PELA
ESTRADA AFORA.
O
automóvel parou no estacionamento do Supermercado e sua motorista tirou o cinto
para descer do veículo. Tânia, a mãe de Isabela, a noiva do sábado seguinte, queria comprar flores e uma
caixa de bombom para presentear sua irmã; desejava muito que ela comparecesse
ao casamento de sua filha. Erica era a mais frágil das irmãs e a mais
carente. Tânia preocupava-se com ela porque era depressiva e estava completando
cinquenta anos; temia um agravamento do quadro. Toda mulher quando faz
cinquenta anos fica arrasada, pois é um marco na vida de cada uma; pensava a
mulher. Seguiria direto para a casa de Érica, teria que convencê-la
pessoalmente ou sua irmã não iria ao casamento de sua filha.
Olhando
pelo retrovisor do automóvel, Tânia percebeu dois homens se aproximando em
atitude suspeita. Um jovem de cor parda e um menor de idade de cabelos louros. Ela
tentou fechar o automóvel, mas, uma grande mão segurou o vidro e a outra mão
empunhava um revolver horrível. Enquanto ela olhava paralisada, o menor de
idade sentou-se no banco do carona, ao seu lado. O mulato entrou pela porta
detrás e sentou-se com a arma encostada em sua cabeça. Quando ela estava
dominada o bandido mandou que tocasse o carro.
–Vamos dar um passeio tia, fique quieta e
colabore, que nada de mal acontecerá, morou? – Tá ligada velha?
A
mulher tinha sessenta anos e nunca passara por uma situação parecida, estava
apavorada. Pensou em seus filhos e depois elevou o pensamento a Deus, pois
somente ele poderia tirá-la daquela situação triste. Ela sempre dirigiu muito
bem, mas, sobre pressão sentia-se incapaz. Quando ela diminuía a velocidade, o
bandido que estava no banco detrás cutucava seu pescoço com o revolver e
perguntava se ela não tinha medo da morte. Tânia tremia e não conseguia dizer nada, estava paralisada; parecia um piloto automático dirigindo. Pensava em
Isabela, que estava com tudo preparado para o casamento.
–Se a mãe morresse a filha não poderia ficar
feliz no dia mais importante de sua vida. Pensava a mulher entristecida.
Os
bandidos diziam querer grana e procuravam um caixa eletrônico, em lugar
tranquilo, para sacar dinheiro. Eles queriam muito dinheiro; o que deixava
Tânia mais nervosa; ela não tinha muito dinheiro, gastara com os preparativos
do casamento de sua filha. O menor de idade pegou a bolsa que estava no chão e
começou a tirar as coisas que lhe interessava. Pegou o celular e perguntou ao
outro se poderia ficar com ele.
-“Vira lata me deixa ficar com o celular”?
–Depois
eu vejo isso, respondeu Vira-Lata, vamos ao que interessa Alemão, tem cartão de
Banco ai?
– Sim, alguns. Respondeu o Alemão.
Mandaram
a mulher estacionar o automóvel em frente a um Banco e pediram a senha.
Enquanto um entrava para pegar o dinheiro o outro ficava com a arma apontada
para ela, obrigando-a a agir normalmente. Retiraram o dinheiro que o caixa
permitiu e saíram pela estrada afora, não queriam abandoná-la, pois pretendiam
sacar mais dinheiro com outro cartão. Tânia estava desesperada, porém, não via
saída; temia pela própria vida.
Rodaram
enquanto havia combustível no tanque do veículo, depois pararam em um Posto á
beira da estrada para colocar gasolina e comprar cervejas. O Vira Lata entrou na
loja de Conveniência e o Alemão ficou no carro olhando o movimento. A mulher
tinha um papel do pedágio ao alcance da mão e uma caneta no bolsão da porta do
carro. Queria escrever alguma coisa, mas, era muito perigoso, se pegassem
estaria morta, com certeza. Começou a rezar baixinho, precisava de um milagre.
O jovem se distraiu com um caminhão de circo que entrou no pátio do Posto e
Tânia escreveu no papel.
“-Sequestro, socorro”.
Colocou
dentro da nota de cinquenta reais que deu para o rapaz da bomba. Com uma caixa
de cervejas no automóvel mandaram a mulher seguir em frente. O frentista ficou
paralisado com o papel na mão e assim que o carro saiu ele mostrou para o
gerente do Posto. O homem pegou o papel e ligou para a polícia dando as
características do automóvel; em seguida foi informado que o automóvel seria interceptado.
Tânia
orava baixinho enquanto os dois bandidos bebiam uma cerveja atrás da outra;
parecia que estavam com muita sede. Ás vezes ela diminuía a velocidade e eles
encostavam o revolver em sua cabeça, mandando correr. O automóvel seguia
estrada afora e nem seus ocupantes sabiam onde iria parar. A mulher de tão
nervosa que estava não conseguia pensar em nada, só em Deus.
Os
bandidos davam sinais de embriaguez e Tânia diminuía a velocidade, eles
apontavam a arma e ela corria, até que viram luzes vermelhas de carros da
policia a um km de distância. Em pânico, os dois bandidos mandaram a mulher dar
meia volta no automóvel e retornar. Eles estavam bêbados e pareciam
enlouquecidos. Gritando, eles ameaçavam a mulher o tempo todo; o Vira lata
dizia que se morressem ela iria junto com eles. Não havia retorno e ela seguiu
em frente a toda velocidade, até derrubar a sinalização da pista e jogar o
automóvel no barranco, que derrapou e capotou parando no meio do asfalto. Os
dois homens ficaram tão surpresos que não tiveram tempo de reagir.
Os
bandidos estavam muito bêbados e mal conseguiam sair do automóvel quando foram
algemados pela policia. O Vira lata tinha um ferimento profundo na perna
direita e o Alemão um corte na cabeça, nada sério para dois bandidos daquele
porte. A mulher tinha algumas escoriações no braço e um corte no queixo. Foi
retirada do carro e colocada no automóvel da policia onde recebeu água e se deu
conta da gravidade da situação.
Os
policiais a cumprimentaram por sua coragem e por ter conseguido avisar, no
Posto de combustível, de seu sequestro. Ela estava a mais de duzentos quilômetros
de sua casa, rodara duas horas com os bandidos no automóvel. Os três foram
levados ao Hospital de uma cidade próxima onde os familiares da mulher foram
encontrá-la.
Não
conseguiu visitar sua irmã no dia de seu aniversário, mas, lhe deu um grande
abraço no dia seguinte. Estava viva e fora agraciada com um milagre, pois soube
que o Vira lata era fugitivo da Penitenciária e um assassino frio. O Alemão era
aprendiz de bandido; ambos foram para a prisão, de onde não devem sair tão
cedo.
Quando
Antonio, o marido de Tânia, soube da ocorrência pensou imediatamente em um
sonho que tivera alguns dias antes; ficara impressionado. Ele previra o acidente de sua mulher.
Não pensaria mais naquilo, afinal Tânia estava bem, apesar do susto.
Aquele episódio
deixou o homem apreensivo, mas não disse nada à Isabela, temia estragar o
casamento. Fez uma oração e entregou a Deus; todos estavam vulneráveis. Um texto de Eva Ibrahim.
Não pensaria mais naquilo, afinal Tânia estava bem, apesar do susto.
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