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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

"ALGUMAS VEZES É PRECISO SILENCIAR, SAIR DE CENA E ESPERAR QUE O TEMPO NOS TRAGA AS RESPOSTAS". AUTOR DESCONHECIDO.-- O SILÊNCIO É UM GRANDE AMIGO. EVA IBRAHIM.

                    QUERO COLO
             CAPÍTULO QUATRO
       Clara estacionou o automóvel na garagem e chamou o marido, que dormia com a cabeça recostada no vidro do lado do passageiro. Marcos abriu os olhos e, surpreso, viu que haviam chegado a casa. Desceu do automóvel dizendo que a bebida que tomara era forte demais, não estava acostumado; apenas acompanhara os amigos. A mulher sorriu e o abraçou pela cintura aconchegando seu corpo ao dele, que não a repeliu.
Ele parecia estar embriagado e entrou no banheiro para tomar um banho antes de se deitar. Sua mulher sentiu que a oportunidade de se aproximar de Marcos havia chegado e não hesitou, despindo-se e entrando no banheiro também. Tomaram banho juntos, como nos velhos tempos e depois do amor, foram dormir abraçados. Ele adormeceu logo, mas Clara ficou saboreando aquele momento. Seu marido estava de volta ou talvez fosse consequência da bebida; uma nuvem negra surgiu em seu pensamento.
-Não, ela não iria estragar aquele momento; estava feliz.
Passou a mão nos cabelos do marido fazendo um carinho e tratou de adormecer agarrada a ele.
 Sara cuidara de tudo e depois do café pronto, a moça saiu, precisava voltar para casa. Clara ouviu o portão bater, levantando-se a seguir. Ela estava alegre como há muito tempo não se sentia. Foi ver seus filhos, que ainda dormiam e depois voltou ao quarto para se arrumar. Queria ficar bonita para agradar seu marido quando ele acordasse, precisava reconquistá-lo, mas ainda não sabia como agir.
Esperava ansiosa que ele acordasse de bom humor e a tratasse com carinho, ou ela ficaria triste para sempre. Clara amava seu marido, embora ele a tenha feito sofrer muito no último ano. A presença dele ainda fazia seu coração acelerar; o amor estava adormecido pela indiferença sofrida. Muitas vezes ela pensava que odiava o marido, mas era sentimento passageiro, que andava junto com o amor.
A mulher pensava em Selma, queria que o marido a despedisse, porém, como ela poderia abordar esse assunto sem provocar a ira de Marcos? O risco de ser abandonada era grande, ele parecia enfeitiçado.
 Poderia afastá-lo de vez e jogá-lo nos braços da moça, que era vivida e muito esperta. Teria que ser prudente com as palavras e atitudes. Pensou em João e Renata, que não imaginavam o drama que a mãe estava enfrentando. Eles eram sua esperança em manter seu casamento em pé, porque Marcos amava os filhos, disso ela tinha certeza. Precisavam da mãe e do pai juntos, pois, João tinha doze e Renata dez anos. Admiravam os pais e os tinha como exemplo de vida; não poderiam sofrer uma decepção com seus pais nessa idade, pensava Clara, preocupada.
A mulher tinha uma vida tranquila e farta; os filhos, uma bela casa, automóvel, joias e Sara. A moça que era, também, sua secretária e ultimamente sua confidente. Marcos nunca questionava o que ela gastava, confiava na mulher. Um casamento estável, de provocar inveja em outras mulheres. Sua vida desmoronou com a admissão da nova secretária, que transformou sua vida num inferno.
As crianças acordaram e com o barulho o pai também acordou. Levantou-se e foi tomar café com os filhos e sua mulher, parecia normal. Estava alegre e convidou a família para passar o dia no Clube de Campo. Todos concordaram, iriam à piscina enquanto o pai e a mãe se juntariam aos amigos, que sempre estavam por lá.
Enquanto as crianças pegavam a mochila, Clara e Marcos subiram ao quarto para trocar as roupas e ela aproveitou para beijá-lo. Ele correspondeu e, em seguida, saíram felizes; estava tudo bem. A mulher agia como se nada tivesse acontecido, fazia algumas colocações sobre as crianças e comentários sobre a paisagem. Nada que pudesse lembrar os fatos sobre as traições de Marcos com sua secretária.
Chegaram ao Clube e foram ao encontro de um casal amigo, que estava sentado ao redor de uma mesa, conversando e tomando um aperitivo. Ficaram bebericando e jogando conversa fora durante algum tempo, Clara olhou para o relógio e concluiu que, estava quase na hora do almoço e Marcos levantou-se dizendo que iria ao banheiro. Clara esperou um pouco e levantou-se para chamar as crianças, saindo pelos fundos do salão.
A mulher ficou muda e extática quando viu um casal se beijando em um canto do jardim. Era o seu marido beijando a amante com a mão em sua cintura. Os cabelos louros e fartos da moça não deixavam campo de visão para Marcos e eles não viram a mulher parada na porta.
   Clara retrocedeu, estava pálida, quase desmaiando, mas conseguiu retornar à mesa. Os amigos perguntaram se estava bem e ela disse que não; iria para casa assim que o marido voltasse do banheiro.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana..

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

"ALGUMAS COISAS NÃO PRECISAM FAZER SENTIDO, BASTA VALER A PENA". RENATO RUSSO.-- A VIDA NÃO ESPERA POR NINGUÉM... EVA IBRAHIM.

