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domingo, 5 de maio de 2013

"VOLTA TEU ROSTO NA DIREÇÃO DO SOL E, ENTÃO, AS SOMBRAS FICARÃO PARA TRÁS". SABEDORIA ORIENTAL. --- ENQUANTO HOUVER SONHOS, HAVERÁ POSSIBILIDADES--- EVA IBRAHIM


                                       PELA ESTRADA AFORA.
O automóvel parou no estacionamento do Supermercado e sua motorista tirou o cinto para descer do veículo. Tânia, a mãe de Isabela, a noiva do sábado seguinte, queria comprar flores e uma caixa de bombom para presentear sua irmã; desejava muito que ela comparecesse ao casamento de sua filha. Erica era a mais frágil das irmãs e a mais carente. Tânia preocupava-se com ela porque era depressiva e estava completando cinquenta anos; temia um agravamento do quadro. Toda mulher quando faz cinquenta anos fica arrasada, pois é um marco na vida de cada uma; pensava a mulher. Seguiria direto para a casa de Érica, teria que convencê-la pessoalmente ou sua irmã não iria ao casamento de sua filha.
Olhando pelo retrovisor do automóvel, Tânia percebeu dois homens se aproximando em atitude suspeita. Um jovem de cor parda e um menor de idade de cabelos louros. Ela tentou fechar o automóvel, mas, uma grande mão segurou o vidro e a outra mão empunhava um revolver horrível. Enquanto ela olhava paralisada, o menor de idade sentou-se no banco do carona, ao seu lado. O mulato entrou pela porta detrás e sentou-se com a arma encostada em sua cabeça. Quando ela estava dominada o bandido mandou que tocasse o carro.
 –Vamos dar um passeio tia, fique quieta e colabore, que nada de mal acontecerá, morou?  – Tá ligada velha?
A mulher tinha sessenta anos e nunca passara por uma situação parecida, estava apavorada. Pensou em seus filhos e depois elevou o pensamento a Deus, pois somente ele poderia tirá-la daquela situação triste. Ela sempre dirigiu muito bem, mas, sobre pressão sentia-se incapaz. Quando ela diminuía a velocidade, o bandido que estava no banco detrás cutucava seu pescoço com o revolver e perguntava se ela não tinha medo da morte. Tânia tremia e não conseguia dizer nada, estava paralisada; parecia um piloto automático dirigindo. Pensava em Isabela, que estava com tudo preparado para o casamento.
 –Se a mãe morresse a filha não poderia ficar feliz no dia mais importante de sua vida. Pensava a mulher entristecida.
Os bandidos diziam querer grana e procuravam um caixa eletrônico, em lugar tranquilo, para sacar dinheiro. Eles queriam muito dinheiro; o que deixava Tânia mais nervosa; ela não tinha muito dinheiro, gastara com os preparativos do casamento de sua filha. O menor de idade pegou a bolsa que estava no chão e começou a tirar as coisas que lhe interessava. Pegou o celular e perguntou ao outro se poderia ficar com ele.
 -“Vira lata me deixa ficar com o celular”?
–Depois eu vejo isso, respondeu Vira-Lata, vamos ao que interessa Alemão, tem cartão de Banco ai?
 – Sim, alguns. Respondeu o Alemão.
Mandaram a mulher estacionar o automóvel em frente a um Banco e pediram a senha. Enquanto um entrava para pegar o dinheiro o outro ficava com a arma apontada para ela, obrigando-a a agir normalmente. Retiraram o dinheiro que o caixa permitiu e saíram pela estrada afora, não queriam abandoná-la, pois pretendiam sacar mais dinheiro com outro cartão. Tânia estava desesperada, porém, não via saída; temia pela própria vida.
Rodaram enquanto havia combustível no tanque do veículo, depois pararam em um Posto á beira da estrada para colocar gasolina e comprar cervejas. O Vira Lata entrou na loja de Conveniência e o Alemão ficou no carro olhando o movimento. A mulher tinha um papel do pedágio ao alcance da mão e uma caneta no bolsão da porta do carro. Queria escrever alguma coisa, mas, era muito perigoso, se pegassem estaria morta, com certeza. Começou a rezar baixinho, precisava de um milagre. O jovem se distraiu com um caminhão de circo que entrou no pátio do Posto e Tânia escreveu no papel.
 “-Sequestro, socorro”.
Colocou dentro da nota de cinquenta reais que deu para o rapaz da bomba. Com uma caixa de cervejas no automóvel mandaram a mulher seguir em frente. O frentista ficou paralisado com o papel na mão e assim que o carro saiu ele mostrou para o gerente do Posto. O homem pegou o papel e ligou para a polícia dando as características do automóvel; em seguida foi informado que o automóvel seria interceptado.
Tânia orava baixinho enquanto os dois bandidos bebiam uma cerveja atrás da outra; parecia que estavam com muita sede. Ás vezes ela diminuía a velocidade e eles encostavam o revolver em sua cabeça, mandando correr. O automóvel seguia estrada afora e nem seus ocupantes sabiam onde iria parar. A mulher de tão nervosa que estava não conseguia pensar em nada, só em Deus.
Os bandidos davam sinais de embriaguez e Tânia diminuía a velocidade, eles apontavam a arma e ela corria, até que viram luzes vermelhas de carros da policia a um km de distância. Em pânico, os dois bandidos mandaram a mulher dar meia volta no automóvel e retornar. Eles estavam bêbados e pareciam enlouquecidos. Gritando, eles ameaçavam a mulher o tempo todo; o Vira lata dizia que se morressem ela iria junto com eles. Não havia retorno e ela seguiu em frente a toda velocidade, até derrubar a sinalização da pista e jogar o automóvel no barranco, que derrapou e capotou parando no meio do asfalto. Os dois homens ficaram tão surpresos que não tiveram tempo de reagir.
Os bandidos estavam muito bêbados e mal conseguiam sair do automóvel quando foram algemados pela policia. O Vira lata tinha um ferimento profundo na perna direita e o Alemão um corte na cabeça, nada sério para dois bandidos daquele porte. A mulher tinha algumas escoriações no braço e um corte no queixo. Foi retirada do carro e colocada no automóvel da policia onde recebeu água e se deu conta da gravidade da situação.
Os policiais a cumprimentaram por sua coragem e por ter conseguido avisar, no Posto de combustível, de seu sequestro. Ela estava a mais de duzentos quilômetros de sua casa, rodara duas horas com os bandidos no automóvel. Os três foram levados ao Hospital de uma cidade próxima onde os familiares da mulher foram encontrá-la.
Não conseguiu visitar sua irmã no dia de seu aniversário, mas, lhe deu um grande abraço no dia seguinte. Estava viva e fora agraciada com um milagre, pois soube que o Vira lata era fugitivo da Penitenciária e um assassino frio. O Alemão era aprendiz de bandido; ambos foram para a prisão, de onde não devem sair tão cedo.
Quando Antonio, o marido de Tânia, soube da ocorrência pensou imediatamente em um sonho que tivera alguns dias antes; ficara impressionado. Ele previra o acidente de sua mulher. 
Não pensaria mais naquilo, afinal Tânia estava bem, apesar do susto.
Aquele episódio deixou o homem apreensivo, mas não disse nada à Isabela, temia estragar o casamento. Fez uma oração e entregou a Deus; todos estavam vulneráveis. Um texto de Eva Ibrahim.

sábado, 27 de abril de 2013

"ALGUMAS PESSOAS SORRIEM COM OS OLHOS E ISSO ME ENCANTA". AUTOR DESCONHECIDO.-- FIDELIDADE NÃO É UMA QUESTÃO DE ESCOLHA, MAS DE CARÁTER. EVA IBRAHIM


                                                ALQUIMIA
A minhoca pulava na frigideira e Elena pensava na monstruosidade que estava fazendo. De repente a minhoca caiu fora da frigideira, em uma última tentativa de sobrevivência.
A vida do sítio na pequena cidade de Coqueiral sempre foi tranquila para o casal de lavradores e seus filhos. Roberto e os três filhos maiores cuidavam da roça. Havia plantação de legumes e verduras, que eram vendidas nas Centrais Estaduais de Abastecimento (CEASA) da capital. Elena cuidava dos afazeres da casa, das duas filhas menores e acalentava um sonho bem no fundo do coração. Queria mudar, com sua família, para a cidade e estudar os filhos; principalmente as meninas. Desejava que eles tivessem novas oportunidades na vida, o que certamente não seria possível na roça. Algumas vezes tentou conversar com seu marido, mas ele argumentava que não saberia o que fazer na cidade.
As meninas já estavam crescidas quando surgiu uma oportunidade de vender aquela propriedade e realizar o sonho de Elena. Roberto ficou animado, trocaria o sítio por uma casa de ferragens, compraria um automóvel novo e ainda teria um pouco de dinheiro para iniciar a nova vida. Em três meses a vida da família mudara radicalmente. Os filhos maiores foram estudar à noite e durante o dia ajudavam o pai na loja. Elena cuidava da casa e as meninas iam à Escola. O casal mantinha alguns animais no terreno ao lado da casa, inclusive um cavalo.
Depois de alguns meses, Roberto já não ficava em casa após o trabalho; tinha novos amigos e vivia nos bares. Sua esposa, em uma conversa séria, perguntou ao marido o que havia de errado, ele não parava mais em casa; mas ele saiu de fininho.
 – Foi ela quem quis mudar com a família para a cidade e agora ele tinha novos conhecimentos e queria viver a vida. Disse o homem empolgado.
Elena ficou muito preocupada, teria que vigiar o marido, pois seu comportamento mudara da noite para o dia. Quando a loja ficava fechada ele saia a cavalo com os amigos e chegava tarde à sua casa. Do homem amoroso e prestativo do tempo em que viviam na roça, restou muito pouco, agora era um homem da noite, vivia nas baladas. A mulher, em sua simplicidade, foi assuntar com a vizinha e perguntou o que queria dizer “balada”. Depois da explicação a mulher ficou mais assustada.
– Estaria sendo traída, será que o seu Roberto arrumara outra mulher?
Elena não tinha mais sossego, não dormia enquanto o marido não entrava em casa. Roberto sempre chegava cheirando a álcool e a perfume barato; caia na cama e nem olhava para sua esposa. A mulher, nervosa, ia se aconselhar com a vizinha. Um dia, a vizinha,  convidou Elena para irem á casa de uma benzedeira, dizendo que a mulher resolvia qualquer problema do coração.
Elena era temente a Deus e não gostava dessas coisas, iria pensar, depois resolvia. No dia seguinte, era domingo e Roberto ainda dormia quando bateram palmas em frente a sua casa e a mulher foi atender. Lá estava um homem montado a cavalo, vestia uma capa preta e era mal encarado. Um dos novos amigos de seu marido, que o estavam levando para a farra. Ela perguntou o que ele queria e a resposta a deixou irada.
 – Vim buscar o Roberto para irmos passear, conforme o combinado.
A mulher perguntou se ele não tinha vergonha de chamar um pai de família para ir atrás de coisas erradas, tais como, mulheres. Sorrindo o homem que se chamava Dito Santo, que de santo não tinha nada, respondeu:
 - Minha senhora, o que posso fazer se seu marido tem o dom de conquistar as mulheres?
 Empinou o cavalo e descaradamente aguardou o Roberto sair para acompanhá-lo. Elena ficou chorando, não poderia aguentar mais aquilo e foi pedir ajuda à vizinha, iria com ela até a casa da vidente. Após o almoço as duas mulheres foram procurar a benzedeira, que por uma quantia em dinheiro daria a receita de uma “Alquimia” para acalmar o marido de Elena. Depois do trato feito, a mulher garantiu sucesso absoluto se ela seguisse as regras.
Teria que encontrar uma minhoca em solo fértil e em seguida torrá-la em uma frigideira até virar um pó. Sentindo muita pena da minhoca, mas por motivo justo, segundo ela, capturou o ingrediente principal da "Alquimia".
A mulher tratou de pegar a minhoca que havia caído no fogão e a jogou de volta para a frigideira, a minhoca morreu. Enquanto o invertebrado virava pó ela sentia-se culpada por matar aquela criatura, mas iria em frente. Agora a receita dizia que teria que fazer um café e incorporar os restos mortais da minhoca no café e servir ao marido. Quando Elena terminou de preparar aquela Alquimia louca, o Roberto chegou todo alegre e sorridente; parecia feliz. A mulher colocou a garrafa térmica de café sobre a mesa e ele tratou de tomar logo uma xícara cheia. Ela sorriu baixinho, era hora da vingança.
O homem parecia ter gostado do café, depois da terceira xícara ele perguntou se Elena havia trocado o pó de café, pois estava muito bom. Ela respondeu que era o de sempre, mas fizera com amor, por isso estava gostoso. Tratou de agradar ao marido, sentia-se segura, ficaria com ele para sempre.
No dia seguinte seu marido parecia o mesmo, agia naturalmente, não mudara em nada. Elena ficou pensativa, teria que aguardar a Alquimia fazer efeito, talvez levasse algum tempo.
Os dias foram passando e seu marido saia de casa todos os dias, nada mudou; então ela percebeu que caiu no conto da vigarista. A minhoca morreu de uma forma triste e o sem vergonha do seu marido continuava o mesmo. A “Alquimia” não dera certo, teria que recorrer a Deus, pois, não havia minhoca que desse jeito no Roberto. Um texto de Eva Ibrahim.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

"O FANTÁSTICO DA VIDA É ESTAR COM ALGUÉM QUE SABE FAZER DE UM PEQUENO INSTANTE, UM GRANDE MOMENTO"---AUTOR DESCONHECIDO---TIRE OS OLHOS DAS DIFICULDADES E ENFRENTE A REALIDADE---EVA IBRAHIM


                                          E, FOI ASSIM.
O automóvel adentrou ao pátio do Hospital e Maternidade buzinando freneticamente; as pessoas ali presentes deram passagem. Certamente deveria estar ocorrendo uma emergência, tal a velocidade com que o veículo chegou e estacionou em frente à porta de entrada. O homem abriu a porta, saiu correndo e dizendo que havia um bebê nascendo. Dois enfermeiros apareceram com uma maca para levar a paciente para o Centro Obstétrico. Os curiosos se posicionaram para ver a ocorrência e poder comentar o fato.
A mulher foi retirada do automóvel e, gemendo muito, foi colocada sobre a maca, que se tingiu de vermelho pelo sangue que escorria do seu vestido. Carlos, o marido, parecia uma barata tonta, andava de um lado para outro sem parar. O guarda do Pronto Socorro pediu que se acalmasse e retirasse o veículo dali. 
O homem ficara desesperado quando a mulher disse que a bolsa de águas havia se rompido. Mal conseguira colocar as roupas, que deveria levar ao Hospital, no automóvel, pois, estava com muita pressa. Carlos precisava correr para não perder mais um bebê; disso ele tinha certeza. O primeiro filho do casal nasceu prematuro e não sobreviveu.
Sua esposa estava fazendo repouso desde que foi constatado que sua placenta era baixa e poderia ter um parto de urgência. Estava explicado o desespero de Carlos, que era filho único e tinha loucura por ter muitas crianças em casa. 
Eloisa entrara em depressão quando perdeu o primeiro filho; ambos sofreram muito. Agora era a hora de realizar o sonho de ter um bebê em casa; um filho muito amado e desejado. Uma menina com nome forte, escolhido pelo pai, Valentina Duarte Fonseca como a avó paterna.
Ele tirou o automóvel da entrada e estacionou no pátio, longe da porta de emergência. Quando voltou foi tomar um copo de água e preencher a ficha da mulher. Parecia estar em transe, agia automaticamente com o olhar perdido em algum ponto indefinido. 
Procurava por Eloisa, que parecia ter sumido por aqueles corredores imensos e assustadores. Foi orientado pelo segurança do local a aguardar notícias da esposa na saleta de espera do Centro Obstétrico, no quinto andar. Um estranho silêncio reinava no local, o que deixava o homem mais inquieto, queria saber o que estava acontecendo lá dentro; estava com medo.
Depois de um longo tempo, uns quarenta minutos, que pareciam uma eternidade, apareceu uma enfermeira dizendo que Eloisa estava na sala de parto. Eufórico, o futuro papai, pediu para assistir o parto e lhe foi dado um gorro e um avental para entrar na área restrita, onde aconteceria o nascimento do bebê.
A enfermeira retornou e ele ficou sozinho com o avental e o gorro nas mãos. Não sabia o que fazer com aquilo ou como colocar aquela estranha roupa. Então, tirou a roupa que estava usando, pois achou que não poderia entrar naquele recinto com uma roupa qualquer. Rapidamente, Carlos colocou o avental aberto nas costas, o gorro enfiado na cabeça e, em seguida adentrou á Sala de Parto..
A equipe toda aguardava a chegada do bebê que já podia ser visualizado. A técnica de enfermagem que iria recepcionar o recém-nascido olhou assustada quando o homem passou por ela. Carlos tinha o traseiro nu, sapatos com meias e o gorro na cabeça. O homem estava sem a roupa de baixo, apenas com o avental aberto atrás; a equipe toda franziu as sobrancelhas. Naquele momento solene do nascimento de uma criança todos se entreolharam e riram disfarçadamente. A atenção da equipe médica fora desviada para a situação cômica de ter um acompanhante somente com um avental transparente dentro da sala de parto.
O anestesista, que era quem estava com as mãos desocupadas, pegou uma tira de esparadrapo e fechou a traseira do avental do homem. Em seguida deu um banco de inox para ele sentar-se e todos riram, pois deveria estar gelado; a sala tinha ar condicionado. Carlos estava tão nervoso que nem percebeu a situação que fora criada por ele; além de hilária era inusitada. Um acompanhante quase pelado na sala de parto!
A criança nasceu bem e Carlos acompanhou tudo só de avental. Quando Eloisa foi para a sala de recuperação o homem foi orientado a colocar suas roupas, que nunca deveria ter tirado. 
No dia seguinte ele voltou para desculpar-se com a equipe médica pelo constrangimento, mas, disse que não perderia o nascimento da filha por nada, nem que tivesse que ficar totalmente despido; a ansiedade o impedira de raciocinar. Feliz e com um sorriso no rosto foi visitar as duas mulheres de sua vida, Eloisa e Valentina. Um texto de Eva Ibrahim.

