NO
SILÊNCIO DA DOR
CAPÍTULO
DOIS
Todos
saíram e deixaram o marido se despedir da esposa; era um momento único, onde a
vida se confunde com a morte. Jardel chorou contido, pediu para Lídia não o
abandonar, que tinham uma filha para criar; precisava dela. Como ela não
respondia, revoltou-se contra Deus, blasfemou e depois chorou mais um pouco, abraçado ao corpo
inerte da mulher amada.
Ficou assim por algum tempo,
até quando os familiares chegaram. Seu irmão tomou as atitudes práticas sobre o
velório e o enterro; ele estava sem cabeça, disse ao se justificar. Jardel
sentia-se perdido, em estado de choque. Mal conseguia coordenar seus pensamentos;
havia um turbilhão de sentimentos dentro de seu coração e, todos em atritos.
Seu irmão tratou de tirá-lo dali e
o conduziu à sua casa, deveria tomar banho e se alimentar, porque a seguir
viriam horas difíceis para todos, mas principalmente para o viúvo.
-
Viúvo! Que palavra horrível, exclamou Jardel.
- Sim, agora você está sozinho e com
uma criança para cuidar, concluiu seu irmão.
O rapaz sentou-se, parecia ter
sido chacoalhado até juntar as emoções e cair na realidade. Foi então, que um
nó se formou em sua garganta e o choro saiu fácil; em soluços de dor e lágrimas,
há muito contidas. Lembrou-se de Lídia estirada na cama, estava pálida e fria,
parecia um corpo de cera. Uma amargura tomou conta de seu pensamento.
– Que vida ingrata! Suspirou
Jardel. Lhe dera um amor e o tirara tão rapidamente e de uma maneira tão
triste, que seu coração gemia como um lamento. Havia um silêncio de dor em sua
alma. Aquele dia ficaria gravado em sua vida como sendo o mais cinzento de
todos já vividos.
Ainda não tinham completado três
anos de casados e já tinham vivido alegrias e tristezas. A alegria do
casamento, a lua de mel, a notícia da gravidez e depois o nascimento da filha,
eram lembranças que clareavam seu coração e o sorriso brotava em sua boca.
No entanto, a notícia da doença de Lídia, a
quimioterapia, radioterapia, a inutilidade do tratamento e a evolução rápida da
doença o deixavam destruído e no chão. Não conseguia entender porque a sua mulher,
que era tão jovem, partira deixando uma criança tão pequena, sozinha. E, ele
também não queria ficar só e viúvo. Essa tarja imposta a ele, parecia tão
pesada, que tinha vontade de sumir.
Tomou café e comeu um pedaço de
pão, que desceu raspando em sua garganta; havia uma aversão aos alimentos
quando se lembrava da situação em que se encontrava. Teria que ficar ao lado do
caixão e depois acompanhar o cortejo até o túmulo, era seu último adeus à
Lídia.
Jardel pensou em Larissa, queria
que ela estivesse ao seu lado naquele momento. No entanto, foi a própria moça
quem o alertou para o falatório que surgiria se ela ficasse ao seu lado.
– Não vou ao velório, mesmo que
puder, os parentes e amigos da defunta vão interpretar mal a nossa amizade. Afirmou
Larissa, dando um longo abraço em Jardel.
O
viúvo ficou olhando baixar o caixão e sua mãe lhe colocou uma flor nas mãos,
dizendo para que jogasse sobre o caixão. Ele se virou surpreso.
–Para que isso? E, sua mãe respondeu.
–É seu último adeus à Lídia.
Ele
atirou a flor em meio a muitas outras e ficou parado olhando o coveiro atirar
terra sobre o ataúde. Enquanto isso, o Sol se punha no horizonte enquanto as pessoas
consternadas, iam se retirando do local. E, a paz com tons de tristeza tomava
conta do ambiente, então, o coveiro bateu em seu ombro convidando-o a segui-lo.
-
Vou fechar o cemitério, já é tarde.
Jardel
acompanhou o homem e quando se aproximou do automóvel viu que havia uma pessoa
esperando por ele. Era Larissa, que o acolheu de braços abertos e com as mãos
foi afagando seus cabelos.
Um
texto de Eva Ibrahim