                                     FRENTE A FRENTE.
                                  CAPÍTULO TRÊS.
        Clara precisava de uma pessoa para acompanha-la ao Shopping e ajuda-la a carregar as sacolas. Pensou e não conseguiu imaginar uma pessoa que fosse boa ouvinte, quieta e pudesse dar palpites sinceros se fosse necessário.     Entrou na cozinha e viu sua ajudante; uma moça que deveria ter uns quarenta anos, bonita, porém, bastante judiada pela vida dura. Estava na casa fazia uns dez anos, desde que a sua filha Renata era apenas um bebê. As crianças cresceram ao lado de Sara, que sempre demonstrou ter muita competência e afeto pelos seus filhos. 
.       Chamou a moça e lhe propôs um serviço extra, em troca ganharia vestido e sapatos novos, além de uma gratificação em dinheiro. A moça adorou a ideia e aceitou a oferta. Clara pediu que se arrumasse, dando-lhe um de seus vestidos e comprasse sapatos novos, iriam ao Shopping no dia seguinte.
Sara chegou toda produzida e sua aparência agradou até ao João e a Renata, os filhos de Clara. Depois de deixar as crianças no colégio, as duas mulheres foram às compras; Clara estava decidida, agora Marcos iria ver o estrago que aquela “Jeca” faria em seu cartão de crédito.
A mulher era bonita, uma morena vistosa; formada em administração de empresas e tinha um gosto refinado, mas, ultimamente andava tão desgostosa com sua vida de casada que relaxara um pouco. Clara e sua secretária iriam procurar roupas, sapatos e acessórios para ela se arrumar para o jantar do Clube, onde estariam os amigos e a amante de seu marido.
          Sara colaborou com tudo que a patroa queria fazer e dormiria no serviço, no dia do jantar, para cuidar das crianças. Na sexta-feira, Clara se deu de presente, “um dia de princesa”; cuidou do corpo, das unhas e dos cabelos e a noite vestiu sua roupa nova. Quando Marcos a viu descer as escadas, parou para admirá-la. Sua esposa estava linda em seu traje de noite; um vestido vermelho justo, com babados e decotado, deixando seu colo à mostra. Clara tinha o cabelo preso no alto da cabeça e um mistério no olhar. Ela usava brincos e gargantilha de pedras pretas incrustradas em ouro branco, combinando com a bolsa e os sapatos. Estava chique e deslumbrante, arrancando suspiro de seu marido, que não disse nada, mas lhe deu o braço, em silêncio; parecia chocado. Durante o trajeto ele apenas perguntou das crianças e depois ficou calado, mas de vez em quando dava uma olhada para ver sua mulher.
Quando adentraram ao salão em direção à mesa, a mulher avistou a secretária de Marcos sentada ao redor da mesa. Ela estava com outro casal de amigos de seu marido. Clara fez questão de se sentar em frente a Selma, sua rival. Uma loura bonita e vulgar, concluiu a mulher traída. Houve os cumprimentos de praxe enquanto chegavam mais dois casais que se juntaram aos demais. E, finalmente chegou o advogado de Marcos que fez par com sua secretária. A mesa do jantar estava completa, poderiam fazer o pedido.
Os homens ora comiam, ora falavam de negócios, enquanto as mulheres se entreolhavam e falavam umas com as outras sobre banalidades. Selma foi irônica ao dizer que Clara estava bonita; ela agradeceu com um sorriso desafiador. Iria colocar aquela víbora em seu lugar.
Quando o jantar terminou, Clara disse ao marido que queria dançar e o puxou para a pista de danças, onde já havia outros casais dançando. A amante ficou na mesa olhando o casal e Marcos colou seu rosto ao de sua mulher. Selma olhava com ódio para Clara, que fazia questão de ostentar uma felicidade que há muito não acontecia.
Selma não acreditava que Marcos a estava ignorando e dançando com a mulher que dizia não amar mais.
–Será que ele não a queria mais?
 Pesou na alma da moça a condição de amante e o desapontamento estava estampado em seu rosto. A guerra fora declarada, havia lampejos de raiva quando cruzavam olhares. Clara conseguiu manter o marido ao seu lado até o final do baile e saíram abraçados. Marcos já estava um tanto embriagado e ela sentou-se na direção do automóvel; estava feliz, demonstrara força à sua rival. Porém, lá no fundo ela sabia que fora apenas uma pequena luta vencida em uma guerra cruel.
Marcos cochilava e ela pensava nas mulheres que choram por um amor sem futuro. Muitas, como ela, que são fiéis e submissas a um homem que faz questão de ignorá-las. Aquelas para quem não falta dinheiro, mas falta amor, carinho, companheirismo e atenção. Clara sentia-se enganada, assustada, traída diante de um homem que ela amava e que não a queria mais. Aquele dia ele percebera que ela estava presente e ela aguardava ansiosa por carinho; Seu maior desejo era terminar a noite nos braços de seu amor.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

"A VIDA É A ARTE DO ENCONTRO, EMBÓRA HAJA TANTOS DESENCONTROS PELA VIDA". VINÍCIUS DE MORAES-- NUNCA RECLAME DO QUE VOCÊ PERMITE. EVA IBRAHIM.

       
                                                    LOBO BOBO. 
                                                  CAPÍTULO DOIS
            Clara havia descoberto a traição de Marcos pela internet. Certo dia, seu marido chegou apressado dizendo para ela colocar algumas peças de roupas em uma maleta, que ele precisava viajar para o Rio de Janeiro a negócios. O casal morava na cidade de São Paulo e raramente Marcos viajava sem a família, pois quem o representava era o advogado da firma. Porém, ele disse que iria passar o final de semana  cuidando de seus negócios. Ela perguntou se ele iria sozinho; Marcos não respondeu, apenas desconversou.
           O homem saiu apressado e ela ficou sentada na cama, sem saber o que pensar. Ele nem cogitou da possibilidade de levá-la; na verdade ele mal olhou para ela. Tristonha, Clara se dirigiu até o escritório e viu o Notebook do marido aberto sobre a escrivaninha.
       Aproximou-se e viu que estava na página da companhia aérea que ele comprara as passagens. Marcos fizera o check in e se esquecera de fechar a página, estava com muita pressa, pois jamais ele deixaria seu Notebook aberto. Clara ficou pensativa.
     -Como ele iria trabalhar sem sua melhor ferramenta? A dúvida fez morada em seu pensamento. Sentou-se no computador e olhando a tela ficou pasma. A passagem era para dois lugares; Marcos e Selma Junqueira.
       Desde esse episódio, Clara perdeu o sossego; foi ao escritório para conhecer a tal moça e teve a certeza de que não seria fácil reconquistar seu marido. Selma tinha todas as características de mulher fatal, que destroem lares sem nenhuma preocupação. Era muito bonita, do tipo que os homens gostam; vistosa, alegre e provocante.  
       Clara se mantinha calada, sua situação era complicada, pois ela e seus dois filhos não poderiam sobreviver sem o marido; Marcos era o provedor da casa. Lentamente ela foi observando as mudanças de atitudes do marido. Chegava tarde da noite em casa e dizendo estar cansado, deitava-se e dormia. E, se fosse questionado, fechava a cara e passava dias sem conversar com ela.
        A mulher, desesperada, procurou terapia para poder entender o que se passava com seu marido.  Para sua surpresa ela descobriu que Marcos estava na “idade do lobo”. A terapeuta lhe disse que a fase da virada dos quarenta anos equivale a um novo ciclo de vida, é o período onde a ansiedade, o aparecimento de cabelos brancos e a certeza da velhice estão presentes no pensamento da maioria dos homens. O medo de perder a potência sexual é o maior fantasma que assombra os homens nessa faixa de idade, por isso eles se voltam para as mulheres mais jovens, deixando suas esposas em segundo plano. Procuram provar para si mesmos que continuam com a mesma disposição que tinham aos vinte anos; é uma forma de autoafirmação.                 
    Passam a ignorar sua rotina querendo realizar sonhos antigos; parece que algo ficou perdido no passado e que precisa ser resgatado a todo custo. Então, procuram frequentar as academias e a cuidar em excesso da aparência. Querem demonstrar que ainda podem conquistar uma mulher mais jovem, que geralmente se torna sua amante.
     A esposa perde a graça para ele, vendo-a como uma figura materna, boa para cuidar da casa e dos filhos. Não desperta mais seus desejos, que procura em outras mulheres. O homem torna-se uma pessoa egoísta, ignorando os sentimentos de sua esposa. A mulher se torna refém do passado, isto é, do tempo em que foi feliz com seu marido e as traições e mágoas começam a incomodar.
      Clara era uma mulher esclarecida e procurava agir normalmente para Marcos não se sentir acuado. De algum modo ela sentia-se segura enquanto ele pensasse que ela não sabia do seu caso com a secretária.
      Quando ela cobrava sua presença e seus carinhos ele fingia voltar para o ninho. Acontecia a aproximação por obrigação, porém, logo ele se distanciava novamente. Clara sentia-se rejeitada, uma “jeca” como ele a chamou. Duas lágrimas rolaram de seus olhos e ela resolveu enfrentar a situação; iria às compras.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

HOJE INICIAMOS UMA NOVA HISTÓRIA EM CAPÍTULOS. "MULHERES DE PAPEL" DE EVA IBRAHIM. --" RENUNCIO AS HONRAS, MAS NÃO A LUTA" EVITA PERON

                            MULHERES DE PAPEL.
                                 CAPITULO UM.
            Marcos chegou do aeroporto e jogou sua bolsa sobre a mesa de jantar e olhando de relance viu sua esposa, Clara, sentada no sofá folheando uma revista. Desconfiada a mulher levantou-se para recebê-lo, fazia quatro dias que ele viajara para o Rio de Janeiro e não atendia o celular. Lá no fundo ela sabia que estava sendo traída, mas não tinha forças para reagir, nem mesmo abordar o assunto; temia acabar na rua da amargura.
          Educadamente ele disse: - Tudo bem?
Ela aquiesceu com a cabeça e se aproximou esperando que ele lhe desse um beijo, porém, ele foi saindo e dizendo que na sexta-feira teriam um jantar no Clube de Campo.  E, enfatizando as palavras, determinou que ela fosse ao salão de beleza e ficasse apresentável, pois era um jantar de casais e ele tinha negócios naquele meio; precisava se apresentar em grande estilo. Finalizando ele disse que não queria uma “jeca” como sua acompanhante, que fosse comprar uma roupa nova.
          Marcos saiu e Clara com os olhos cheios de lágrimas experimentou uma variedade de emoções: medo, raiva, negação e finalmente pegou o telefone para marcar o salão de beleza. Ficaria muito bonita, ele teria que engolir o que dissera. Se ela era uma “Jeca” ele teria que aguentá-la, gostasse ou não; teria que aprender a respeitá-la, pois tinham dois filhos adolescentes, que precisavam do pai. Clara dependia do marido para tudo, ele fizera com que ela deixasse seu trabalho no Banco, para ser apenas dona de casa e agora não a queria mais.
          Quando mudou seu estilo de vida e fez escolhas conscientes ao longo do caminho, a mulher achava que seu casamento duraria para sempre. Marcos era bom e tinha uma vida financeira estável e ela o amava. E, tendo mais tempo livre ela poderia criar seus filhos e dar a eles tudo que nunca tivera. Clara vivia feliz com sua família, suprimira seus sentimentos e aceitava tudo que o marido queria. Acatava as novas oportunidades, aquelas mais adequadas ao seu novo estilo de vida.
          Desde o Natal, agora já era setembro, ela percebeu que o marido andava estranho e grosseiro, também notou que fora se afastando aos poucos; ele a ignorava. À noite ele se deitava e dormia e ela chorava. Quando Clara o abraçava ele resmungava e tirava o braço dela, não queria manter contatos mais íntimos.
 Como ela gostaria de ter a coragem de expressar seus sentimentos ou o que restara deles. Muitas pessoas já suprimiram seus sentimentos a fim de manter a paz em sua família e ela não seria diferente. Como resultado, a maioria teve uma existência medíocre e nunca se tornaram quem eram realmente capazes de se tornar. Marcos e Clara mantinham as aparências para não magoar os filhos, mas, havia um oceano entre eles.
          Clara pensava em suas antigas amizades, que deixara escapar; só restaram as mulheres dos empresários que faziam parte do grupo de seu marido. Falsas e fúteis foi à conclusão que a mulher chegou; não poderia dividir seus problemas com elas e sua família morava no interior. Estava à mercê do destino, precisava pensar nos filhos, João e Renata.
        Muitas pessoas não percebem, até o fim, de que a felicidade é uma escolha. Ela estava presa a velhos padrões e tradições e uma delas era acompanhar o marido ao jantar de negócios. Queria ver a cara da secretária de Marcos, que era a culpada de suas aflições. Uma loira escultural, que estava saindo com seu marido e ela sabia de tudo, mas não poderia deixar ninguém perceber nada. Deveria ficar bonita, falar pouco e sorrir levemente para todos os amigos de Marcos; era assim que ele queria que ela se comportasse.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

“SOLIDÃO É A MANEIRA QUE O DESTINO ENCONTRA PARA LEVAR A PESSOA AO ENCONTRO DE SI MESMA”. HERMANN HESSE. —“É MUITO FÁCIL SER PEDRA, O DIFÍCIL É SER VIDRAÇA”. PROVÉRBIO CHINÊS.


