CAPÍTULO
SETE
Mais alguns dias e o casal teria
que retornar ao seu domicílio, o trabalho os esperava. Edileusa estava
esperançosa, havia cumprido a promessa feita na hora da angustia, no entanto,
queria ir à Basílica e se ajoelhar diante da Santa. Pensava que precisava
reiterar seu pedido, pois entre milhares de promessas de peregrinos queria ter
a certeza, de que seria ouvida.
A missa terminou, mas a moça continuou sentada
no banco, não estava com pressa. Na verdade, ela aguardava uma oportunidade,
queria conversar a sós com a Santa. A maioria dos fiéis deixaram a Basílica, os
objetos litúrgicos utilizados para a bênção da hóstia foram guardados, o Bispo
e os padres se recolheram. Algumas pessoas se demoravam por ali, pequenos
grupos rezavam em silêncio.
Os pássaros, moradores dos vãos
do teto e da nave da igreja, começaram seus voos rasantes, pareciam felizes. O
órgão deu seus últimos acordes e sua tampa baixou. As mãos, que tocavam músicas
alusivas ao Círio de Nazaré, foram retiradas e seu dono apanhou as partituras.
Em seguida, o organista saiu de mansinho, com jeito de dever cumprido; era o
fim de mais uma cerimônia religiosa.
O silêncio se estabeleceu ali e
qualquer som fazia um eco assombroso. A Basílica era grande e suntuosa, vazia
chegava a ser assustadora. Edileusa levantou-se e observou, que havia apenas
umas dez pessoas ali no recinto. Então, encaminhou-se até o altar e ajoelhou-se
diante da Virgem. Do seu coração começou a sair o monólogo mais sincero, que já
dissera para si mesma.
- Mãe Santíssima, estou aqui de
joelhos lhe implorando, que aceite o meu gesto e a promessa que eu fiz e
cumpri. Voltarei para meus afazeres e ficarei sabendo o resultado do meu exame.
Para mim, significa a vida ou a morte. Me conceda a vida senhora e, eu lhe serei
grata para sempre. Amém.
As lágrimas foram inevitáveis, estava sob pressão intensa. O médico não lhe dera esperanças, tudo levava a crer tratar-se de um câncer agressivo.
Caetano, que
aguardava lá fora, entrou para ver porque sua namorada demorava tanto.
A Basílica já estava vazia nesse momento e ele
tocou o ombro da moça, que parecia em transe, então disse:
- Vamos, já é tarde. E ficou parado
esperando ela levantar-se.
Edileusa, chorando, o abraçou e
seguiram em frente, nada mais poderia ser feito, estavam nas mãos divinas. O
rapaz, emocionado, disse para sua amada:
- Tem que confiar, você não poderia
estar em melhores mãos, são as mais piedosas possíveis.
No dia seguinte, arrumaram as
malas, voltariam de avião, estavam cansados da grande jornada vivida e não
aguentariam outra viagem de ônibus. A moça não contou o motivo da visita para
sua mãe, não queria assustá-la. Á noite, despediram-se de Helena no aeroporto e
embarcaram de volta para casa.
Quando já estavam acomodados, Edileusa,
em um gesto instintivo, levou a mão ao seio comprometido e constatou, que o
caroço continuava crescendo em seu corpo. Caetano percebeu o gesto de sua
namorada e a apertou num abraço. O casal levava consigo a esperança do milagre
pretendido.
O tempo passou rápido e chegou o
dia da consulta médica, na qual seria revelado o resultado do exame de biopsia
da mama de Edileusa. Ela não conseguiu dormir, estava muito ansiosa. Faltavam
duas horas para a consulta e ela já estava pronta, esperando Caetano se
preparar.
A paciente tomou um copo de leite e
nada mais passava em sua garganta; parecia ter um nó parado ali. O rapaz
dirigia em um trânsito caótico e ela queria que ele fosse rápido. Ele pedia calma, mas ela não conseguia se
acalmar, parecia enlouquecida.
Finalmente, estavam na sala de
espera do mastologista, esperando a chamada do nome da paciente. E, quando
chamaram, Caetano teve que amparar a namorada.
Com calma o médico pegou o envelope
e abriu. Parou por alguns momentos para certificar-se do resultado e disse:
- Vamos marcar cirurgia para a
retirada desse nódulo, será o mais breve possível.
A moça ficou desfigurada e começou a
tremer.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa