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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

"MESMO QUANDO TUDO PARECE DESABAR, CABE A MIM DECIDIR ENTRE RIR OU CHORAR, IR OU FICAR, DESISTIR OU LUTAR; PORQUE DESCOBRI NO CAMINHO INCERTO DA VIDA, QUE O MAIS IMPORTANTE É O DECIDIR". CORA CORALINA

AMANHÃ, TALVEZ

CAPÍTULO SETE
           A mulher, com o coração cheio de esperanças, passou o dia bem melhor. Cuidou dos afazeres domésticos e até cantou debaixo do chuveiro; precisava acreditar que Fernando estava se recuperando bem. Aquele foi o primeiro dia de muitos, que ela não chorou. Colocou uma roupa leve e florida, precisava aliviar o peso dos dias mais escuros.

             Antes de sair pegou um terço, que havia ganhado de sua avó e saiu com a intenção de passar na igreja, antes de ir visitar seu esposo. Ajoelhou-se no genuflexório em frente ao Sacrário e com muita devoção seguiu as contas do rosário. Não era de sua rotina rezar o terço, mas tinha a impressão que sabia interpretar cada conta ali disposta e, o fez com muita fé. Depois, seguiu a pé até o hospital onde Fernando se encontrava.

Quando chegou na sala de espera da UTI encontrou Lorenzo, que também queria ver o pai. Ela entrou e o filho ficou esperando ela sair, para visitar o pai. Ao se postar junto a cama de Fernando, Marilia percebeu que ele fazia alguns movimentos com as mãos. E, logo veio um enfermeiro lhe dizer que ele estava acordando, pois, a sedação fora suspensa. Aquele tempo de coma fora um período muito importante para a recuperação dele.

- A partir desse momento, ele já começa a brigar com o aparelho, movendo a cabeça também.  Um bom sinal, ele estava apenas dormindo e voltará à vida, assim que os medicamentos forem eliminados pelo corpo. Todos estamos atentos para o momento da retirada do tubo traqueal de Fernando, que esperamos aconteça nas próximas horas. Explicou com segurança, o profissional da saúde.

                 Marília segurou as mãos de Fernando, que faziam leves movimentos sem direção certa. Ele não estava consciente ainda, mas estava perdido num mundo alheio a tudo aquilo. Fazia oito dias, que Fernando estava no aparelho de respiração artificial em coma induzido.

          Prostrado num leito de hospital, não parecia o mesmo homem. Fernando estava emagrecido e pálido.

         - Ele precisa tomar Sol, pensou Marília.

           Seu coração não estava feliz com aquela situação; tinha pressa em ver seu marido brincando alegre, como sempre fazia.

Saiu do hospital com o filho, que também acompanhava o drama do pai. Os dois caminharam em silêncio, se abrissem a boca iriam chorar; estavam decepcionados. Pensaram que o encontrariam acordado; pura ilusão.

 - Ninguém sai de um coma sem atravessar etapas importantes de recuperação da consciência e sinais vitais estáveis fora da máquina. O paciente precisa voltar a respirar espontaneamente. Um caso grave como o de Fernando, é prematuro fazer planos, devemos aguardar os acontecimentos. Explicou o médico, ao ser interpelado por Lorenzo. Depois continuou:
                 - É preciso manter a calma, temos esperanças que o paciente, em breve, sairá bem dessa situação. Afirmou o médico se afastando rapidamente.

                 Mãe e filho chegaram em casa como se tivessem murchado. Lorenzo foi para a pizzaria ajudar o tio e Marília se recolheu, estava desapontada e triste. Talvez ela tivesse feito poucas orações, então, voltou a rezar pedindo a cura de Fernando. Acabou adormecendo sobre o terço que rezava chorosa. 

          Lorenzo e o tio fecharam a pizzaria por volta da meia-noite e foram para casa. Viram a porta do quarto de Marília entreaberta e foram ver se ela estava bem. Sentiram pena ao ver o terço caído ao lado de sua mão. Em seguida, puxaram a coberta sobre o corpo adormecido e o tio sussurrou para o sobrinho:

- Amanhã, talvez Fernando esteja acordado.

         Em seguida, apagaram a luz e fecharam a porta, desejando um dia melhor para todos. 
Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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