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domingo, 5 de maio de 2013

"VOLTA TEU ROSTO NA DIREÇÃO DO SOL E, ENTÃO, AS SOMBRAS FICARÃO PARA TRÁS". SABEDORIA ORIENTAL. --- ENQUANTO HOUVER SONHOS, HAVERÁ POSSIBILIDADES--- EVA IBRAHIM


                                       PELA ESTRADA AFORA.
O automóvel parou no estacionamento do Supermercado e sua motorista tirou o cinto para descer do veículo. Tânia, a mãe de Isabela, a noiva do sábado seguinte, queria comprar flores e uma caixa de bombom para presentear sua irmã; desejava muito que ela comparecesse ao casamento de sua filha. Erica era a mais frágil das irmãs e a mais carente. Tânia preocupava-se com ela porque era depressiva e estava completando cinquenta anos; temia um agravamento do quadro. Toda mulher quando faz cinquenta anos fica arrasada, pois é um marco na vida de cada uma; pensava a mulher. Seguiria direto para a casa de Érica, teria que convencê-la pessoalmente ou sua irmã não iria ao casamento de sua filha.
Olhando pelo retrovisor do automóvel, Tânia percebeu dois homens se aproximando em atitude suspeita. Um jovem de cor parda e um menor de idade de cabelos louros. Ela tentou fechar o automóvel, mas, uma grande mão segurou o vidro e a outra mão empunhava um revolver horrível. Enquanto ela olhava paralisada, o menor de idade sentou-se no banco do carona, ao seu lado. O mulato entrou pela porta detrás e sentou-se com a arma encostada em sua cabeça. Quando ela estava dominada o bandido mandou que tocasse o carro.
 –Vamos dar um passeio tia, fique quieta e colabore, que nada de mal acontecerá, morou?  – Tá ligada velha?
A mulher tinha sessenta anos e nunca passara por uma situação parecida, estava apavorada. Pensou em seus filhos e depois elevou o pensamento a Deus, pois somente ele poderia tirá-la daquela situação triste. Ela sempre dirigiu muito bem, mas, sobre pressão sentia-se incapaz. Quando ela diminuía a velocidade, o bandido que estava no banco detrás cutucava seu pescoço com o revolver e perguntava se ela não tinha medo da morte. Tânia tremia e não conseguia dizer nada, estava paralisada; parecia um piloto automático dirigindo. Pensava em Isabela, que estava com tudo preparado para o casamento.
 –Se a mãe morresse a filha não poderia ficar feliz no dia mais importante de sua vida. Pensava a mulher entristecida.
Os bandidos diziam querer grana e procuravam um caixa eletrônico, em lugar tranquilo, para sacar dinheiro. Eles queriam muito dinheiro; o que deixava Tânia mais nervosa; ela não tinha muito dinheiro, gastara com os preparativos do casamento de sua filha. O menor de idade pegou a bolsa que estava no chão e começou a tirar as coisas que lhe interessava. Pegou o celular e perguntou ao outro se poderia ficar com ele.
 -“Vira lata me deixa ficar com o celular”?
–Depois eu vejo isso, respondeu Vira-Lata, vamos ao que interessa Alemão, tem cartão de Banco ai?
 – Sim, alguns. Respondeu o Alemão.
Mandaram a mulher estacionar o automóvel em frente a um Banco e pediram a senha. Enquanto um entrava para pegar o dinheiro o outro ficava com a arma apontada para ela, obrigando-a a agir normalmente. Retiraram o dinheiro que o caixa permitiu e saíram pela estrada afora, não queriam abandoná-la, pois pretendiam sacar mais dinheiro com outro cartão. Tânia estava desesperada, porém, não via saída; temia pela própria vida.
Rodaram enquanto havia combustível no tanque do veículo, depois pararam em um Posto á beira da estrada para colocar gasolina e comprar cervejas. O Vira Lata entrou na loja de Conveniência e o Alemão ficou no carro olhando o movimento. A mulher tinha um papel do pedágio ao alcance da mão e uma caneta no bolsão da porta do carro. Queria escrever alguma coisa, mas, era muito perigoso, se pegassem estaria morta, com certeza. Começou a rezar baixinho, precisava de um milagre. O jovem se distraiu com um caminhão de circo que entrou no pátio do Posto e Tânia escreveu no papel.
 “-Sequestro, socorro”.
Colocou dentro da nota de cinquenta reais que deu para o rapaz da bomba. Com uma caixa de cervejas no automóvel mandaram a mulher seguir em frente. O frentista ficou paralisado com o papel na mão e assim que o carro saiu ele mostrou para o gerente do Posto. O homem pegou o papel e ligou para a polícia dando as características do automóvel; em seguida foi informado que o automóvel seria interceptado.
Tânia orava baixinho enquanto os dois bandidos bebiam uma cerveja atrás da outra; parecia que estavam com muita sede. Ás vezes ela diminuía a velocidade e eles encostavam o revolver em sua cabeça, mandando correr. O automóvel seguia estrada afora e nem seus ocupantes sabiam onde iria parar. A mulher de tão nervosa que estava não conseguia pensar em nada, só em Deus.
Os bandidos davam sinais de embriaguez e Tânia diminuía a velocidade, eles apontavam a arma e ela corria, até que viram luzes vermelhas de carros da policia a um km de distância. Em pânico, os dois bandidos mandaram a mulher dar meia volta no automóvel e retornar. Eles estavam bêbados e pareciam enlouquecidos. Gritando, eles ameaçavam a mulher o tempo todo; o Vira lata dizia que se morressem ela iria junto com eles. Não havia retorno e ela seguiu em frente a toda velocidade, até derrubar a sinalização da pista e jogar o automóvel no barranco, que derrapou e capotou parando no meio do asfalto. Os dois homens ficaram tão surpresos que não tiveram tempo de reagir.
Os bandidos estavam muito bêbados e mal conseguiam sair do automóvel quando foram algemados pela policia. O Vira lata tinha um ferimento profundo na perna direita e o Alemão um corte na cabeça, nada sério para dois bandidos daquele porte. A mulher tinha algumas escoriações no braço e um corte no queixo. Foi retirada do carro e colocada no automóvel da policia onde recebeu água e se deu conta da gravidade da situação.
Os policiais a cumprimentaram por sua coragem e por ter conseguido avisar, no Posto de combustível, de seu sequestro. Ela estava a mais de duzentos quilômetros de sua casa, rodara duas horas com os bandidos no automóvel. Os três foram levados ao Hospital de uma cidade próxima onde os familiares da mulher foram encontrá-la.
Não conseguiu visitar sua irmã no dia de seu aniversário, mas, lhe deu um grande abraço no dia seguinte. Estava viva e fora agraciada com um milagre, pois soube que o Vira lata era fugitivo da Penitenciária e um assassino frio. O Alemão era aprendiz de bandido; ambos foram para a prisão, de onde não devem sair tão cedo.
Quando Antonio, o marido de Tânia, soube da ocorrência pensou imediatamente em um sonho que tivera alguns dias antes; ficara impressionado. Ele previra o acidente de sua mulher. 
Não pensaria mais naquilo, afinal Tânia estava bem, apesar do susto.
Aquele episódio deixou o homem apreensivo, mas não disse nada à Isabela, temia estragar o casamento. Fez uma oração e entregou a Deus; todos estavam vulneráveis. Um texto de Eva Ibrahim.

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