O ESPELHO DA VIDA
CAPÍTULO CINCO
A mulher trazia no peito uma angústia, que a oprimia e deixava tudo escuro ao seu redor. Não quis jantar, não sentia fome, estava com muito medo de tudo aquilo. O jeito era dormir e esquecer os últimos acontecimentos, no entanto, a noite foi cheia de pesadelos.
As palavras do médico calaram fundo em seu íntimo e a deixaram inquieta. Por tudo que havia pesquisado, ela sabia que seu caso era grave. Pressentia que estava prestes a viver dias terríveis. Enfrentar a verdade que durante tanto tempo tentou camuflar, a deixava triste e desolada.
O dia amanheceu e Tereza foi de encontro ao temido exame de esteira. Foi colocada no aparelho e o teste de esforço foi iniciado. A medida que o exame se desenvolvia a mulher sentia as pernas pesadas, pareciam ter cinquenta quilos cada uma; chegou a pedir para parar, tamanho foi o esforço dispendido.
A cardiologista que fez o exame ficou assustada e disse à paciente que seria necessário repouso, enquanto aguardava a ecografia, que estava marcada para o dia seguinte. A mulher saiu dali sentindo que o cerco se fechava ao seu redor.
No dia seguinte, ela voltou à clínica para fazer o exame de ecografia e o diagnóstico foi: insuficiência Mitral leve.
De volta ao consultório, o médico disse que havia indicação de fazer o exame de cateterismo, para fechar diagnóstico. Disse também, que ela estava certa em seu diagnóstico precoce, era, verdadeiramente, um quadro de Angina estável.
O cateterismo foi realizado no Hospital do Coração e o diagnóstico foi o seguinte: três artérias coronárias entupidas, sendo que o tronco estava comprometido também, deixando o caso mais grave, pois sua função é mandar sangue para todos os outros órgãos.
O médico responsável pelo exame fez o diagnóstico e indicou cirurgia, mais precisamente duas pontes de Safena e uma mamária.
Tereza ficou pálida, teria que se submeter a uma cirurgia de peito aberto e isso era mais que um pesadelo, era uma situação indesejável, que a deixava prostrada.
Essa reviravolta na vida da mulher aconteceu em apenas uma semana e quando retornou ao consultório médico, viu desenhado seus próximos passos.
A paciente saiu dali com vários papéis nas mãos. Atestado para permanecer em repouso, receitas e encaminhamento para o serviço de apoio do seu trabalho e muito medo no coração.
Entrou em seu automóvel como se fosse um robô, parecia flutuar dentro de uma nuvem negra pesada.
Tudo o que mais temia estava projetado em seu futuro próximo.
Como um automato entrou em seu quarto, fechou a porta com a chave e foi até o espelho. Olhando a figura ali projetada, sentiu pena de si mesma.
- Onde estaria a guerreira, que enfrentava um leão por dia?
Naquele momento mais parecia uma fera domada e acuada pelos próprios medos.
A mulher, pálida, desfigurada, levou a mão ao coração, que batia desesperadamente, parecia pedir socorro, antes de sua falência. Seus lábios apertados mantinham os dentes em riste, demonstrando uma situação limite.
O espelho refletia uma figura tomada pela raiva de tudo aquilo. O seu lado frágil estava aflorado, então, as lágrimas caíram inundando seu rosto e salgando sua boca.
Tereza sentou -se no vaso sanitário e colocando a toalha no rosto permitiu que o mundo desabasse sobre ela.
Ficou ali por um longo tempo, estava sozinha em sua casa. Depois, seu instinto de preservação falou mais alto e ela entrou debaixo do chuveiro com roupa e tudo.
A água quente lavou suas lágrimas e acordou a mulher indomável que existia naquele corpo.
Quando saiu do quarto, deu de cara com a filha, que acabara de chegar. A moça, preocupada, foi logo perguntando se estava tudo bem.
Tereza, então respondeu:
- Sim, está tudo bem, apenas preciso fazer uma cirurgia de ponte de Safena.
A filha arregalou os olhos e a mãe completou:
- Não se preocupe, é coisa simples.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa