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quarta-feira, 10 de março de 2021

"NÃO, MEU CORAÇÃO NÃO É MAIOR QUE O MUNDO. É MUITO MENOR. NELE NÃO CABEM NEM AS MINHAS DORES. " CARLOS DRUMOND DE ANDRADE



O ESPELHO DA VIDA

 CAPÍTULO CINCO 
    
      A mulher trazia no peito uma angústia, que a oprimia e deixava tudo escuro ao seu redor. Não quis jantar, não sentia fome, estava com muito medo de tudo aquilo. O jeito era dormir e esquecer os últimos acontecimentos, no entanto, a noite foi cheia de pesadelos.

 As palavras do médico calaram fundo em seu íntimo e a deixaram inquieta. Por tudo que havia pesquisado, ela sabia que seu caso era grave. Pressentia que estava prestes a viver dias terríveis. Enfrentar a verdade que durante tanto tempo tentou camuflar,  a deixava triste e desolada.
 
        O dia amanheceu e  Tereza foi de encontro ao temido exame de esteira. Foi colocada  no aparelho e o teste de esforço foi iniciado.  A medida que o exame se desenvolvia a mulher sentia as pernas pesadas, pareciam ter cinquenta quilos cada uma; chegou a pedir para parar, tamanho foi o esforço dispendido.

      A cardiologista que fez o exame ficou assustada e disse à paciente que seria necessário repouso, enquanto aguardava a ecografia, que estava marcada para o dia seguinte. A mulher saiu dali sentindo que o cerco se fechava ao seu redor.

      No dia seguinte, ela voltou  à clínica para fazer o exame de ecografia e o diagnóstico foi: insuficiência Mitral leve. 

      De volta ao consultório, o médico disse que havia indicação de fazer o exame de cateterismo, para fechar diagnóstico. Disse também, que ela estava certa em seu diagnóstico precoce, era, verdadeiramente, um quadro de Angina estável.

      O cateterismo foi realizado no Hospital do Coração e o diagnóstico foi o seguinte: três artérias coronárias entupidas, sendo que o tronco estava comprometido também, deixando o caso mais grave, pois sua função é mandar sangue para todos os outros órgãos. 

      O médico responsável pelo exame fez o diagnóstico e indicou cirurgia,  mais precisamente duas pontes de Safena e uma mamária. 
      Tereza ficou pálida, teria que se submeter a uma cirurgia de peito aberto e isso era mais que um pesadelo,  era uma situação indesejável, que a deixava prostrada.

      Essa reviravolta na vida da mulher aconteceu em apenas uma semana e quando retornou ao consultório médico, viu desenhado seus próximos passos.

      A paciente saiu dali com vários papéis nas mãos. Atestado para permanecer em repouso, receitas e  encaminhamento para o serviço de apoio do seu trabalho e muito medo no coração. 

      Entrou em seu automóvel como se fosse um robô,  parecia flutuar dentro de uma nuvem negra pesada.
Tudo o que mais temia estava projetado em seu futuro próximo.

      Como um automato entrou em seu quarto, fechou a porta com a chave e foi até o espelho. Olhando a figura ali projetada, sentiu pena de si mesma.

     - Onde estaria a guerreira, que enfrentava um leão por dia? 
Naquele momento mais parecia uma fera domada e acuada pelos próprios medos.

      A mulher, pálida, desfigurada, levou a mão ao coração, que batia desesperadamente, parecia pedir socorro, antes de sua falência.  Seus lábios apertados mantinham os dentes em riste, demonstrando uma situação limite.

      O espelho refletia uma figura tomada pela raiva de tudo aquilo. O seu lado frágil estava aflorado, então, as lágrimas caíram inundando seu rosto e salgando sua boca.

      Tereza sentou -se no vaso sanitário e colocando a toalha no rosto permitiu que o mundo desabasse sobre ela.

      Ficou ali por um longo tempo,  estava sozinha em sua casa. Depois, seu instinto de preservação falou mais alto e ela entrou debaixo do chuveiro com roupa e tudo.

      A água quente lavou suas lágrimas e acordou a mulher indomável que existia naquele corpo. 

     Quando saiu do quarto, deu de cara com a filha, que acabara de chegar. A moça, preocupada, foi logo perguntando se estava tudo bem. 

      Tereza, então respondeu:

       - Sim, está tudo bem, apenas preciso fazer uma cirurgia de ponte de Safena.

A filha arregalou os olhos e a mãe completou:

       - Não se preocupe, é coisa simples. 

Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

      



 

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