                                 BRILHANDO COM AS ESTRELAS.
                                         CAPÍTULO 15
Antonio estava completamente decidido a viver recluso, não queria prejudicar mais ninguém. Ele sentia que todas as pessoas que se aproximavam dele, sofriam algum tipo de agravo à saúde; era a maldição da pedra amarela, disso ele tinha certeza.
           Deixou a barba crescer e saia de casa somente uma vez a cada mês, para manter sua casa e suas necessidades básicas. Seu visual era de um homem sem vaidade; roupas simples e surradas, porém, limpas. Os vizinhos o apelidaram de “Ermitão”. O homem não tinha amigos e não gostava de intrusos. Cuidava de sua casa e tinha o Lobo para espantar curiosos, que de tanto ficar sozinho se tornara um cachorro muito bravo.
         A solidão é um sentimento no qual a pessoa fica com uma profunda sensação de vazio, sem motivos para viver; muitos entram em depressão. Porém, quando é voluntária pode trazer uma paz compensadora; era uma opção de vida para Antonio. Ele tinha seu amigo, o Bernardo, que ele amava como se fosse seu filho. Bernardo, desde a morte de Verônica, fora seu companheiro e ouvinte. O boneco sabia tudo da vida daquele homem, que o criara para não enlouquecer; era sua fuga do mundo lá fora. O Lobo era o guardião da casa e só permitia a aproximação de seu dono e de mais ninguém.
        Antonio criou para si uma estação solidão; uma parada da vida. Ali ele era soberano e assim vivia tranquilo. Seus dois companheiros lhe davam o equilíbrio necessário para continuar vivendo nesse mundo, que lhe trouxera muitas inquietações. Antonio, Bernardo e o Lobo, eram amigos para sempre.
Alguns anos se passaram e todos da região sabiam da existência do Ermitão, que era um homem pacato, mas não gostava de ser incomodado. Todo mês ele era visto recebendo sua aposentadoria e comprando mantimentos, depois se recolhia até o mês seguinte. Os vizinhos conheciam sua rotina e sempre o avistavam fazendo algum conserto em sua casa ou pondo o lixo na rua. Certo dia alguém reparou que ele estava sumido e ninguém o via, fazia dias. O cachorro estava inquieto e emagrecido.                           
       –Será que aconteceu alguma coisa com o homem? Os vizinhos, apreensivos, resolveram chamar a polícia.
Quando a viatura da polícia chegou, o cachorro desesperado foi comer a comida que a vizinha trouxera para distraí-lo, enquanto os policiais entravam na casa.
         Ao redor da casa havia um cheiro de carniça, algo de muito errado estava acontecendo ali, disse um policial ao outro. Quando o policial arrombou a porta e entrou na casa, sentiu que o cheiro ficara mais forte e com uma mão segurando o nariz pôs a outra mão no coldre e adentrou ao quarto. Antonio e o Bernardo, lado a lado na cama, pareciam dormir.
        O policial se aproximou e pondo a mão no homem sentiu que estava frio e duro. Espantado, deu um passo para trás deduzindo que fazia dias que o homem estava morto; só não entendeu a presença do boneco na cama, em seguida chamou reforço.
      Houve um alvoroço na rua com a chegada da pericia e do caminhão de defuntos. Na casa foi encontrado o endereço de Nalva, a irmã de Antonio, que veio, juntamente com sua filha, para enterrar o corpo do irmão, de quem há muito tempo não tinha notícias.
       A mulher, surpresa, não sabia por que seu irmão desaparecera. Durante algum tempo procurara por ele, depois desistira, ele sabia seu endereço, se quisesse vê-la que a procurasse, declarou no plantão policial. Nalva ficara surpresa com a nova vida de seu irmão e a presença daquele boneco na cama de Antonio, era tudo muito estranho.
        Estava em suas mãos resolver aquela situação e precisava encontrar os documentos de Antonio, por isso ela começou a mexer em seus guardados e encontrou a mala dentro do guarda roupas.
         Ao abrir a mala ela percebeu que apesar de vazia, tinha alguma coisa dentro do compartimento fechado com zíper. Abriu o zíper e colocou a mão para pegar o pequeno volume. A mulher quase desmaiou quando viu que era a pedra amarela que estava ali. Com a pedra na mão, Nalva começou a orar, era inacreditável.
       -Como aquela pedra fora parar ali? Estava muito longe de onde sumira; era um enigma de difícil solução. Nalva sacudia a cabeça enquanto mostrava a pedra à sua filha.
Havia alguma coisa maligna naquela pedra e ela iria se aconselhar com o Padre. O pároco a aconselhou a devolver a pedra para o lugar de origem e sossegar seu coração, nada poderia ser feito além de muita oração para o seu irmão.
         Enquanto o corpo de Antonio estava sendo periciado, ela e sua filha teriam que resolver o que fazer com o cachorro e o boneco. O Lobo já estava velho e era um cão muito bravo, por isso a vizinha resolveu ficar com ele; guardaria sua casa e terminaria seus dias ali mesmo. Conversando com a vizinha ela falou do boneco e disse que não sabia o que fazer com ele. Era de seu irmão e não queria, simplesmente, jogá-lo fora.
       - Não!
        Exclamou a mulher eufórica, ela conhecia um pessoal, que todos os anos desfilavam nas escolas de samba do Rio de Janeiro, no sambódromo. Faziam bonito na pista do “Marquês de Sapucaí”, a passarela do samba e ela tinha a certeza que eles dariam um lugar de destaque ao boneco, pois era muito bem cuidado. Nalva concordou entregando Bernardo à mulher. 
         Depois de dois dias e resolvendo tudo por ali, Nalva e a filha foram ao enterro do corpo de seu irmão e em seguida retornaram à sua cidade. A mulher tinha uma missão a cumprir, queria que seu irmão pudesse descansar em paz.     Voltaria à represa e jogaria a pedra amarela o mais fundo possível, para nunca mais ouvir falar daquela triste história, que atormentou a vida de seu irmão.
            Assim foi feito e Nalva cumpriu sua missão. Quando voltava para sua casa já havia anoitecido e o céu estava carregado de estrelas. E, elevando seu olhar para o alto, viu que uma estrela brilhava mais que as outras e concluiu, olhando para sua filha:
         -Bernardo iria brilhar nos desfiles de carnaval, enquanto Antonio tomaria conta dele lá de cima, brilhando com as estrelas.
Um texto de Eva Ibrahim.
Aqui termina “ESTAÇÃO SOLIDÃO”, a história de Antonio e o mistério da pedra amarela, que jamais será desvendado.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

"O CONFLITO NÃO É ENTRE O BEM E O MAL, MAS ENTRE O CONHECIMENTO E A IGNORÂNCIA" BUDA--- A ESTRADA VAI ALÉM DO QUE SE VÊ. EVA IBRAHIM.


                             
                                        A RECLUSÃO
                                        CAPÍTULO 14
      Os dias passavam lentamente para Antonio, que tinha pressa de ver seu dedo cicatrizado. Finalmente, após dois meses a ferida fechou e o homem estava ansioso para retornar aquela mata e encontrar a cobra para acabar com a vida dela. Desta vez iria preparado com um facão bem afiado, para cortar a cabeça da causadora de tanta dor e da deformidade de seu dedo. O dedo de Antonio perdera o movimento, pois a lesão atingiu o nervo; o médico disse que ele tivera muita sorte, pois poderia ter morrido.
       Não gostava de fazer amizades, mas, o Jofre foi quem o socorreu e ele era um bom contador de histórias, por isso ele o convidou para acompanhá-lo na nova caminhada pela mata. Ouvindo as histórias de Jofre, Antonio se esquecia da maldição da pedra amarela e conseguia sorrir. O homem desejava retornar ao lugar onde ficava à nascente de águas e talvez encontrar a cobra novamente, queria surpreendê-la, como foi surpreendido. Era uma aventura programada por dois homens, que agora já estavam experientes e atentos; qualquer barulho estranho, os dois paravam e vistoriavam o local.
      O lugar estava cheio de cobras, eles viram duas se esgueirando pela mata, porém, não puderam alcançá-las. A trilha aberta por Antonio estava quase fechada e os dois homens tiveram que limpar os galhos que haviam crescido no local. Com o caminho aberto eles chegaram rapidamente até a gruta e saciaram a sede com a água fresca. Depois se sentaram nas pedras e ficaram olhando as aves e os bichos que viviam ali. O lugar era lindo e os dois amigos prometeram voltar outras vezes. O Sol se punha no horizonte quando Antonio e Jofre voltaram para suas casas. Finalmente Antonio desistira de matar a cobra, porque ele entendeu que ele fora o agressor e ela somente se defendeu.
        Os passeios na mata e as pescarias no rio da região tornaram-se rotina na vida dos dois homens. Eles se despediam no portão, pois Antonio não queria que seu amigo entrasse em sua residência. Bernardo continuava na casa protegido dos olhares curiosos das pessoas; o Lobo atacava quem tentasse adentrar o quintal da casa.  E, assim o tempo corria sem novidades. Antonio, Bernardo e o Lobo viviam tranquilamente, longe de tudo e de todos os conhecidos, que um dia fizeram parte da vida de Antonio.
        Certo dia, Antonio acordou com o barulho de palmas em seu portão, assustado levantou-se e foi ver quem era. O filho de Jofre estava ali, parado e com os olhos cheios de lágrimas. Ele gaguejou e começou a chorar. Antonio perguntou o que estava acontecendo e ele disse que seu pai sofrera um acidente fatal durante a tempestade da noite anterior.
         Com a surpresa desagradável Antonio ficou mudo; não podia acreditar que mais uma vez a maldição da pedra amarela estava atingindo pessoas de quem ele gostava. Sentia-se culpado, deveria ter mantido distância do homem e provavelmente ele ainda estaria vivo.
       Acompanhou o rapaz até o necrotério onde se inteirou dos fatos. Jofre havia ido até a cidade do Rio de Janeiro fazer compras para a mercearia e na volta foi atingido por um deslizamento de terra, que soterrou seu automóvel, matando-o.
      Antonio acompanhou o enterro do amigo e em silêncio voltou para sua casa; estava deprimido. Seu único consolo era o Bernardo que ouvia seus lamentos. Estava sozinho novamente; era sua sina, viver na solidão.            
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.   

