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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

"SONHOS SÃO DELICADAS BORBOLETAS DE LONGAS ASAS AZUIS. SILENCIOSAS E SONHADORAS DORMEM EM SEUS DELICADOS CASULOS, ESPERANDO O MOMENTO DA GRANDE CONCENTRAÇÃO, PARA CONQUISTAREM A IMENSIDÃO DO CÉU, UM INFINITO SEM FIM". EDNA FRIGATO

 A BORBOLETA

CAPÍTULO DEZ
            Fernando parecia sereno ao contar os fatos vividos enquanto estava em coma; para ele parecia natural relatar onde estivera. No entanto, Marília ficara espantada e não sabia como reagir àquela história. Não poderia demonstrar incredulidade ou menosprezar o que ele dizia naquele momento, mas era difícil aceitar sem fazer perguntas.

              Ela foi salva pela campainha, que determinava o final do horário de visitas. Teria até o dia seguinte para enfrentar Fernando e tentar entender aquilo tudo. Saiu atordoada e andou rapidamente, parecia querer fugir de alguma coisa. E, quando percebeu, já estava em frente à sua casa.

             Sentia-se realmente preocupada, precisava contar para o seu irmão e ouvir seus conselhos. Estava acuada, não sabia se cortava ou incentivava aquela história, que seu marido insistia em contar.

              O conselho recebido do irmão era para ela ouvir e não contrariar. Fernando estava em um processo de recuperação e retorno à vida. Marília pediu perdão a Deus por ser tão incrédula, no entanto, ouviria com atenção as histórias que seu marido contasse; seu irmão estava certo. E, por mais difícil que fosse, tentaria entender, para ajudar na recuperação do seu amor.

              Voltou ao hospital e encontrou o marido na enfermaria. Lá ela poderia ficar durante uma hora inteira com Fernando. Demonstrou toda sua satisfação em ver os progressos do marido, estava feliz. No entanto, Marília procurava não entrar naquele assunto novamente, temia ouvir aquela história, que para ela era fantasiosa.

O lanche da tarde chegou e ela ajeitou o marido para comer, Fernando ainda precisava de ajuda; estava debilitado e se cansava atoa. O paciente comia, lentamente, alguns biscoitos e ela, vez ou outra, levava a xícara até sua boca para que sorvesse o chá.

 Não falavam, apenas se olhavam, para que Fernando pudesse engolir os biscoitos. Sua garganta estava sensível pelo longo tempo que estivera com um tubo na garganta. Entretanto, quando terminou de tomar o chá morno ele falou:

- Interessante, eu não me lembro de ter comido qualquer coisa, enquanto estava no campo dos lírios. Também não me lembro de sentir fome ou sede; estava satisfeito com tudo naquele lugar. Afirmou o paciente, pensativo. Depois prosseguiu:

 - Um dia eu segui uma borboleta, que estava sempre por perto e fui até a beira do rio. Fiquei cansado, deitei e dormi embaixo de uma árvore. Não senti medo nem desconforto, estava tudo bem. Lá era tudo muito natural, não havia medos nem sobressaltos.

            Marília ficou mais assustada, ele falava de uma realidade que não existia. Então, ela concordou com a cabeça e tratou de mudar de assunto. O esforço para se alimentar o deixou sonolento e Fernando dormiu.

           Ela levantou-se da cadeira e foi até a janela para olhar a vista. Marília quase caiu para trás, quando viu uma borboleta azul do lado de fora do vidro da janela.     
        
            – Meu Deus! Exclamou e deu um passo para trás. – Seria a mesma borboleta que Fernando dissera ter seguido?

            Em seguida, começou a rezar pedindo a Deus para proteger seu amor. Não contaria a Fernando, que tinham uma visita na janela, para que não ficasse impressionado.

            Os dias foram passando e na maioria deles a borboleta estava lá. Tornara-se um segredo incontável, nunca diria a ninguém sobre aquele fato. Depois de quinze dias na enfermaria, ela recebeu a notícia de que Fernando estava de alta para casa.

            Antes de sair do hospital ela foi até a janela e lá estava a visitante. Mentalmente, ela implorou a Deus que aquela história terminasse ali. Nunca mais queria ver aquela borboleta, sentia medo dela.

            Seu marido saiu do hospital andando com alguma dificuldade, precisava de tempo para sua total recuperação.

            – Fernando está vivo e sem sequelas neurológicas, por um milagre de Deus. Dissera o médico para a mulher emocionada.

           Marília abraçou o marido, estava pronta para ajudá-lo a seguir em frente, o restante ficaria no passado. A única certeza que ela tinha é que seu marido esteve entre a vida e a morte, aguardando uma decisão dos céus. Fernando estivera entre os lírios na companhia de uma borboleta azul.   
        
             A borboleta fora uma espécie de anjo salvador, que zelava pela sua recuperação e, agora sua missão terminava ali. Fernando estava bem e retornando à vida.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

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