domingo, 14 de abril de 2013

"QUERO A DELÍCIA DE PODER SENTIR AS COISAS MAIS SIMPLES"---MANUEL BANDEIRA.--- SONHAR É VIAJAR COM O CORAÇÃO, PELAS ASAS DA IMAGINAÇÃO".---EVA IBRAHIM


                                         SONHAR É PRECISO.
            Enquanto Celina olhava o enorme e majestoso balão colorido sobre a relva, sentia-se hipnotizada, eram muitas lembranças que passavam por sua cabeça. Estava acompanhada do marido e dos filhos, mas, custava crer que iria voar em um balão de verdade. Era lindo, tinha um cesto enorme pousado ali no chão; incrível mesmo! Raul lhe fizera uma surpresa e ela ficara muda. Era um sonho de criança voar lentamente ao sabor do vento e planar no ar como os pássaros.
           Hoje em dia é um passeio turístico programado e seguro. O grupo era composto de 16 pessoas, que iriam voar a bordo do balão naquela manhã; o baloeiro, dois tripulantes e treze passageiros, Chegaram bem cedo, ás cinco horas da madrugada do domingo; ainda estava escuro, mas o Sol não tardaria a aparecer. Enquanto aguardavam os preparativos finais para a subida no cesto da aeronave, Celina, sentada em um toco de árvore, buscava as mais remotas lembranças; anos felizes que passara em Barbacena.
          Celina, duas irmãs, um irmão e dois primos, passavam férias em um casarão antigo no centro da cidade de Barbacena, casa dos avós maternos das crianças. Na construção havia um lindo jardim distribuído harmoniosamente em frente á casa; flores variadas de muitos tipos embelezando a moradia antiga. Separado por cerca viva havia um grande quintal com árvores frutíferas. Uma enorme árvore se sobressaia entre as demais, era uma mangueira, que dava muitos frutos saborosos e sem fio. As crianças a chamavam de rainha do quintal, pois comiam as mangas todos os dias. Seus galhos frondosos serviam de cadeira e um deles de suporte para a balança que comandava as brincadeiras.
         O tio Roque, que era solteiro e ainda morava com os pais, colocara uma tábua bem no alto para as crianças sentarem e amarras de corda para segurar e não correr o risco de caírem. Daquele local podiam ver a cidade e a Igreja da “Boa Morte” que ficava bem ao alcance dos olhos. Na verdade era uma mangueira que dava frutos doces como o mel das abelhas e onde as cinco crianças davam asas à sua fértil imaginação.
         Celina e o primo Jairo eram os maiores e mais sonhadores; imaginavam reis, rainhas, fadas, super-heróis e viagens mirabolantes. O tio, muitas vezes, contava histórias fantasiosas dos livros do escritor francês Júlio Verne. Uma delas era: “Cinco semanas em um balão” e outras tantas histórias famosas. As cinco crianças ouviam atentas e depois imaginavam viagens no “Zepelin” e balões encantados. Ficavam de olhos fechados e mãos dadas para gerar energia; fora o tio quem lhes falara sobre a energia das mãos. Passavam horas sentadas sobre a tábua da árvore, embaladas pelo farfalhar das folhas ao sabor do vento. Quando a fome aparecia era só esticar o braço e se fartar com a fruta suculenta. Para descer, o tio fizera uma escada de corda; era fantástico!
         Uma rotina de todos os dias, durante as férias escolares. Eles ficavam brincando no quintal pela manhã e a tarde no alto da mangueira. Imaginavam que eram vigias e olheiros avançados para detectar a aproximação dos piratas. A mangueira era o ponto mais próximo do mar, um posto indispensável para a segurança da população. Lá podiam ver a vizinhança e sentir o vento no rosto. Quando batia o sino da Igreja da Boa Morte anunciando a hora da Ave Maria eles desciam da árvore e seguiam para casa, era hora de entrar, ordens da velha avó.
         Quando o Mané, vizinho da chácara, faleceu, o tio levou as crianças ao velório e fez cada um deles beijar os pés do defunto, dizia que era para não ficar com medo do morto. Foi o maior sacrifício já imposto a eles. Não adiantou nada, pois eles tremiam ao pensar na morte. Um dia Celina propôs aos irmãos e primos irem até a Igreja tirar essa história de morte a limpo. O padre Bento, já bem velhinho, foi atender as crianças.
         –O que queriam saber? Perguntou o velho pároco. O primo Jairo gaguejou, mas Celina o socorreu dizendo:
        - Como sua Igreja pode ser chamada de “Boa Morte”, a morte deve ser muito ruim!             
        Padre Bento com muita paciência explicou às crianças que a morte faz parte da vida e se alguém morre na graça de Deus teve uma boa morte. Não ficaram satisfeitos, mas, aceitaram à explicação e deixaram aquela história de lado. Nunca mais queriam ver defuntos e muito menos beijar-lhes os pés.
         -Que nojo!
 Disse Jairo e todos concordaram.
         Aos domingos iam à missa e depois ficavam brincando de subir e descer às escadas da Igreja. À tarde eles sentavam-se no jardim da praça e ficavam imaginando as viagens mais fantásticas do mundo. O tio Roque apanhava o livro de Júlio Verne “Volta ao mundo em oitenta dias” e incentivava a imaginação das crianças. Na verdade eles adoravam aquele tio desocupado que tinha muitos livros de aventuras; ele já estava aposentado, foi professor no ginásio da cidade.
         O balão estava pronto e seus dirigentes aguardando os passageiros. Celina voltou à realidade seguindo até o balão com os filhos e o marido para realizar aquele sonho de criança. Uma nostalgia se instalou em seu semblante, queria os irmãos e primos naquele balão. As pessoas foram se ajeitando dentro do cesto, uma criança começou a chorar, mas logo se acalmou e a aeronave iniciou a subida lentamente. Todos olhavam ao redor e uma luz forte surgia no horizonte; era o amanhecer no campo. A paz reinava no local e as pessoas embevecidas procuravam uma melhor posição para ver e filmar aquela aventura única.
         O balão sobe com o ar quente do gás propano, que alimenta o fogo do maçarico. Quando acionado faz um barulho característico e forte quebrando o silêncio do passeio. A aeronave voa ao sabor do vento, que deve ser propício, senão a aventura pode se tornar perigosa. Há ausência total da sensação de movimentos, somente a percepção do chão se afastando. Voo raso sobre as copas das árvores e depois sob lentamente a centenas de metros do chão, deixando os passageiros extáticos diante da uma visão panorâmica indescritível. Um voo tranquilo levado pelo vento, onde se pode avistar a sombra do balão, lá embaixo. Os cães latem alvoroçados, as galinhas correm assustadas, pois devem pensar que pode ser um gavião gigante. O gado fica agitado correndo de um lado para o outro enquanto as pessoas acenam dando adeus aos passageiros do balão.
         A vista é maravilhosa e o passeio inesquecível, dura cerca de uma hora no ar cobrindo uma distância de cerca de trinta quilômetros. No final do percurso o baloeiro procura um espaço seguro para descer. Em terra há o apoio da equipe que se comunica através do rádio; é um verdadeiro rali seguir o balão. São estradas de terra esburacadas através dos campos. É permitido que carros particulares de parentes que estão no balão, também sigam a nave.
Escolhido o local do pouso começa a descida lentamente e lá embaixo o grupo de apoio fica esperando o pouso do balão. Quando descem ocorre a festa de comemoração, onde é servido champanhe á todos os participantes e guaraná às crianças.
         Leva meia hora para recolher e dobrar todo o balão, depois a “Van” conduz os passageiros ao Hotel para um delicioso café da manhã. O passeio deixou Celina extasiada e muito grata a seu marido por ter permitido que acontecesse a realização de um sonho de criança. Estava muito feliz e queria contar aos primos o seu passeio deslumbrante. Teria que voltar à Barbacena, aquela cidade era o berço de seus sonhos e rever o tio Roque, agora já bem velhinho, para lhe contar do passeio. O tio Roque ficaria muito feliz.... Um texto de Eva Ibrahim.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

"QUE SEJA LIVRE O QUE CHEGAR. QUE SEJA DOCE O QUE FICAR. E QUE SEJA BREVE O QUE TIVER QUE IR". ---MOZART.---NÃO HÁ LUGAR PARA ONDE CORRER, QUANDO SE DESEJA FICAR... EVA IBRAHIM.


                                  O RATO FININHO.

A primavera chegou trazendo flores, colorindo os jardins e modificando as paisagens; com ela também chegou á temporada das águas. Durante o dia o sol era insuportável e a tarde aparecia um barrado negro no horizonte; em seguida, entre relâmpagos, trovões e ventania era despejada muita água em toda aquela região. Árvores e casas sucumbiam ao poder dos ventos, havia muita destruição deixada pelos temporais. As moradias que permaneciam íntegras tinham suas paredes e muros embolorados com uma camada de musgo verde, por causa da grande umidade.

No final de semana era feita a limpeza geral dos quintais e das casas; rotina das famílias daquela vila. Na casa de Zuleica não era diferente. Ela, o marido, a filha e o genro procuravam manter a casa limpa e protegida de insetos, porque ali moravam os dois filhos do casal e netos de Zuleica. Sérgio, o genro, ficou encarregado de limpar o quintal e o quarto de despejos, que ficava nos fundos da casa. Mexendo em uma caixa de papelão o rapaz viu uma família inteira de ratos. A ratazana mãe com quatro filhotes; quando tirou a caixa os ratos saíram em disparada. A mãe sumiu e os filhotes desapareceram como por encanto. O genro alertou a esposa e a sogra para ficar de olho, porque se algum deles entrasse em casa seria missão impossível encontrá-lo, pois eram ratos fininhos.

No meio da semana o filho de Sérgio, disse que viu um bicho correndo na cozinha. Ele e Arlete, sua esposa, procuraram em todos os lugares possíveis e não encontraram nada, pensaram que poderia ser uma barata e esqueceram o assunto.

 No sábado seguinte, Zuleica levantou-se cedo, fez café e sentou-se na cadeira para sorvê-lo. Ouviu um barulhinho e instintivamente olhou para cima e viu o indivíduo sobre o armário, era ele o rato “Fininho”. Ela o batizou assim porque o genro havia dito que eram fininhos e um deles estava ali. A mulher arrepiou e ficou enojada só de pensar por onde aquela criatura teria andado em sua cozinha. Chamou a filha e o genro e impôs um ultimato:
 - Fininho deveria ser morto o mais rápido possível.
Com o barulho o rato correu para o quarto do casal.

 Zuleica pegou a vassoura e ficou de prontidão, por ali ele não passava. A filha pegou outra vassoura e o Sérgio armou-se com um pedaço de pau. As crianças ficaram encolhidas em suas camas, no outro quarto, tinham medo de Fininho. A caçada começou; Sérgio puxou o guarda roupas e o rato estava lá no cantinho. O homem, com seus um metro e oitenta, nada tinha de ágil, por isso seria muito difícil ele apanhar o ratinho. Quando Fininho aparecia as duas mulheres gritavam com as vassouras nas mãos e o rato corria. O marido ficava bravo; a cena se repetiu por diversas vezes, até que o camundongo entrou embaixo da geladeira.

Mãe e filha ficaram cercando as portas para ele não sair. Quando o rapaz puxou a geladeira, as mulheres gritaram em coro, “dez a zero para o rato”. Enquanto ele corria para a sala, os três se entreolharam e uma pergunta ficou no ar:
-“Como iriam pegá-lo”?
 As duas mulheres estavam assustadas e tremendo de medo de Fininho, pois sempre ouviram falar que são portadores de doenças. Zuleica pensou no marido que estava trabalhando, ele fora criado no sítio e era “especialista” em exterminar camundongos. Arlete tratou de chamar o pai para salvá-las de tão grave ameaça. O pai de Arlete chegou rapidamente; ele iria acabar com o rato Fininho; todos concordaram. Foram á luta. As mulheres com as vassouras ficaram na passagem da porta para impedir que o camundongo saísse e os homens com paus para matá-lo. Fininho era rápido e esperto o que faltava ás pessoas ali presentes. Sérgio puxou a estante e o ratinho saiu correndo antes de tomar a paulada desferida pelo avô. Foi tão rápido que as mulheres mal viram quando ele ganhou a porta da rua.

Respiraram aliviados, pelo menos não sujaram o tapete com sangue de camundongo. Mas, assim mesmo lavaram toda a casa para eliminar qualquer vestígio daquela criatura tão repelente. Ainda assustadas, as crianças puderam sair da cama. Quanto ao camundongo deve estar correndo até agora.
-“Pudera!” O susto foi muito grande! Disse Zuleica sorrindo.
-Fininho escapou por um triz e deve ter ficado com trauma de vassouras, completou Arlete aliviada. Um texto de Eva Ibrahim.

terça-feira, 2 de abril de 2013

"A ARQUITETURA DA MINHA ALMA É BARROCA. SOU FRACO, SOU FORTE, SOU LUZ, SOU SOMBRA. SOU DE AÇO, SOU DE FLORES" ---AUTOR DESCONHECIDO----O VENTO QUE PASSOU POR AQUI ME ENSINOU A VOAR.---EVA IBRAHIM


                                       O HOMEM DAS CHUPETAS.