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

"SOBRE AS ASAS DO TEMPO A TRISTEZA VAI SE EMBORA" LA FONTAINE-- O IMPORTANTE É ATRAVESSAR OS SEUS DESERTOS. EVA IBRAHIM.

                            DIAS TERRÍVEIS
                             CAPÍTULO 13
A dor era lancinante e subia pelo braço; parecia que havia uma faca espetada no seu dedo polegar. Chegou da mata rapidamente, o tanto que sua canseira permitiu e foi lavar a mão desesperadamente, depois tirou a roupa que usava e saiu atrás do dono da mercearia. Jofre, o comerciante, ficou muito assustado ao ver os dois furos da picada da cobra na mão de Antonio.
Indagou que tipo de cobra fizera aquele estrago e ele não sabia dizer. Quando jogou a cobra para longe viu que era grossa como um cano de água e tinha uma variação de marrom em seu corpo. Não vira mais nada, a dor parecia cegá-lo, precisava de ajuda. Jofre pediu ao filho para tomar conta da venda e levou o conhecido para o Pronto Socorro, era caso de urgência.
O médico que o atendeu disse que poderia ser muito grave e como não sabia o tipo de cobra que o havia picado, ele tomaria o soro antiofídico polivalente e ficaria em observação para acompanhar a evolução do quadro. Com um olhar sério e penetrante, o velho médico, lhe disse:
 - Há casos de picadas de cobras que deixam aleijões horríveis no local da picada, esperamos que não seja o seu caso. Depois disse que Antonio ficaria internado para observação até o dia seguinte ou poderia morrer sozinho.
A contra gosto foi colocado em uma maca com o braço elevado e orientado a ficar em repouso absoluto. O homem sentiu medo e concordou em ficar ali até o dia seguinte. Jofre saiu dizendo que voltaria no outro dia.
Antonio não se conformava com a situação em que se encontrava, a única explicação que vinha a sua cabeça era a perseguição da pedra amarela. Era um homem marcado pela desgraça e nada poderia fazer. Se conseguisse encontrar a tal pedra, a levaria para a represa de onde foi retirada.
Foi uma noite de muitos pesadelos e aflições; sentia muita dor e a picada da cobra parecia se repetir o tempo todo. Despertou com o rosto inchado e mal conseguia abrir os olhos, sentia-se mal, o dedo latejando e vermelho; o veneno era potente, não havia dúvidas.
O Doutor chegou e perguntou se havia feito xixi e Antonio disse que não. O velho médico, muito sério, disse que ele só seria liberado após a primeira micção e o resultado dos exames. Não deixaram ele se levantar e depois do xixi no papagaio ele foi tranquilizado; sua urina não continha sangue, era um bom sinal.
 No horário de visitas o Jofre chegou para vê-lo e Antonio queria ir embora. Insistiu muito e o médico concordou desde que ele permanecesse em repouso durante três dias e depois retornasse ao Hospital para nova avaliação.
Agradeceu ao novo amigo e adentrou à sua casa, precisava dar comida ao Lobo e ver como o Bernardo estava. Olhou no espelho e não se reconheceu, estava muito inchado, barbudo e fedido. Daquela vez, a pedra amarela quase o matou, foi por pouco. Entrou debaixo do chuveiro, precisava se livrar daquele cheiro horrível de mato misturado com Hospital. Deu comida ao Lobo e foi deitar-se, estava muito fraco.
Em três dias ele ainda estava mal, o corpo dolorido e o dedo vermelho e muito inchado. O retorno ao médico foi preocupante; seu dedo desenvolvera uma celulite no local da picada e poderia piorar ainda mais, disse o médico receitando antibióticos.
Antonio estava travado pelos últimos acontecimentos, mal conseguia andar dentro da casa, seu consolo era Bernardo, que ouvia suas queixas e reclamações.
Depois de uma semana ele saiu para comprar comida no empório do Jofre, que era a única relação que mantinha com o mundo fora de sua casa. Comprou o que precisava e tratou de voltar para sua casa, ainda estava debilitado.
Deitado na rede juntamente com Bernardo, o homem olhava as estrelas e se perguntava por que acontecera aquilo com ele? Esperava que seu dedo melhorasse e que dias melhores viessem, porque aqueles foram terríveis.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

"NÃO HÁ NENHUMA ÁRVORE QUE O VENTO NÃO TENHA SACUDIDO". PROVÉRBIO HINDU--- AS VEZES BASTA VALER A PENA. EVA IBRAHIM.

