSA SENHORA" "CUBRA-ME COM SEU MANTO DE AMOR, GUARDA-ME NA PAZ DESSE OLHAR. CURA-ME AS FERIDAS E A DOR, ME FAZ SUPORTAR. QUE AS PEDRAS DO MEU CAMINHO, MEUS PÉS SUPORTEM PISAR. MESMO FERIDO DE ESPINHOS ME AJUDE A PASSAR. SE FICARAM MÁGOAS EM MIM, MÃE TIRA DO MEU CORAÇÃO.(...)" COMPOSITORES: ROBERTO CARLOS/ ERASMO CARLOS.

                                           O MONÓLOGO

CAPÍTULO SETE

               Mais alguns dias e o casal teria que retornar ao seu domicílio, o trabalho os esperava. Edileusa estava esperançosa, havia cumprido a promessa feita na hora da angustia, no entanto, queria ir à Basílica e se ajoelhar diante da Santa. Pensava que precisava reiterar seu pedido, pois entre milhares de promessas de peregrinos queria ter a certeza, de que seria ouvida.

               A missa terminou, mas a moça continuou sentada no banco, não estava com pressa. Na verdade, ela aguardava uma oportunidade, queria conversar a sós com a Santa. A maioria dos fiéis deixaram a Basílica, os objetos litúrgicos utilizados para a bênção da hóstia foram guardados, o Bispo e os padres se recolheram. Algumas pessoas se demoravam por ali, pequenos grupos rezavam em silêncio.

              Os pássaros, moradores dos vãos do teto e da nave da igreja, começaram seus voos rasantes, pareciam felizes. O órgão deu seus últimos acordes e sua tampa baixou. As mãos, que tocavam músicas alusivas ao Círio de Nazaré, foram retiradas e seu dono apanhou as partituras. Em seguida, o organista saiu de mansinho, com jeito de dever cumprido; era o fim de mais uma cerimônia religiosa.

               O silêncio se estabeleceu ali e qualquer som fazia um eco assombroso. A Basílica era grande e suntuosa, vazia chegava a ser assustadora. Edileusa levantou-se e observou, que havia apenas umas dez pessoas ali no recinto. Então, encaminhou-se até o altar e ajoelhou-se diante da Virgem. Do seu coração começou a sair o monólogo mais sincero, que já dissera para si mesma.

              - Mãe Santíssima, estou aqui de joelhos lhe implorando, que aceite o meu gesto e a promessa que eu fiz e cumpri. Voltarei para meus afazeres e ficarei sabendo o resultado do meu exame. Para mim, significa a vida ou a morte. Me conceda a vida senhora e, eu lhe serei grata para sempre. Amém.

             As lágrimas foram inevitáveis, estava sob pressão intensa. O médico não lhe dera esperanças, tudo levava a crer tratar-se de um câncer agressivo. 

             Caetano, que aguardava lá fora, entrou para ver porque sua namorada demorava tanto.

              A Basílica já estava vazia nesse momento e ele tocou o ombro da moça, que parecia em transe, então disse:

          - Vamos, já é tarde. E ficou parado esperando ela levantar-se.

            Edileusa, chorando, o abraçou e seguiram em frente, nada mais poderia ser feito, estavam nas mãos divinas. O rapaz, emocionado, disse para sua amada:                             

            - Tem que confiar, você não poderia estar em melhores mãos, são as mais piedosas possíveis.

             No dia seguinte, arrumaram as malas, voltariam de avião, estavam cansados da grande jornada vivida e não aguentariam outra viagem de ônibus. A moça não contou o motivo da visita para sua mãe, não queria assustá-la. Á noite, despediram-se de Helena no aeroporto e embarcaram de volta para casa.

            Quando já estavam acomodados, Edileusa, em um gesto instintivo, levou a mão ao seio comprometido e constatou, que o caroço continuava crescendo em seu corpo. Caetano percebeu o gesto de sua namorada e a apertou num abraço. O casal levava consigo a esperança do milagre pretendido.

            O tempo passou rápido e chegou o dia da consulta médica, na qual seria revelado o resultado do exame de biopsia da mama de Edileusa. Ela não conseguiu dormir, estava muito ansiosa. Faltavam duas horas para a consulta e ela já estava pronta, esperando Caetano se preparar.

             A paciente tomou um copo de leite e nada mais passava em sua garganta; parecia ter um nó parado ali. O rapaz dirigia em um trânsito caótico e ela queria que ele fosse rápido.  Ele pedia calma, mas ela não conseguia se acalmar, parecia enlouquecida.

             Finalmente, estavam na sala de espera do mastologista, esperando a chamada do nome da paciente. E, quando chamaram, Caetano teve que amparar a namorada.

            Com calma o médico pegou o envelope e abriu. Parou por alguns momentos para certificar-se do resultado e disse:

            - Vamos marcar cirurgia para a retirada desse nódulo, será o mais breve possível.

           A moça ficou desfigurada e começou a tremer.

           Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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