ALÉM DA VISÃO
CAPÍTULO DOIS.
No
dia anterior, Sandro o filho de Gilda, estava com febre decorrente de um forte
resfriado. O menino de cinco anos apresentava os olhos purulentos, isto é, com
conjuntivite bacteriana. O pequeno foi levado ao Pronto Socorro e medicado; a
mãe foi orientada a lavar os olhos do filho e depois pingar um colírio de
quatro em quatro horas, até melhorar.
Gilda
medicou o menino e o colocou para dormir. Depois de algumas horas de sono, Pai
e mãe acordaram assustados com tantos relâmpagos e trovões que clareavam a
madrugada. Acabou a energia elétrica e Sandro acordou chorando, seus olhos
estavam pregados de secreção. A mãe procurou uma vela e tateando foi até a
cozinha para acender o fósforo. Depois, molhou na água, um chumaço de algodão
para limpar os olhos do filho e pegou o vidro de colírio, deixando-o sobre o
criado mudo, entre outras coisas. O menino estava com medo e a cada relâmpago
ele se agarrava a ela, queria abrir os olhos e não conseguia.
A
mulher estava ficando nervosa, a vela apagou quando o vento passou pela fresta
da porta e ela tateando pegou o vidro, que estava em cima do criado mudo e
pingou nos olhos de Sandro. Dois pingos em cada olho e o menino começou á
gritar.
Danilo, o pai, correu para ajudar;
acendeu a vela e olhando o rosto do menino ele também gritou, havia sangue no
rosto da criança ou parecia ser isto. Gilda ainda estava segurando o remédio
que pingara nos olhos da criança, era iodo, um remédio para curar machucados. O
medicamento estava ali porque usara para passar no joelho de Sandro, quando ele
caiu da bicicleta. A mulher estarrecida ficou sem ação. Ela não viu que havia
outra medicação ali e no escuro se confundiu; os frascos eram parecidos.
O pai pegou o menino e levou até a pia
do banheiro, lavando desesperadamente os olhos do filho, porém, ele não parava
de gritar; dizia que estava queimando. Gilda não sabia o que fazer e saiu
correndo chamar o vizinho, para leva-los ao Pronto Socorro.
Entraram pela emergência, pai e mãe
desesperados e o menino gritando que não via nada. O médico de plantão ficou
espantado quando examinou os olhos da criança; balançou a cabeça e pediu para a
enfermeira localizar o médico da oftalmologia que atendia ali.
Lavou novamente os olhos de Sandro com água
destilada e colocou uma compressa esterilizada para aguardar o especialista.
O
médico foi duro quando disse que havia pouca esperança do menino voltar a
enxergar; os olhos pareciam queimados, estavam esbranquiçados. Entretanto,
aguardariam o exame do colega dele.
Danilo olhou com ódio para sua mulher e
disse que ela era a culpada daquilo tudo. Gilda queria gritar, chorar e saiu
correndo da sala de observação. A mulher estava desesperada e não viu as escadas;
tropeçou e caiu no chão molhado da chuva da noite. Perdeu os chinelos e saiu
enlouquecida pela avenida, queria morrer; nada mais importava.
A mulher negra ouvia impassível, parecia
conhecer aquela história; vez ou outra balançava a cabeça, deixando Gilda
desabafar. O silêncio tomou conta do lugar, a moça soluçava baixinho apoiada no
ombro amigo. Depois de longos minutos, a ouvinte disse que a levaria até a
porta do quarto; precisava ver o filho, que chamava por ela.
Com cuidado disse que Gilda deveria
enfrentar a situação, o filho precisava dela e sempre haveria uma saída. Que se
agarrasse com Deus, que jamais ele a abandonaria. Quando chegaram ao corredor,
a mulher abraçou Gilda, passou a mão em seus cabelos, ajeitando-os, e disse que
fosse em paz, depois conversariam.
A moça, já mais calma, seguiu sem olhar
para trás e adentrou a sala de observação onde o filho estava. O marido
segurava a mão da criança tentando acalmá-lo. Danilo olhou com raiva e
perguntou onde estava. Gilda não respondeu nada, se aproximou e beijou o rosto
do filho, que se agarrou a ela.
O médico entrou e pediu que alguém fosse
buscar o remédio que foi usado, precisavam saber do que se tratava. A mulher se
afastou dizendo que iria até sua casa e voltaria logo.
Ao descer a escada do Hospital Gilda pisou em uma folha de árvore e só então, viu que estava descalça; sentiu-se envergonhada.
- Estaria vivendo um pesadelo? Pensou, olhou à sua volta e concluiu que era tudo muito real, não poderia acordar.
Ao descer a escada do Hospital Gilda pisou em uma folha de árvore e só então, viu que estava descalça; sentiu-se envergonhada.
- Estaria vivendo um pesadelo? Pensou, olhou à sua volta e concluiu que era tudo muito real, não poderia acordar.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.