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sexta-feira, 2 de junho de 2017

"AS VEZES, DEUS ACALMA AS TEMPESTADES, OUTRAS VEZES, ELE ACALMA O MARINHEIRO OU, AINDA, NOS ENSINA A NADAR". AUTOR DESCONHECIDO

NO SILÊNCIO DA DOR

CAPÍTULO DOIS
           Todos saíram e deixaram o marido se despedir da esposa; era um momento único, onde a vida se confunde com a morte. Jardel chorou contido, pediu para Lídia não o abandonar, que tinham uma filha para criar; precisava dela. Como ela não respondia, revoltou-se contra Deus, blasfemou e depois chorou mais um pouco, abraçado ao corpo inerte da mulher amada.

          Ficou assim por algum tempo, até quando os familiares chegaram. Seu irmão tomou as atitudes práticas sobre o velório e o enterro; ele estava sem cabeça, disse ao se justificar. Jardel sentia-se perdido, em estado de choque. Mal conseguia coordenar seus pensamentos; havia um turbilhão de sentimentos dentro de seu coração e, todos em atritos.

            Seu irmão tratou de tirá-lo dali e o conduziu à sua casa, deveria tomar banho e se alimentar, porque a seguir viriam horas difíceis para todos, mas principalmente para o viúvo.
- Viúvo! Que palavra horrível, exclamou Jardel.

          - Sim, agora você está sozinho e com uma criança para cuidar, concluiu seu irmão.

               O rapaz sentou-se, parecia ter sido chacoalhado até juntar as emoções e cair na realidade. Foi então, que um nó se formou em sua garganta e o choro saiu fácil; em soluços de dor e lágrimas, há muito contidas. Lembrou-se de Lídia estirada na cama, estava pálida e fria, parecia um corpo de cera. Uma amargura tomou conta de seu pensamento.

              – Que vida ingrata! Suspirou Jardel. Lhe dera um amor e o tirara tão rapidamente e de uma maneira tão triste, que seu coração gemia como um lamento. Havia um silêncio de dor em sua alma. Aquele dia ficaria gravado em sua vida como sendo o mais cinzento de todos já vividos.

           Ainda não tinham completado três anos de casados e já tinham vivido alegrias e tristezas. A alegria do casamento, a lua de mel, a notícia da gravidez e depois o nascimento da filha, eram lembranças que clareavam seu coração e o sorriso brotava em sua boca.

            No entanto, a notícia da doença de Lídia, a quimioterapia, radioterapia, a inutilidade do tratamento e a evolução rápida da doença o deixavam destruído e no chão. Não conseguia entender porque a sua mulher, que era tão jovem, partira deixando uma criança tão pequena, sozinha. E, ele também não queria ficar só e viúvo. Essa tarja imposta a ele, parecia tão pesada, que tinha vontade de sumir.

               Tomou café e comeu um pedaço de pão, que desceu raspando em sua garganta; havia uma aversão aos alimentos quando se lembrava da situação em que se encontrava. Teria que ficar ao lado do caixão e depois acompanhar o cortejo até o túmulo, era seu último adeus à Lídia.

               Jardel pensou em Larissa, queria que ela estivesse ao seu lado naquele momento. No entanto, foi a própria moça quem o alertou para o falatório que surgiria se ela ficasse ao seu lado.

           – Não vou ao velório, mesmo que puder, os parentes e amigos da defunta vão interpretar mal a nossa amizade. Afirmou Larissa, dando um longo abraço em Jardel.

O viúvo ficou olhando baixar o caixão e sua mãe lhe colocou uma flor nas mãos, dizendo para que jogasse sobre o caixão. Ele se virou surpreso.

 –Para que isso?  E, sua mãe respondeu.

 –É seu último adeus à Lídia.

Ele atirou a flor em meio a muitas outras e ficou parado olhando o coveiro atirar terra sobre o ataúde. Enquanto isso, o Sol se punha no horizonte enquanto as pessoas consternadas, iam se retirando do local. E, a paz com tons de tristeza tomava conta do ambiente, então, o coveiro bateu em seu ombro convidando-o a segui-lo.

- Vou fechar o cemitério, já é tarde.

Jardel acompanhou o homem e quando se aproximou do automóvel viu que havia uma pessoa esperando por ele. Era Larissa, que o acolheu de braços abertos e com as mãos foi afagando seus cabelos.

Um texto de Eva Ibrahim
MEU MUNDO REINVENTADO.

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