ME DÊ A MÃO
CAPÍTULO
DOIS
O médico foi chamado pela enfermeira, que ficou assustada com os gritos
de Fernando. O neurologista entrou rapidamente, estava alarmado pela gritaria
do paciente. Logo chamou outro médico e, juntos decidiram fazer novos exames;
outra tomografia. Parecia que o quadro se agravara, Fernando estava com os
olhos estalados de dor e apresentando náuseas contínuas. Precisou ser sedado e
depois foi levado ao tomógrafo.
Marília ficou assustada e quando
levaram seu marido, ela começou a chorar. Todos saíram e ela ficou sentada na
poltrona com as mãos cobrindo seu rosto. Parecia que o mundo desabara sobre
ela, temia nunca mais ver o marido vivo; estava desesperada. No entanto, apareceu
uma enfermeira com um copo de água para ela se acalmar. A mulher, que
aparentava meia idade e muita experiência, foi incisiva quando disse:
- O paciente está em mãos
competentes, mas vamos pedir a Deus que olhe por ele. Em seguida, deu a mão
para que Marília se levantasse e a seguisse.
As duas mulheres caminharam em direção à capela do hospital,
depois a enfermeira despediu-se, dizendo que estaria no posto de enfermagem, se
precisasse de alguma coisa.
Um
pouco mais calma, Marília ficou um longo tempo sentada na pequena igreja.
Muitos pensamentos de medo, preocupação e pesar pela situação que o seu amor se
encontrava, povoavam sua mente. Somente agora, ela podia perceber como o marido
era importante para ela, antes nem se importava com o que ele pensava. Fernando
tinha muita saúde e vivia brincando, parecia que era imortal, por isso ninguém
se preocupava com ele.
Ficou
repetindo as orações que conhecia, como se fossem mantras. Depois de um tempo
naquele ambiente tranquilo, ela recobrou as forças e foi procurar por Eloisa, a
enfermeira que a ajudou. Então, a mulher lhe disse que seu marido estava na sala
de cirurgia.
Fora
constatada uma pressão intracraniana decorrente do trauma sofrido e teriam que
fazer uma intervenção cirúrgica, para diminuir a pressão. Era uma situação de
emergência e provavelmente o paciente voltaria para a Unidade de Terapia
Intensiva, onde as visitas eram restritas.
Marília
ficou desolada, pensava que seu marido teria alta em poucos dias, mas agora a
situação se agravara. Voltaram os medos, os problemas e as incertezas. Eloisa a
acompanhou até a lanchonete, para que Marília tomasse um café e comesse alguma
coisa.
Precisava
estar forte para acompanhar a recuperação do marido. O café quente desceu pela
garganta, aquecendo seu corpo, mas não conseguiria comer nada, parecia que
tinha um nó na garganta. Não conseguia falar e muito menos comer; mantinha os
olhos cheios de lágrimas incontidas.
Depois de duas horas, o médico foi dar notícias
para acalmar a esposa do paciente. Chegou sério e compenetrado, o que deixou a
mulher mais apreensiva.
-
A situação se agravou, as vezes acontece. No quinto dia aumenta a pressão
intracraniana pós trauma e temos que tomar decisões drásticas para salvar o
paciente. Fizemos tudo o que foi possível, agora devemos aguardar que ele
melhore. Para isso ele deve permanecer sedado e monitorado o tempo todo. Ficará
na UTI. Depois saiu com passos firmes, estava com o dever cumprido.
Os
olhos de Marília se encheram de lágrimas e cresceu um nó em sua garganta, não
conseguiu dizer nada. A enfermeira se aproximou da mulher e estendendo as mãos
foi logo dizendo:
-
Me dê a mão, nada está perdido, ainda temos esperanças. Em seguida, abraçou a
esposa do paciente, que ficou soluçando em seu ombro. Marília não sabia o que
fazer, estava sem rumo.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa