CHORAR
DE VEZ EM QUANDO
CAPÍTULO
TRÊS
O casal voltou para sua cidade de
origem, moravam no interior do estado de São Paulo, na cidade de Campinas.
Mateus preferiu levar a noiva para sua casa, na periferia da cidade. Ele morava
sozinho em uma pequena casa, deixada por seus pais. Temia que ela passasse mal
e que ele não pudesse socorrê-la. Ela morava com uma amiga, num apartamento no
centro da cidade.
Naquela noite, Daniela dormiu
profundamente, ainda estava sob o efeito dos medicamentos, que tomara no
hospital. O dia amanheceu, Mateus levantou-se, fez café, andou pelo quintal e
quando voltou para dentro da casa, ouviu a moça chorar. Consternado, arrumou
uma bandeja com café, leite, biscoitos e levou para ela, na cama. A moça olhou
o noivo carregando a bandeja e soluçando disse:
- Eu não fui capaz de segurar
nosso filho, então você fica livre para me deixar. Não precisa manter nosso
compromisso, eu vou entender.
O rapaz protestou:
- Como você pode dizer uma coisa
dessas? Eu nunca vou abandoná-la por causa de um aborto espontâneo, que ninguém
teve culpa. Toma seu café e depois vá para o banho, que precisamos conversar
seriamente. Concluiu o rapaz, estava aborrecido.
Daniela saiu do banho e depois de
vestir-se foi a procura de Mateus, que estava sentado na área externa da casa. As
casas na periferia ainda têm na frente uma área de descanso e um pequeno
quintal nos fundos. Quando a viu, ergueu-se e foi abraça-la dizendo.
– Hoje é domingo e você está
muito bonita! Vamos dar um passeio de automóvel.
O casal saiu para espairecer um
pouco, estavam tristes e abatidos dentro de casa, que mais parecia uma prisão.
Andaram bastante, sem rumo, apenas com a brisa da janela no rosto. Trocaram
poucas palavras, o diálogo estava difícil de acontecer, havia uma mágoa
inexplicável dentro de cada um; era uma dor, que vinha da alma.
Em dado momento, Mateus parou o
automóvel em frente a uma igreja. Havia muitas pessoas saindo, parecia que a
missa havia terminado. Então o rapaz teve uma ideia.
– Vamos conversar com o padre, ele
poderá nos ajudar.
Daniela ia protestar, mas desistiu,
precisava de ajuda. Depois que a maioria dos paroquianos deixou o recinto, o
casal foi até a sacristia. O padre estava conversando com algumas pessoas. Eles
ficaram esperando a uma certa distância, depois se aproximaram e pediram ao
padre um pouco de atenção.
Daniela ficou de cabeça baixa enquanto o noivo
contava ao velho pároco os últimos acontecimentos. Baixinho, ela começou a
chorar. Então, o santo homem levantou-se da cadeira, foi até onde ela estava e
pegando em sua mão a conduziu até uma poltrona. Sentou-se em frente a moça e
começou a falar.
- Em primeiro lugar devemos
agradecer a Deus por estarmos com saúde e pedir que nos ilumine, em todos os
nossos caminhos. Minha filha, nada acontece sem o consentimento do nosso pai celestial.
Seu bebê foi requisitado para viver no paraíso e um dia você irá encontra-lo no
céu. Fez uma pausa, enquanto avaliava o impacto de suas palavras. Depois
prosseguiu:
- O seu filho é um anjo, que
velará por você enquanto viver. Pense nele com carinho, com amor e deixe a vida
cumprir seu papel. Você é muito jovem e em pouco tempo poderá engravidar
novamente e ter outro filho.
- Procure levar a vida um pouco
mais leve, pode sentir saudades e até chorar de vez em quando, mas deixe o sofrimento
no passado. Sorria, nada está perdido, sua condição de mãe não se apagou, mas
foi apenas adiada. Tenha fé em Deus, que dias melhores virão. Pegou a água
benta e fez o sinal da cruz na testa da moça.
O casal se despediu do padre, sentiram que ainda havia esperanças para eles. Voltaram para casa e Mateus ao
descer do automóvel tropeçou e quase caiu, andou alguns metros catando cavaco.
E quando olhou para Daniela, ela estava sorrindo. Em seguida, ela correu para
ajudá-lo a se manter em pé. A cena foi hilária e terminou num longo abraço;
estavam com saudades um do outro.
Ainda havia muito amor entre eles,
entraram na casa dispostos a recomeçar.
Um
texto de Eva Ibrahim.