AMANHÃ, TALVEZ
CAPÍTULO SETE
A
mulher, com o coração cheio de esperanças, passou o dia bem melhor. Cuidou dos
afazeres domésticos e até cantou debaixo do chuveiro; precisava acreditar que
Fernando estava se recuperando bem. Aquele foi o primeiro dia de muitos, que
ela não chorou. Colocou uma roupa leve e florida, precisava aliviar o peso dos
dias mais escuros.
Antes
de sair pegou um terço, que havia ganhado de sua avó e saiu com a intenção de
passar na igreja, antes de ir visitar seu esposo. Ajoelhou-se no genuflexório
em frente ao Sacrário e com muita devoção seguiu as contas do rosário. Não era
de sua rotina rezar o terço, mas tinha a impressão que sabia interpretar cada
conta ali disposta e, o fez com muita fé. Depois, seguiu a pé até o hospital
onde Fernando se encontrava.
Quando chegou na sala de espera da UTI encontrou
Lorenzo, que também queria ver o pai. Ela entrou e o filho ficou esperando ela
sair, para visitar o pai. Ao se postar junto a cama de Fernando, Marilia percebeu
que ele fazia alguns movimentos com as mãos. E, logo veio um enfermeiro lhe
dizer que ele estava acordando, pois, a sedação fora suspensa. Aquele tempo de
coma fora um período muito importante para a recuperação dele.
- A partir desse momento, ele já começa a brigar com
o aparelho, movendo a cabeça também. Um
bom sinal, ele estava apenas dormindo e voltará à vida, assim que os
medicamentos forem eliminados pelo corpo. Todos estamos atentos para o momento
da retirada do tubo traqueal de Fernando, que esperamos aconteça nas próximas
horas. Explicou com segurança, o profissional da saúde.
Marília
segurou as mãos de Fernando, que faziam leves movimentos sem direção certa. Ele
não estava consciente ainda, mas estava perdido num mundo alheio a tudo aquilo.
Fazia oito dias, que Fernando estava no aparelho de respiração artificial em
coma induzido.
Prostrado
num leito de hospital, não parecia o mesmo homem. Fernando estava emagrecido e
pálido.
-
Ele precisa tomar Sol, pensou Marília.
Seu
coração não estava feliz com aquela situação; tinha pressa em ver seu marido
brincando alegre, como sempre fazia.
Saiu do hospital com
o filho, que também acompanhava o drama do pai. Os dois caminharam em silêncio,
se abrissem a boca iriam chorar; estavam decepcionados. Pensaram que o
encontrariam acordado; pura ilusão.
- Ninguém sai de um coma sem atravessar etapas
importantes de recuperação da consciência e sinais vitais estáveis fora da
máquina. O paciente precisa voltar a respirar espontaneamente. Um caso grave
como o de Fernando, é prematuro fazer planos, devemos aguardar os
acontecimentos. Explicou o médico, ao ser interpelado por Lorenzo. Depois
continuou:
-
É preciso manter a calma, temos esperanças que o paciente, em breve, sairá bem dessa
situação. Afirmou o médico se afastando rapidamente.
Mãe
e filho chegaram em casa como se tivessem murchado. Lorenzo foi para a pizzaria
ajudar o tio e Marília se recolheu, estava desapontada e triste. Talvez ela
tivesse feito poucas orações, então, voltou a rezar pedindo a cura de Fernando.
Acabou adormecendo sobre o terço que rezava chorosa.
Lorenzo e o tio fecharam a pizzaria por volta da meia-noite e foram para
casa. Viram a porta do quarto de Marília entreaberta e foram ver se ela estava
bem. Sentiram pena ao ver o terço caído ao lado de sua mão. Em seguida, puxaram
a coberta sobre o corpo adormecido e o tio sussurrou para o sobrinho:
- Amanhã, talvez Fernando esteja acordado.
Em
seguida, apagaram a luz e fecharam a porta, desejando um dia melhor para todos.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa