ADENTRANDO À MATA.
CAPÍTULO 12
Deixou a casa com alguns móveis para
Flora e se mandou com o boneco, o Lobo e algumas coisas de uso pessoal. Na
carta que deixou sobre a mesa da
cozinha, dizia que o aluguel estava pago por três meses e ela estava livre e
ele também. Gostava dela e do menino, mas preferia ficar sozinho.
A mulher não entendeu nada, mas teve
que aceitar, ele não deixara endereço com ninguém; não queria ser encontrado.
A sua vida começava naquele dia,
seu passado estava enterrado, respirou profundamente e adentrou à nova casa com
a mala e uma mochila nas mãos. O cachorro, a cama, o fogão e alguns utensílios
domésticos ele trouxera no dia anterior com um caminhão de aluguel. Colocou a
mala sobre a cama e tirou o Bernardo dali, dizendo que nunca mais ele teria que
ficar preso na mala, pois, aquela era sua casa.
No dia seguinte, tratou de sair para
comprar comida e conhecer a vizinhança. O dia foi cheio de compras: móveis
usados, televisão, geladeira, sofá, mesa, cadeiras e uma rede para colocar na
área dos fundos. O homem estava contente e sorriu abraçado ao Bernardo, antes
de se deitar para dormir.
Durante uma semana, Antonio
teve muito trabalho para organizar sua casa e finalmente estava tudo como ele
desejava. Á noite ele e o Bernardo cismavam deitados na rede, o que fazia o
homem pensar em sua vida. Pensou em Verônica, no acidente e depois franziu a
testa lembrando-se da pedra amarela. Agarrou-se ao Bernardo e olhou para o céu
agradecendo a Deus pela felicidade que estava sentindo. Agora, ele vivia
pertinho do céu e podia ver muitas estrelas brilhando; a paz daquele lugar o
deixava extasiado.
Decorridos trinta dias que ele chegara à nova moradia, resolveu adentrar
a mata que ficava nos fundos de sua casa; queria conhecer o local. O dono do
armazém lhe dissera que por aquelas bandas havia uma bica de águas, que descia
da montanha visualizada no horizonte. Pouca gente sabia da existência daquela
água pura, pois o acesso era difícil e perigoso. E, no rio que cortava a mata
havia muitas cobras venenosas.
Porém, a curiosidade de Antonio foi
maior que o falatório das pessoas da região, ele queria saber o que havia no fundo do seu quintal e se preparou para aquela
aventura; tinha tudo planejado. Ainda estava escuro quando o homem com uma
mochila nas costas e um facão nas mãos, foi em direção à mata.
Antonio vestia roupas grossas e botas de cano alto para se proteger das
cobras e dos galhos das árvores; estava precavido. Lentamente abria caminho com
o facão e com muita persistência batia firme nos troncos das árvores; o mato
era alto, cerrado e cheio de insetos e aracnídeos. A formação de árvores era
densa e úmida, parte do que sobrou da Mata Atlântica, a antiga floresta do
litoral brasileiro. Raramente algum caçador se aventurava a ir para aqueles
lados, havia histórias de onças e cobras venenosas naquele local. O dono do
armazém garantiu que ali, no meio da mata, havia uma nascente de águas.
A temperatura passava dos trinta graus e
não havia o que matasse a sede; Antonio bebia avidamente cada gole da água que
levara. Muitas vezes pensou em voltar, mas algo o fazia seguir em frente.
Seguia lentamente, pois cada metro percorrido era conseguido com muita força
nos braços, que chegava a latejar.
Antonio parou para descansar e viu um
tronco de árvore que parecia um banco e sentou-se para comer um lanche que
trouxera na mochila, já passava das onze horas da manhã.
O Sol abrasador castigava a região,
havia um alerta geral, só faltava surgir algum incêndio; o homem sentiu medo. O
lugar era cheio de sons estranhos; “Os sons da mata” Ele já ouvira falar sobre
isso, mas se sentia inseguro; era tudo muito grande e sombrio; seus ouvidos
estavam aguçados. Era um piar aqui, outro acolá, um farfalhar de galhos, bandos
de pássaros voando e outros sons não identificados. Nunca fora covarde e agora
estava testando sua coragem, pensou apreensivo.
Por entre as árvores, o Sol brilhava forte e ele tinha percorrido apenas
dois quilômetros, o esforço fora grande. Os cipós, as árvores de pequeno porte
e outras vegetações formavam uma cortina, impedindo a passagem do homem. Aos poucos ia vencendo a mata virgem.
Quando o Sol já estava alto, chegou á uma pequena clareira de onde viu uma
montanha com formação rochosa.
Ao pé da montanha havia um vale com
muitas árvores, era um bom sinal, a mina de água poderia estar ali. Seguiu em
frente e lá em baixo encontrou um veio de água; a mina estava perto, tinha que
procurar. Rodeou a rocha seguindo o rastro da água e encontrou a nascente
dentro de uma gruta. Com uma folha de seringueira improvisou uma concha para
pegar água e beber até saciar a sede; estava contente, achara um “Oásis”.
O lugar era fresco e a mata verde;
encontrou alguns bichos, aves e insetos. Havia muita vida no meio da mata em
função da água que ali corria. Era pequena a quantidade de água que escorria da
montanha por causa da seca, mas estava ali e era o que importava. Teria que
voltar, já passava das três horas da tarde, temia que escurecesse e ele tivesse
que pernoitar na mata; sentiu um arrepio que percorreu seu corpo.
Antonio estava muito
cansado, não estava acostumado com serviço tão pesado; seus braços pareciam pesar
toneladas. Ele seguia o caminho inverso, mas, assim mesmo, tinha que usar o
facão e quando pegou em um galho para cortá-lo sentiu uma dor intensa na mão
esquerda. Ele agarrara uma cobra, que estava enrolada no galho. Instintivamente
jogou a cobra para bem longe. E, com a mão doendo muito, apertou até sangrar,
para o veneno sair. Desesperado e sem saber se aquela cobra era venenosa ou não, Antonio seguiu em frente com a certeza que aquele fato estava relacionado com a
maldição da pedra amarela.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.