                   ADENTRANDO À MATA.
                           CAPÍTULO 12
         Deixou a casa com alguns móveis para Flora e se mandou com o boneco, o Lobo e algumas coisas de uso pessoal. Na carta que deixou sobre a mesa  da cozinha, dizia que o aluguel estava pago por três meses e ela estava livre e ele também. Gostava dela e do menino, mas preferia ficar sozinho.
          A mulher não entendeu nada, mas teve que aceitar, ele não deixara endereço com ninguém; não queria ser encontrado.
         A sua vida começava naquele dia, seu passado estava enterrado, respirou profundamente e adentrou à nova casa com a mala e uma mochila nas mãos. O cachorro, a cama, o fogão e alguns utensílios domésticos ele trouxera no dia anterior com um caminhão de aluguel. Colocou a mala sobre a cama e tirou o Bernardo dali, dizendo que nunca mais ele teria que ficar preso na mala, pois, aquela era sua casa.
          No dia seguinte, tratou de sair para comprar comida e conhecer a vizinhança. O dia foi cheio de compras: móveis usados, televisão, geladeira, sofá, mesa, cadeiras e uma rede para colocar na área dos fundos. O homem estava contente e sorriu abraçado ao Bernardo, antes de se deitar para dormir.
         Durante uma semana, Antonio teve muito trabalho para organizar sua casa e finalmente estava tudo como ele desejava. Á noite ele e o Bernardo cismavam deitados na rede, o que fazia o homem pensar em sua vida. Pensou em Verônica, no acidente e depois franziu a testa lembrando-se da pedra amarela. Agarrou-se ao Bernardo e olhou para o céu agradecendo a Deus pela felicidade que estava sentindo. Agora, ele vivia pertinho do céu e podia ver muitas estrelas brilhando; a paz daquele lugar o deixava extasiado.
        Decorridos trinta dias que ele chegara à nova moradia, resolveu adentrar a mata que ficava nos fundos de sua casa; queria conhecer o local. O dono do armazém lhe dissera que por aquelas bandas havia uma bica de águas, que descia da montanha visualizada no horizonte. Pouca gente sabia da existência daquela água pura, pois o acesso era difícil e perigoso. E, no rio que cortava a mata havia muitas cobras venenosas.
         Porém, a curiosidade de Antonio foi maior que o falatório das pessoas da região, ele queria saber o que havia no fundo do seu quintal e se preparou para aquela aventura; tinha tudo planejado. Ainda estava escuro quando o homem com uma mochila nas costas e um facão nas mãos, foi em direção à mata.
        Antonio vestia roupas grossas e botas de cano alto para se proteger das cobras e dos galhos das árvores; estava precavido. Lentamente abria caminho com o facão e com muita persistência batia firme nos troncos das árvores; o mato era alto, cerrado e cheio de insetos e aracnídeos. A formação de árvores era densa e úmida, parte do que sobrou da Mata Atlântica, a antiga floresta do litoral brasileiro. Raramente algum caçador se aventurava a ir para aqueles lados, havia histórias de onças e cobras venenosas naquele local. O dono do armazém garantiu que ali, no meio da mata, havia uma nascente de águas.
      A temperatura passava dos trinta graus e não havia o que matasse a sede; Antonio bebia avidamente cada gole da água que levara. Muitas vezes pensou em voltar, mas algo o fazia seguir em frente. Seguia lentamente, pois cada metro percorrido era conseguido com muita força nos braços, que chegava a latejar.
         Antonio parou para descansar e viu um tronco de árvore que parecia um banco e sentou-se para comer um lanche que trouxera na mochila, já passava das onze horas da manhã.
         O Sol abrasador castigava a região, havia um alerta geral, só faltava surgir algum incêndio; o homem sentiu medo. O lugar era cheio de sons estranhos; “Os sons da mata” Ele já ouvira falar sobre isso, mas se sentia inseguro; era tudo muito grande e sombrio; seus ouvidos estavam aguçados. Era um piar aqui, outro acolá, um farfalhar de galhos, bandos de pássaros voando e outros sons não identificados. Nunca fora covarde e agora estava testando sua coragem, pensou apreensivo.
         Por entre as árvores, o Sol brilhava forte e ele tinha percorrido apenas dois quilômetros, o esforço fora grande. Os cipós, as árvores de pequeno porte e outras vegetações formavam uma cortina, impedindo a passagem do homem. Aos poucos ia vencendo a mata virgem. Quando o Sol já estava alto, chegou á uma pequena clareira de onde viu uma montanha com formação rochosa.
         Ao pé da montanha havia um vale com muitas árvores, era um bom sinal, a mina de água poderia estar ali. Seguiu em frente e lá em baixo encontrou um veio de água; a mina estava perto, tinha que procurar. Rodeou a rocha seguindo o rastro da água e encontrou a nascente dentro de uma gruta. Com uma folha de seringueira improvisou uma concha para pegar água e beber até saciar a sede; estava contente, achara um “Oásis”.
         O lugar era fresco e a mata verde; encontrou alguns bichos, aves e insetos. Havia muita vida no meio da mata em função da água que ali corria. Era pequena a quantidade de água que escorria da montanha por causa da seca, mas estava ali e era o que importava. Teria que voltar, já passava das três horas da tarde, temia que escurecesse e ele tivesse que pernoitar na mata; sentiu um arrepio que percorreu seu corpo.
Antonio estava muito cansado, não estava acostumado com serviço tão pesado; seus braços pareciam pesar toneladas. Ele seguia o caminho inverso, mas, assim mesmo, tinha que usar o facão e quando pegou em um galho para cortá-lo sentiu uma dor intensa na mão esquerda. Ele agarrara uma cobra, que estava enrolada no galho. Instintivamente jogou a cobra para bem longe. E, com a mão doendo muito, apertou até sangrar, para o veneno sair. Desesperado e sem saber se aquela cobra era venenosa ou não, Antonio seguiu em frente com a certeza que aquele fato estava relacionado com a maldição da pedra amarela.
        Um texto de Eva Ibrahim.

        Continua na próxima semana.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

"JÁ QUE É PRECISO ACEITAR A VIDA, QUE SEJA ENTÃO, CORAJOSAMENTE". LYGIA FAGUNDES TELES-- FAÇA DO PRESENTE SUA ALEGRIA. EVA IBRAHIM

              POR MAL TRAÇADAS LINHAS...
                                 Capítulo 11
        O Antonio do escritório, o viúvo de Verônica, queria ficar com a moça em troca de seus carinhos; era homem e sentia seu sangue ferver quanto o corpo de Flora roçava no seu. Porém, o Antonio solitário, o pai de Bernardo, queria sua privacidade de volta. Todos os dias ele se perguntava como poderia se desvencilhar da situação em que estava metido. O homem vivia uma contradição, no momento em que tinha Flora em seus braços sentia-se satisfeito, logo depois, crescia em seu íntimo uma revolta e ele desejava que ela desaparecesse dali; queria ficar só. Era uma luta interior que Antonio não deixava transparecer. A moça, entretanto, sentia-se a nova dona da casa.
         Vinícius caiu da bicicleta e fraturou o braço, deixando o homem apreensivo; ele temia a volta da maldição da pedra amarela. Antonio tinha pesadelos com Verônica que o acusava de traição e com Vinicius, que ele temia ser a próxima vítima da pedra amarela; teria que afastá-los dali. Gostava da criança e não queria que sofresse qualquer dano.
         A vida corria aparentemente normal, a moça era cuidadosa e companheira. Flora já se acostumara com a nova casa, foi ganhando confiança e queria muito mais do que o homem poderia esperar.
       Certo dia, a moça pediu para Antonio abrir o guarda roupas, que ela iria doar as coisas de Verônica para um asilo, assim teria mais espaço no armário para arrumar suas coisas. O homem gaguejou e quase se afogou com a saliva de tão irado que ficou. Em seguida esbravejou:
       –Ali, ninguém mexe e ponto final. 
       A relação do casal esfriou depois da postura intransigente de Antonio. Ele estava visivelmente insatisfeito com aquela situação; Flora mexia em tudo e ele temia por seu segredo; aprendera a viver sozinho. A moça teria que seguir sua vida e deixa-lo em paz; ela e o filho estavam ali por acaso, não por sua escolha, pensava, revoltado.
Flora lhe dissera que tinha irmãos no interior do Rio de Janeiro e ele pensava em leva-la para lá e mudar de casa para ela nunca mais encontra-lo. Sua aposentadoria estava para sair e ele deixaria tudo preparado para se livrar dela e do menino.
       Demorou mais três meses, que para ele parecia uma eternidade, mas a notícia de sua aposentadoria saiu e ele pulou de alegria; tinha planos para ele, o Bernardo e o Lobo. Tivera bons momentos com Flora, mas o medo de ser descoberto em seu segredo estragara o prazer de uma vida a dois. Antonio sabia que a mulher era curiosa e algum dia abriria a porta do guarda roupas; era um risco iminente.
        Com muito jeito, ele convenceu a moça a fazer uma visita aos seus parentes. A cunhada de Flora dera a luz recentemente e estava com problemas de saúde; depressão pós-parto diagnosticara o médico.
         Júlio, o irmão de Flora, telefonara pedindo a ajuda da irmã; sua mulher estava doida, dissera o rapaz. Lorena estava sentada na poltrona com a filha recém-nascida no colo, no quarto da maternidade e Júlio, seu marido, em pé olhando o bebê. A enfermeira entrou e perguntou à moça se não iria amamentar a filha e a resposta foi muito estranha.
- Trás a criança que eu amamento, disse Lorena. A enfermeira, surpresa, afirmou que a criança estava em seus braços e a resposta foi chocante:
          - Essa aqui é só uma foto, trás a criança. O marido, espantado, pediu para segurar a foto e tirou a filha dali, sua esposa não estava bem.
          O médico foi chamado e constatou um surto psicótico. Em seguida, Lorena recebeu um sedativo e foi levada dali. Júlio não sabia o que fazer e quando o médico disse que Lorena permaneceria internada e a criança teria alta, o rapaz entrou em desespero.
         - O que ele faria com o bebê?  Estava sozinho e não poderia cuidar da criança. Então, pensou em pedir a ajuda de Flora, sua irmã, depois pensaria em outra solução.
Antonio vislumbrou uma saída para seu drama, incentivou a moça a pedir férias do serviço e passar alguns dias na casa do irmão, até sua cunhada melhorar. Flora não pode recusar e acertou sua permanência na casa do irmão.
O homem tratou de levar, rapidamente, a mulher e a criança para a casa do irmão dela e foi ver uma casa de aluguel em Petrópolis. Pretendia por em prática o plano que criara para se livrar de Flora e seu filho.
O plano era perfeito, nem sua irmã Nalva poderia saber onde ele estava; queria privacidade total. Sentiu pena da irmã, gostava dela, porém, cortaria relações com o mundo todo para ter privacidade.
A casa ficava no alto da montanha, era isolada das outras, tinha um quintal grande e no fundo um resto da floresta que um dia existira ali. A vista era ótima, ficava pertinho do céu e bem na periferia da cidade, era tudo o que ele almejara. Antonio precisava de apenas uma semana para por em prática seu plano.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

"AINDA BEM QUE SEMPRE EXISTE OUTRO DIA, E OUTROS SONHOS. E OUTROS RISOS. E OUTRAS PESSOAS... E OUTRAS COISAS..." CLARICE LISPECTOR. -- AMOR SE CURA COM AMOR PRÓPRIO. EVA IBRAHIM

                                  A VELHA SENHORA.
                                   CAPÍTULO 10
       Os dois sentaram-se em frente ao Hospital e Antonio para distrair o menino começou a contar histórias e olhar o céu, cravejado de estrelas. O homem sentiu nostalgia de seu passado; um sentimento de perda, uma frustração. Mas, lá no fundo ele sabia que ainda tinha muito amor para dar.
       A convivência com Bernardo fizera dele um paizão, sabia tratar uma criança; o menino recostou em seu corpo e dormiu, estava cansado. Flora apareceu para procurá-los e viu a cena comovente, o homem mal respirava para não acordar o menino. Com carinho ela pegou o filho no colo e pediu para Antonio levá-los para casa, nada poderia fazer por sua mãe, teria que aguardar a evolução do quadro; o médico foi categórico.
       Antonio entrou na casa da moça para ajudá-la com a criança e depois ficaram sentados na sala conversando. Ela contou sobre seu relacionamento anterior e o motivo de sua separação. Finalizando a conversa, a moça enfatizou, seu maior tesouro era Vinicius, seu filho querido. O pai dele desapareceu e nunca mais deu notícias, ela e a mãe cuidavam do menino, sozinhas. 
        Pela primeira vez Antonio falou de Verônica e sua dor, mas nada disse sobre o boneco, era seu segredo e ninguém poderia saber. Ali estava outra mulher compartilhando de sua vida, parecia estar traindo sua esposa e o Bernardo também. Sentiu repulsa de si mesmo, porém, ele estava vivo e queria uma nova chance. Flora estava disponível e ostensivamente se oferecia a ele, que também a queria; era um homem e uma mulher atraídos pelo desejo.
        Ele afastou seus pensamentos, aquele não era o momento para satisfações amorosas e saiu caminhando pensativo. Os acontecimentos precipitaram seu caso com a moça e ele sentia-se conduzido pela situação. Lembrou-se da pedra amarela e sentiu um arrepio percorrendo seu corpo; fez o sinal da cruz, o velho medo estava presente.
       O homem foi para casa pensando em Flora e seu pequeno filho. O menino parecia ter gostado muito dele, que pela primeira vez sentiu a doçura de uma criança.
       -Se a avó falecesse quem cuidaria do menino para a moça trabalhar? Estava gostando dela e queria ajudá-la, ficou deitado com Bernardo ao lado contando a ele tudo que estava acontecendo. Ele continuava seu filho do coração, mas, não poderia deixar de gostar de Vinicius; ainda mais agora que a avó estava doente. Sentia medo de se apaixonar e não dar certo, mas havia a possibilidade de refazer sua vida. Aquele pensamento aquecia seu coração.
       No dia seguinte ele foi trabalhar e Flora não; Antonio ficou preocupado e ligou para o Hospital, queria notícias. A moça chorando disse que o filho estava na creche e sua mãe morrendo. Antonio prometeu que sairia dali para o Hospital para ajudá-la e até levaria o Vinicius para sua casa se fosse preciso. Depois pensariam em outras soluções para ela e o filho.
      Antes de sair para o trabalho, ele trancou o Bernardo na mala e colocou no guarda roupas, talvez trouxesse o menino para sua casa. Estava atento à situação, era um ato de solidariedade e ele sabia muito bem como era triste passar por uma situação daquelas e, estar sozinho. Saiu mais cedo do trabalho, passou no Hospital e foi buscar a criança, levando-a para sua casa.
O menino era falante e estava faminto, brincou com o Lobo e sentou-se em frente á TV, onde acabou dormindo. O homem cobriu o pequeno, do mesmo jeito que cobria o Bernardo e depois foi pegar o boneco no colo, acariciando-o.                                                                         
        Flora ligou para saber da criança e pedir para que Vinicius dormisse na casa de Antonio, pois ela teria que passar á noite ao lado da mãe. Ás cinco horas da manhã o telefone tocou e a moça, chorosa, disse a Antonio que sua mãe falecera. O homem que já sofrera com a morte da esposa sabia que precisava ajudar sua namorada. Antonio prontificou-se a tomar as providencias para o sepultamento e a convidou para ir até sua casa ficar com o garoto.
        Ali estava uma mulher em uma situação desesperadora e ele teria que lhe dar toda assistência. Gostava da moça e a criança lhe inspirava carinho, seu coração estava cheio de amor para dar.
    Flora e Antonio seguiram abraçados, o menino segurava a mão de sua mãe e saíram do cemitério, calados. À volta para casa seria difícil, Antonio sabia e se propôs a levar o menino para a casa dele e depois a mulher iria passar a noite com eles.
       Foi uma longa noite para o homem que pensava em tudo que lhe acontecera e agora estava naquela situação de difícil solução. Se acolhesse a namorada teria que dar fim ao Bernardo e ele amava o boneco; nunca o abandonaria. Flora dormiu logo, pois tomou um sedativo, estava exausta.
      Amanheceu e Antonio levou a moça para sua antiga casa e foi trabalhar, depois pensaria em alguma coisa para se desculpar com Flora; não queria que ela ficasse em sua casa.
      Porém, foi difícil se esquivar daquela situação, a moça dizia ter medo em ficar sozinha na antiga casa e foi ficando na casa de Antonio.
      O Bernardo permaneceu escondido dentro do armário de roupas, pois Flora mudou-se para lá. O homem, nervoso, disse para a namorada que lá no guarda roupas estavam as coisas de Verônica e não queria que ninguém mexesse; a moça aceitou conformada.
      Então, Antonio tinha uma mulher em sua cama, mas não tinha privacidade. Durante um mês ele só via o Bernardo quando a mulher saia com a criança. A novidade acabou e ele queria voltar à sua vida com o boneco e o Lobo.
      Um texto de Eva Ibrahim.
      Continua na próxima semana.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

