A
PEDRA AMARELA.
CAPÍTULO
4
A represa exercia um grande fascínio sobre Antonio, um jovem sonhador.
Quase todos os dias pegava sua sacola com a toalha, sabonete e ia caminhar ao
longo da extensão da represa, seguia pela margem direita, que dava para o
paredão de pedras. Algumas vezes ele atravessava aquelas águas nadando e quando
chegava do outro lado, deitava-se na relva para descansar. Depois de ter as
forças recuperadas ele retornava à margem direita. Saia da água ensaboava o
corpo e a cabeça, em seguida mergulhava fundo nas águas turvas da represa.
Então, nadava com longas braçadas para tirar o sabão do corpo; saia da água, enxugava-se e voltava para casa indo almoçar satisfeito. Chegava sorridente com
a toalha jogada sobre o ombro e a sacola amarrada na ponta; era a rotina do
rapaz. Antonio trabalhava no turno da tarde e podia desfrutar dos passeios
matinais.
A represa pertencia á Usina de Açúcar, no
interior do Estado de São Paulo. Aos domingos muita gente ia se refrescar em
suas águas. Houve inúmeros pedidos para que limpassem o terreno transformando o
local em uma praia artificial; o lugar era muito bonito. Um grande espaço
aberto e muitas árvores para fazer sombra; só faltava a areia. A Usina de
açúcar atendeu aos pedidos e muitos caminhões de areia foram distribuídos no
local. O lugar tornou-se uma praia, que abrigava um formigueiro de gente, todos
querendo desfrutar da novidade. Aos domingos, famílias inteiras acampavam sob
as árvores; levavam rádio para tocar músicas, cantavam, dançavam, comiam,
bebiam e passavam o dia se divertindo. Havia lanchas, barcos e caiaques que
aproveitavam para desfilar, embelezando o local e alegrando as pessoas.
Sombrinhas coloridas e cadeiras de praia enfeitavam o lugar cheio de moças
bonitas.
Antonio não gostava de ir á praia aos domingos. Preferia ir ás segundas
feiras, pois, encontrava coisas deixadas ou perdidas pelos frequentadores do
local. Ele tinha uma caixa secreta, onde guardava os achados. Ás vezes mostrava
à sua mãe, que ria muito; uma mulher alegre e brincalhona. Um dia, Lola, a mãe de
Antonio, pediu ao filho que lhe desse uma pedra amarela que fora achada na
praia; era do tamanho de um limão galego e muito bonita.
-A
pedra tinha um brilho especial, disse a mulher sorrindo com a pedra na mão.
Em seguida a guardou em sua caixinha de
música, dizia que era para enfeitar.
Na caixa de Antonio, havia de tudo: calcinhas
de mulher, chapéus, bonés, correntes, brincos, anéis e algumas pedras
coloridas.
Durante anos ele juntou aquelas bugigangas e não deixava ninguém mexer
na caixa, dizia ser seu tesouro e escondia dos irmãos menores; três meninos e
uma menina. Para a tristeza de Antonio, sua mãe, que era viúva, faleceu
repentinamente. A irmã, que estava com dezoito anos, assumiu as rédeas da casa.
Depois da missa de sétimo dia, Nalva chamou os irmãos para mexer nos guardados
da mãe. Antonio pediu para ficar com a pedra amarela que fora ele mesmo quem
dera a sua mãe, os irmãos concordaram. Era somente a pedra que Antonio queria,
o restante poderia ficar com os irmãos; ele era o mais velho e já trabalhava
para se sustentar, ficaria ali até se casar. Depois deixaria a casa e a pensão
do pai para os irmãos.
Nalva era curiosa e gostava de ler sobre assuntos esotéricos; ela havia
comprado uma revista onde tinha uma reportagem de como limpar e energizar
pedras e cristais. A revista estava sobre a mesa e Antonio achou interessante,
iria seguir ás instruções. Colocou a pedra em um copo com água e sal deixando
ao luar, que por coincidência era noite de lua cheia, como pedia á revista.
Foi dormir e não pensou em mais nada. No dia seguinte ele pegaria a
pedra de volta, limpa e energizada. O rapaz dormiu um sono pesado, pois estava
cansado. Acordou assustado com um grande estouro, acendeu á luz e olhou o
relógio, marcava uma hora da manhã. Levantou-se temeroso, o estrondo parecia
uma bomba. Acendeu todas as luzes da casa e esperou um pouco; estava tudo
quieto. Sentou-se no sofá e sentiu um arrepio, que percorreu seu corpo inteiro.
Ficara muito assustado, apagou ás luzes e voltou para á cama, poderia ter
sonhado e iria dormir novamente. Demorou a pegar no sono, seu coração parecia
pular dentro do peito.
Antonio levantou-se cedo e tomou o café que sua irmã fizera, depois foi
ver a pedra antes de sair para o trabalho. O rapaz teve o maior susto de sua
vida ao ver o copo quebrado. Seu corpo tremeu e seus cabelos ficaram eriçados;
Antonio sentiu um forte calafrio.
Os cacos estavam por toda parte e a pedra havia sumido. Ele estava muito
nervoso e chamou Nalva para ajuda-lo a procurar a pedra. Vasculharam o quintal
inteiro e nada da pedra. Desolados, os dois irmãos recolheram os cacos de vidro
do copo quebrado, embrulhando-os em um jornal para jogar na lixeira. Mudos
diante da situação se olhavam atônitos, ali havia um mistério; ficaram com
medo.
-O que seria aquilo? Disse
Antonio com olhos arregalados. O desconhecido desestabiliza qualquer pessoa.
- Que relação teria a pedra com o
estouro? O que teria sido libertado? Seria do bem ou do mal?
Nalva nada dizia, apenas ouvia o irmão lamuriar.
O homem balançou a cabeça e saiu para o
trabalho com aquele mistério enchendo seus pensamentos.
A pedra nunca foi encontrada, desapareceu como por encanto ou foi
desintegrada pelo estouro. Antonio temia só em pensar que ele poderia ter
liberado alguma coisa que estava escondida na pedra. Nunca saberá; passou um
longo tempo assustado, não sabia o que realmente acontecera.
- O que estaria preso naquela pedra? Que
força estranha havia para provocar tamanho estouro? Aquele fato não saia da
cabeça do homem.
Quando se lembrava do ocorrido ficava com o
corpo todo arrepiado. O homem tinha pesadelos com a pedra e procurou investigar
em livros e sites onde havia reportagens sobre pedras e cristais. Antonio vivia
um pesadelo, tornara-se um homem medroso.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.