A RECLUSÃO
CAPÍTULO 14
Os dias passavam lentamente para
Antonio, que tinha pressa de ver seu dedo cicatrizado. Finalmente, após dois
meses a ferida fechou e o homem estava ansioso para retornar aquela mata e
encontrar a cobra para acabar com a vida dela. Desta vez iria preparado com um
facão bem afiado, para cortar a cabeça da causadora de tanta dor e da
deformidade de seu dedo. O dedo de Antonio perdera o movimento, pois a lesão
atingiu o nervo; o médico disse que ele tivera muita sorte, pois poderia ter
morrido.
Não gostava de fazer amizades, mas, o
Jofre foi quem o socorreu e ele era um bom contador de histórias, por isso ele
o convidou para acompanhá-lo na nova caminhada pela mata. Ouvindo as histórias
de Jofre, Antonio se esquecia da maldição da pedra amarela e conseguia sorrir.
O homem desejava retornar ao lugar onde ficava à nascente de águas e talvez
encontrar a cobra novamente, queria surpreendê-la, como foi surpreendido. Era
uma aventura programada por dois homens, que agora já estavam experientes e
atentos; qualquer barulho estranho, os dois paravam e vistoriavam o local.
O lugar estava cheio de cobras, eles
viram duas se esgueirando pela mata, porém, não puderam alcançá-las. A trilha
aberta por Antonio estava quase fechada e os dois homens tiveram que limpar os
galhos que haviam crescido no local. Com o caminho aberto eles chegaram
rapidamente até a gruta e saciaram a sede com a água fresca. Depois se sentaram
nas pedras e ficaram olhando as aves e os bichos que viviam ali. O lugar era
lindo e os dois amigos prometeram voltar outras vezes. O Sol se punha no
horizonte quando Antonio e Jofre voltaram para suas casas. Finalmente Antonio
desistira de matar a cobra, porque ele entendeu que ele fora o agressor e ela
somente se defendeu.
Os passeios na mata e as pescarias no rio da
região tornaram-se rotina na vida dos dois homens. Eles se despediam no portão,
pois Antonio não queria que seu amigo entrasse em sua residência. Bernardo
continuava na casa protegido dos olhares curiosos das pessoas; o Lobo atacava
quem tentasse adentrar o quintal da casa.
E, assim o tempo corria sem novidades. Antonio, Bernardo e o Lobo viviam
tranquilamente, longe de tudo e de todos os conhecidos, que um dia fizeram
parte da vida de Antonio.
Certo dia, Antonio acordou com o
barulho de palmas em seu portão, assustado levantou-se e foi ver quem era. O
filho de Jofre estava ali, parado e com os olhos cheios de lágrimas. Ele
gaguejou e começou a chorar. Antonio perguntou o que estava acontecendo e ele disse
que seu pai sofrera um acidente fatal durante a tempestade da noite anterior.
Com a surpresa desagradável Antonio ficou mudo; não podia
acreditar que mais uma vez a maldição da pedra amarela estava atingindo pessoas
de quem ele gostava. Sentia-se culpado, deveria ter mantido distância do homem
e provavelmente ele ainda estaria vivo.
Acompanhou o rapaz até o necrotério
onde se inteirou dos fatos. Jofre havia ido até a cidade do Rio de Janeiro fazer compras para a mercearia e na volta foi atingido por um deslizamento de
terra, que soterrou seu automóvel, matando-o.
Antonio acompanhou o enterro do amigo e em silêncio voltou para sua casa; estava deprimido. Seu único consolo era o Bernardo que ouvia seus lamentos. Estava sozinho novamente; era sua sina, viver na solidão.
Antonio acompanhou o enterro do amigo e em silêncio voltou para sua casa; estava deprimido. Seu único consolo era o Bernardo que ouvia seus lamentos. Estava sozinho novamente; era sua sina, viver na solidão.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.