ESTAÇÃO SOLIDÃO- UMA NOVA VIDA - "TER ALGUÉM QUE TE ESPERA TODOS OS DIAS, CHEIO DE AMOR E CARINHO, É IMPAGÁVEL" EVA IBRAHIM.-


                           UMA NOVA VIDA
                                  CAPÍTULO 9
         Antonio morava na cidade do Rio de Janeiro e pouco frequentava a praia, Verônica não gostava de Sol, dizia que ficava parecendo um peru de Natal tostado, por isso faziam outros passeios em direção oposta. O casal gostava de passear em Petrópolis, Teresópolis e Friburgo; apreciavam o ar das montanhas.
         Logo depois das festas o homem saiu á procura da cadeira e do carrinho de bebê que comprou e levou para um conhecido adaptar, dizendo que era para doar á uma pessoa paraplégica. Iria procurar uma Imobiliária para mudar de bairro, queria um lugar próximo, mas onde ninguém o conhecesse. Mudaria de vida, deixando o passado para trás, solidão nunca mais.
A mudança foi realizada em um domingo após a passagem de ano. Os três mudaram para uma casa bonita, com um jardim na frente e um pequeno quintal, pois o Lobo precisava de espaço para vigiar a casa. Aquele seria o lar da pequena família a partir daquele dia.
        O homem passou o dia arrumando a casa e quando abriu a mala e tirou o Bernardo ficou satisfeito; era um plano perfeito. Colocou o boneco deitado na cadeira com o boné cobrindo parte do rosto e com o toldo abaixado; parecia uma pessoa adormecida. Ele estava ótimo, agora poderiam sair para passear. O Sol já se punha no horizonte e o Mar parecia um grande espelho brilhante. Ao longe estava estacionado um grande navio com suas luzes acesas. Antonio olhava o céu e pedia a Deus que transformasse o Bernardo em um ser humano; neste momento uma estrela cadente cortou o céu, parecia ter ouvido seu desejo.
        Chegando à sua casa foi procurar um velho livro do Pinóquio, ele tornara-se humano por causa do grande amor que Gepeto dedicara a ele. Aquele livro tinha tudo que Antonio desejava para si. Ele sabia que era ficção, mas gostava de imaginar que poderia acontecer com ele e Bernardo também.
         Ele amava Bernardo como se ama a um filho. O carinho de pai que havia adormecido em seu peito agora viera á tona com muita força. Quando entrava em casa a primeira coisa que fazia era pegar seu filho nos braços e acariciá-lo, enchendo-o de beijos, depois ia á cozinha preparar o jantar. Aprendera a cozinhar para ficar mais tempo em sua casa.
        Depois de dois anos da morte de Verônica o homem não sabia definir se Bernardo era um amigo ou um filho muito amado. A verdade é que estivera afastado de tudo e de todos para proteger o boneco, mas depois de tanto tempo já estava sentindo falta de um carinho feminino. Sentia saudades de sua esposa, ainda a amava.
         No escritório havia uma funcionária nova que vivia flertando com ele e acendia um velho fogo adormecido. Antonio pensava em sair com a moça sem compromisso, mas, temia ser mal interpretado. Flora era uma balzaquiana bonita, que vinha de um relacionamento complicado. As fofoqueiras de plantão, diziam que tinha um filho de cinco anos que morava com a avó no interior.
         Aos poucos a moça foi se aproximando e ganhando espaço no coração de Antonio, que concordou em acompanhá-la á um baile de veteranos. Os dois dançaram a noite toda, Flora era um “pé de valsa”. Foi uma noite festiva e aconchegante, Antonio sentiu o corpo da mulher juntinho ao seu; ficou excitado, mas era um cavalheiro e teria paciência. Voltou para casa cantarolando e abraçou o Bernardo dizendo que precisava voltar a viver.
 Comprou um automóvel novo, há muito estava guardando dinheiro para realizar seu sonho. Agora poderia passear com Bernardo e com a Flora também.
        Na segunda feira ele a encontrou no escritório e ganhou um sorriso de cumplicidade; aquele flerte prometia! A solidão chegou à vida de Antonio de surpresa e o afastou das possibilidades de refazer sua vida emocional por tristeza, inibição e finalmente por ter criado uma fuga e um mundo onde só ele e Bernardo podiam estar. Foi o modo que ele encontrou para fugir da depressão e agora sentia que ainda estava vivo e muito ansioso para amar novamente.
         O homem resistia porque temia que o relacionamento acabasse por levar a mulher á sua casa e ele perderia a privacidade. Dentro de casa ele era um e o outro da rua era o Antonio do escritório e ex-marido de Verônica. O viúvo queria Flora, pois estava sedento de carinho e marcara sair com ela no sábado. O encontro seria no salão de baile e depois, Antonio tremia só em pensar, parecia um adolescente com sua primeira namorada.
         Olhava para o boneco e sentia remorso, pensava que o estava traindo; era uma sensação estranha que o incomodava muito. Bernardo fora o responsável pelo seu equilíbrio e sua sobrevivência emocional, mas, ele era um homem e estava sedento por sexo. Depois de dois anos Antonio pensava em ter uma mulher em seus braços novamente e Flora estava próxima e disponível. Para diminuir sua culpa ele saia no domingo de manhã com o Bernardo para conhecer as cidades montanhosas ao redor do Rio de Janeiro. Passeavam em Friburgo, Petrópolis e Teresópolis; dizia a Bernardo que um dia iriam morar lá nas montanhas, era só se aposentar.
         Entrou no Salão e não viu a moça, procurou com o olhar e depois se sentou na banqueta do bar e ficou bebericando com o copo de vodka na mão. Não tirava os olhos da porta de entrada, ele estava ansioso e seu coração disparado.
         – O que teria acontecido-?
           Antonio ficou preocupado. Flora gostava de dançar e havia confirmado a presença no Baile. Passava da meia noite quando seu celular tocou. Era a moça chorando e pedindo sua presença no Hospital, sua mãe havia sofrido um infarto agudo do miocárdio.
         Ele deu um pulo lembrando-se de tudo que aconteceu com Verônica e com uma ruga na testa, lembrou-se da pedra amarela.
        - Será que a maldição iria começar novamente? Bastava alguém aproximar-se dele e os problemas começavam a aparecer?
          Trancou a cara e foi rapidamente dar apoio á Flora. A velha senhora ainda estava viva, mas o médico dissera que o caso era muito grave e ela corria risco de vida. Com ela estava Vinícius, o filho de Flora, um garoto de cinco anos, que sua mãe cuidava. Antonio convidou a criança para sair um pouco, tomar um ar; aquele ambiente não era bom para ele. O homem sentiu a tristeza no olhar do menino, ele amava a avó e temia que Deus a chamasse para morar com ele; Vinicius falou entre soluços e muitas lágrimas.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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