CHORUMELAS
CAPÍTULO NOVE
Valentina recebeu alta Hospitalar,
teria que se recuperar em sua casa. Então, começou o sofrimento de Clara, que
tinha que aguentar as chorumelas da filha. A paciente saiu do hospital apoiando
o estômago com as mãos e andando vagarosamente; naquele momento dava para
perceber que sua recuperação seria lenta e complicada.
A
nutricionista, que a acompanhava, entregou as instruções no momento da alta. Nos
primeiros quinze dias, deveria se alimentar a cada trinta minutos e, em
pequenas quantidades. Cinquenta ml somente de líquidos, para não sentir
desconforto e dores estomacais.
Entretanto,
ela era uma paciente intolerante e a cada gole soltava uma blasfêmia, que a mãe
tinha que aguentar calada. A família não podia se alimentar diante de
Valentina, pois ela começava um drama, com direito a choro, lamentações e
acusações contra a mãe:
- Você é a culpada de ter-me feito gorda e os
outros não; eu te odeio. Não vou aguentar esta vida, prefiro a morte rápida do
que morrer de fome.
Então,
não jantavam mais juntos, a família reunida; cada um comia sozinho na cozinha
para ela não se estressar. Clara aguentava calada, tinha pena de sua filha.
Cada dia, parecia mais complicado que o outro. Durante quinze dias ela teria
que tomar o suco fracionado, que era intercalado
com água na mesma proporção e uma sopa de carne com legumes coada em guardanapo
de pano, que ela odiava.
Deveria
também, ingerir suplementos alimentares em pó, dissolvidos em água, que na
maioria das vezes, ela cuspia esbravejando. Os dias foram passando e Valentina estava
mais magra, perdera alguns quilos, embora ainda não dava para ser notado.
Quinze
terríveis dias se passaram e na visita à nutricionista, mãe e filha constataram
que a cirurgia fora um sucesso; mas ainda estava apenas começando, havia muita
luta pela frente.
Na
segunda quinzena, foram introduzidos alimentos pastosos, que Valentina comia
descontente, porém não havia alternativa e ela foi se acalmando, pois já sentia
seu corpo mais leve. No segundo mês, foram introduzidos alimentos sólidos,
porém, bem cozidos e em pequenas quantidades a cada três horas.
Com
quinze quilos a menos, Clara acompanhou a filha ao cabeleireiro, depois às
lojas, queria que ela se sentisse bonita. O Natal estava próximo e ela deveria
tomar uma injeção de ânimo. Ferrugem à acompanhava e estava contente que a sua
melhor amiga estava ficando bonita e atraente.
No
Natal a família pode se reunir em volta da mesa e comer sem os protestos de
Valentina. Estava bem arrumada e parecia com sua irmã Ana; as duas eram moças
bonitas. Clara sorriu e, pela primeira vez, depois de três meses, ela respirou
aliviada dizendo a Rui:
-
Nossa filha está ficando bonita! Já perdeu vinte quilos e agora está deixando
as chorumelas de lado, louvado seja Deus.
Um
texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.