A menina estava sentada no degrau do portão que dava para a calçada da rua, esperando seu pai chegar. De repente, levantou-se correndo e foi chamar sua mãe. Agarrou-se à saia da mãe e chorando dizia que o homem das chupetas estava lá fora. Alice tratou de acalmar sua filha de cinco anos, que soluçava sem parar. Bruna, a menina, tinha muito medo do homem das chupetas. Quando ele surgia no início da rua, todas as crianças corriam para esconder-se.
Tudo começou quando apareceu na pequena cidade, um mendigo cheio de colares coloridos. Os antigos sempre assustaram as crianças com ameaças de serem levadas pelos homens dos sacos, mas, em Visconde de Borá era o homem das chupetas quem assustava as crianças.
 O mendigo, de alcunha Degão, trazia no pescoço, pendurados, diversos colares com chupetas de crianças, que eram amarradas com barbante. Quando ele andava com o saco de objetos pessoais nas costas, os colares balançavam e faziam um barulho estranho. Parecia um guizo de cobra coral, o que tornava o maltrapilho mais assustador.
 As mães aproveitavam a figura aterrorizante para fazer medo às crianças e contê-las dentro de casa. Naquele bairro pobre da periferia a maioria das pessoas vivia com dificuldades, por isso ninguém dava esmolas; Degão mal conseguia o que comer. Porém, ele sempre trazia chupetas novas penduradas no pescoço. O homem andava por ali já fazia algum tempo e uma pergunta passou a ser feita pela população local.
-Se o mendigo não trabalhava, como ele conseguia dinheiro para comprar chupetas?
 A verdade é que cada vez que ele aparecia trazia novos colares com mais chupetas. Eram tantas que pareciam colares para o baile Havaiano. Degão tornou-se o terror das crianças, que não saiam do portão para fora, desacompanhadas. Os pequenos, que chupavam chupetas, deixavam- nas escondidas embaixo do travesseiro e só a pegavam à noite, na hora de dormir.
Um dia o mendigo apareceu no bar e pediu um trago para uma turma de amigos, que tomavam cachaça antes do jantar, para abrir o apetite, diziam. Degão tomou a cachaça e saiu apressado, quando um dos amigos propôs segui-lo para ver aonde ele conseguia as chupetas. Zeca, o mecânico e Aldo, o pedreiro, resolveram segui-lo. O homem andava rápido pelas ruas escuras e descampadas. Os dois amigos se entreolharam temerosos, estavam indo para o cemitério.
Degão pulou o muro e entrou no cemitério, desaparecendo na escuridão. Os dois amigos resolveram voltar, pois, ficaram com medo de segui-lo.
No dia seguinte voltariam para assuntar com o coveiro se o mendigo dormia no cemitério. A curiosidade aumentou quando voltaram e contaram aos outros amigos para onde o homem tinha ido. Os cinco amigos fizeram uma aposta para descobrir de onde vinham as chupetas; quem ganhasse levava uma caixa de cervejas para casa.
Zeca e Aldo já planejavam um churrasco com a cerveja que iriam ganhar dos amigos. Na hora do almoço os dois homens foram ao cemitério e encontraram o coveiro descansando na sombra de algumas árvores das alamedas entre os túmulos. Enquanto os homens conversavam chegou um casal com uma criança e adentraram ao cemitério. Zeca perguntou ao coveiro aonde o casal iria e ouviram uma história surpreendente.
O coveiro explicou que havia um túmulo onde estava enterrado um menino que morreu depois de ser picado por uma cobra venenosa e sua mãe, muito triste, colocou a chupeta do menino dentro do caixão, pois era a coisa que ele mais gostava. Alguns anos se passaram e surgiram boatos de que o menino fazia milagres; havia sempre muitas flores em seu túmulo.
E a crendice popular dizia que se as crianças dessem a chupeta para ele, nunca mais voltariam a gostar de chupetas. As mulheres da região vinham com seus filhos e deixavam as chupetas ali. No dia seguinte as chupetas desapareciam e todos pensavam que o menino viera buscar, disse o coveiro com olhar assustado.
Os dois amigos desconfiaram de quem roubava as chupetas, mas combinaram com o coveiro para dar um flagrante no ladrão. À noite eles ficariam escondidos para ver quem entrava ali. Com lanternas e máquinas fotográficas eles esperaram o meliante.
O ladrão apareceu e sob as luzes das lanternas começou a chorar.
Degão soluçava e dizia que pegava as chupetas porque quando era criança seu pai não permitira que lhe dessem chupetas e agora ele dormia com uma delas na boca. Ele adorava chupetas.
 O coveiro e os dois amigos se entreolharam surpresos, o mendigo parecia ter um retardo mental; era digno de compaixão.
Os dois amigos fizeram um pacto com o coveiro para manter aquela história em segredo, afinal as chupetas não pertenciam a ninguém e Degão era um pobre homem. Era melhor deixar essa história de lado, milagres eram coisas de Deus e eles não queriam se comprometer. A cerveja ficaria para outra ocasião. Um texto de Eva Ibrahim.
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