LUAR
DE PRATA
CAPÍTULO
DOIS
Era segunda-feira e Cecília havia dito que a viagem seria mais tranquila, se ocorresse no início da
semana, Rodolfo concordara prontamente. Assim ficariam uma semana inteira em Parintins, essa ideia o deixava eufórico. A
moça alegou que nas quartas e quintas-feiras os barcos estariam lotados, em
consequência das festas folclóricas no arquipélago das ilhas Tupinambaranas, ou
seja, em sua capital Parintins. Essas ilhas ficam na divisa do estado do
Amazonas com o estado do Pará, no norte do Brasil.
Cecília, Rodolfo e Lorena se
instalaram nas cabines e depois desceram para almoçar. Havia muito peixe para
degustar, assado, frito, ensopado, pirão de peixe, arroz, legumes, saladas e de
sobremesa açaí com frutas da terra. Lá tinha também um grupo de músicos, que
tocavam músicas sertanejas, forró e frevo, alegrando o ambiente. A maioria
armou suas redes e foram descansar após o almoço, fazer a sesta era um costume
comum no norte do país. O calor muito forte, deixa as pessoas sonolentas após o
almoço.
Com os três amigos não foi
diferente, foram para as cabines descansar. Adormeceram e foram acordados com
trovões, relâmpagos e muito vento. Já estava escurecendo e o barco balançava
muito, então, fecharam as janelas, que estavam abertas. Assustados, ficaram
juntos aguardando o temporal passar, estavam com medo, parecia que o mundo iria
acabar.
Foi um vendaval com muita água, que
entrava pelos vidros, que não fechavam adequadamente. Amontoaram as bagagens
sobre os beliches, para que não fossem molhadas. O vendaval durou uma hora mais
ou menos, depois foi se acalmando, então eles puderam descer para o segundo
piso e do convés avistar uma paisagem fantástica.
A lua cheia brilhava nas
águas do rio Amazonas, que mais parecia um mar de prata, majestoso e
indescritível. Muitos passageiros ficaram ali desfrutando da beleza da paisagem, que
se desenhava como uma pintura. Havia pessoas de vários lugares e do estrangeiro
também, além dos nativos que cuidavam da organização e da ordem no barco. A
noite quente e a brisa fresca, que a chuva deixou, era um convite a ficar no
convés e aproveitar a magia do local.
Já passava das nove horas da noite
quando apareceu um rapaz jovem e bonito, vestia-se com traje a passeio, isto é:
calça social, camisa de manga longa, sapatos fechados e um pequeno chapéu na
cabeça. Uma figura esquisita para o local, não combinava com as pessoas e nem
com o ambiente. Todos olharam para ele com curiosidade, era no mínimo estranho.
Celina olhou para Lorena, que
piscou o olho esquerdo e fez sinal com a cabeça. Rodolfo não entendeu nada e
perguntou:
- Vocês conhecem aquele rapaz?
- Não, mas parece ser o homem da
lenda do Boto cor de rosa, explicou Lorena.
– O Boto cor de rosa é um
golfinho e a noite ele se transforma em um rapaz, para conquistar as moças
bonitas. Celina completou.
- Como? Um peixe que se
transforma em gente? Perguntou o rapaz, estava perplexo pela afirmação das
moças.
- Sim Amigo, temos muitas
lendas que envolvem o rio Amazonas, a floresta e seus habitantes. Os indígenas
tem sua própria cultura e crenças que envolvem divindades e espíritos do bem e
do mal, que acabam por criarem histórias incríveis. Estas se tornam contos
locais, que difundidos boca a boca crescem e se transformam em lendas
fantasiosas. Os ribeirinhos, os caboclos e os pescadores também contribuem para
alimentar e difundir fatos e acontecimentos, que ocorrem nas entranhas do rio e
da floresta.
- Nunca saberemos o que realmente
existe de verdade em cada conto fantasioso, no contexto mágico do rio Amazonas.
Hoje vamos falar da lenda que envolve o nome “Amazonas” e num outro momento falaremos sobre o Boto cor de rosa.
- Essa lenda era conhecida na
Grécia antiga, que contavam sobre mulheres a cavalo, munidas de arco e flecha,
seminuas, guerreiras destemidas, que se recusavam a viver com homens. Essas
mulheres eram conhecidas como “amazonas” e temidas pelos soldados, que ao ouvir
seus nomes queriam fugir.
- Conta a lenda, que logo após a
descoberta do Brasil, uma esquadra espanhola adentrou o continente sul americano e ao
atravessar o misterioso rio entre densas florestas, avistaram mulheres
semelhantes as terríveis amazonas da Grécia antiga. Segundo relatos indígenas,
a luta entre as mulheres e os espanhóis foi feroz e terminou vencida por elas.
Ao ouvirem as narrativas dos indígenas, os espanhóis cientes da existência das
amazonas descritas anteriormente, confundiram ambas e batizaram o rio com o
nome de Amazonas.
- Posteriormente, também a floresta
e o estado do norte brasileiro foram batizados com o mesmo nome. Assim,
amazonas são mulheres que cavalgavam seminuas, empunhando apenas arco e flecha,
um belo nome para um estado majestoso e misterioso.
Celina terminou de falar e bocejou,
estava com sono, então, os três foram dormir o resto da noite, mas antes viram
o indivíduo de chapéu beijando uma menina indígena. As duas moças se
entreolharam espantadas, Rodolfo ficou atento.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa
Com consultas a Wikipédia e a InfoEscola.